quarta-feira, outubro 01, 2014

Gestão de Raiva

Por vezes as coisas que nos tiram do estado onde gostaríamos de estar são as mais pequenas e as mais insignificantes. Num dia em que tive de interromper a minha licença parental, para ir trabalhar, o que foi que me irritou mais? Um tipo numa bomba de gasolina em que fui abastecer ao final do dia. Após o dito dia de trabalho, paro numa estação de serviço com a esperança habitual de poder fazer o pagamento na própria bomba. Dispenso a interação extra de entrar e sair da loja e esperar numa fila para pagar. A bomba onde parei, não tinha o sistema de pagamento disponível. Dei-me ao trabalho de mudar de bomba e... a mesma coisa. Deixei-me ficar e tentei abastecer. Bomba bloqueada e em pré-pagamento. Entrei na loja, esperei que a pessoa na fila fosse atendida e pedi educadamente ao funcionário que me desbloqueasse a bomba para abastecer. A resposta foi dada sem qualquer tipo de contato visual da parte do senhor, com um grunhido: "A bomba está em pré-pagamento. Se quer abastecer sem pré-pagamento deve dirigir-se às bombas 1 a 4". Naquele momento, pensei na falta de cortesia, respeito e boa vontade que aquela pessoa estava a ter. Pensei no quão insignificante seria para ele carregar num botão e desbloquear a bomba, já que eu estava ali em frente a ele, em detrimento de me obrigar a sair da loja e ter de mudar o carro de lugar para poder abastecer (só para depois ter de regressar à loja e pagar). Pensei no insignificante prazer que aquele frustrado funcionário terá sentido em exercer o "poderzinho" perante mim, alguém que não conhece, alguém que poderia ter tido um dia de trabalho pior do que o dele, que poderia ter problemas mais sérios que os dele... Pensei em saltar por cima do balcão, apertar-lhe o pescoço e obrigá-lo a desbloquear a bomba... Pensei em mandá-lo à merda... Pensei em pedir o livro de reclamações... Pensei em sair e abastecer noutro posto. Optei por respirar fundo, sair, deslocar o carro, abastecer, voltar e entrar na loja, pagar e regressar a casa. Foi a melhor solução. Olhando agora para trás fico contente por saber gerir a minha raiva (por vezes a que custo) e as minhas frustrações, sem descarregar em quem estiver à minha frente. Ainda assim, gostava tanto que as pessoas fossem diferentes. Gostava tanto que as pessoas contribuissem no geral para o bem estar dos outros, sem querer fazer com que os outros se sintam piores do que elas próprias. Talvez a regra seja pensar nisso mesmo, pensar no impacto que as nossas pequenas respostas, atitudes e ações podem ter nos outros, e imaginar o que gostaríamos que nos acontecesse a nós. É talvez por isso que considero um dos meus objetivos de vida ser a pessoa mais bem formada, afável e correta que conheço. Talvez assim possa influenciar os outros.

4 comentários:

ACCM disse...

Acho que bastava o pedido do Livro de Reclamações; aí, quase de certeza o funcionário já prestaria mais atenção.

Marco disse...

pai: não tenho dúvidas que iria adiantar o mesmo...

po disse...

Se serve de consolo, o teu objectivo de vida está mais do que conseguido.

Marco disse...

po: meu GRANDE, GRANDE amigo PO... nem sabes o bom que é receber este comentário, vindo de alguém como tu... um grande bem haja e - apesar de já to ter dito, repito - a admiração a vários níveis é mais do que recíproca... abraço!