domingo, abril 29, 2007

Rastejar, Se Preciso For

Depois de ter escrito o anterior post sobre Guernica, e já prestes a desligar o portátil, senti que me apetecia escrever um pouco mais sobre um assunto específico. Nos últimos tempos e por alguns motivos pessoais, tenho tido contacto com pessoas amigas ou conhecidas, que têm alguma facilidade em ir até ao que costumo chamar de "fossa". A fossa é um lugar relativamente comum, onde muita gente ocasionalmente vai parar (incluíndo eu) mas da qual devemos rastejar, se for preciso, para fora (até agora considero-me bem sucedido nessas circunstâncias, graças a mim e a quem me rodeia). A gaita é (e perdoem-me se o meu linguajar for piorando ao longo deste post) quando as pessoas se sentem estranhamente acomodadas na fossa e adquirem uma certa tendência para por lá ficarem. Sei que provavelmente nem todas as personagens que tenho em mente ao escrever estas palavras passarão por aqui, pois algumas nem conhecem este estaminé, mas quando um dia a oportunidade se me afigurar não hesitarei em transmitir esta minha opinião. A opinião de que, quanto mais atascados nos estivermos a sentir na merda da fossa, mais devemos chafurdar para sair dela. Quanto mais fracos e inertes nos sentirmos, mais devemos contrariar esse mesmo sentimento. A ideia de que a nossa vida é uma grande merda, raras vezes é verdadeira. Quanto mais não seja por poder sempre ser pior, ou porque nem sempre foi assim. Enquanto tivermos quem nos dê uma mão para sair da fossa... enquanto tivermos quem nos abrace... enquanto tivermos quem olhe para nós e sorria, então ainda não batemos no fundo. O meu principal conselho é que agarrem essas mãos que vos são estendidas. Não se prostrem, não cedam e optem por ir à luta e viver, por muito cómodo (ainda que pouco confortável) que possa parecer ficar apenas mais uns minutos na merda.

26 de Abril de 1937

Passam hoje três dias sobre o aniversário dos 30 anos do bombardeamento de Guernica, no País Basco, acontecimento que segundo o professor Jeffrey Hart, não passa de uma grande fraude. Porque é que perante os grandes crimes históricos contra a humanidade, existe sempre alguém que teima que os mesmos nunca tiveram lugar? Mas enfim... perante o desespero de uma televisão que se divide entre as novelas da globo e as da vida real, passei pelo canal da salvação (RTP2) onde estava nesse preciso momento a terminar um documentário sobre o quadro de Picasso e a possibilidade ou não de o mover para Guernica. Essas guerras territoriais espanholas não me interessam propriamente, mas confesso que a pintura em si, sim. Não sou conhecedor, não tenho obras assinadas (pelo menos por ninguém cujo nome possa ser reconhecido), mas sou apreciador como qualquer ser humano pode ser. Em minha casa tenho alguns retratos do esforço, trabalho, arte e criatividade de anónimos que ainda assim transpuseram algo para as telas, que me levou a olhar para elas de forma diferente. Mas isso para o caso também não é propriamente relevante. O documentário em si levou-me a pesquisar umas coisas sobre o Picasso, entre as quais encontrei uma frase que diz mais ou menos que "a pintura não foi feita para decorar as habitações, mas sim, é um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo". Esta é uma grande verdade, e mesmo com uma celebração quase apagada do 25 de Abril, é impossível para quem quer que seja esquecer que os movimentos artísticos alimentam-se do espírito de quem mais sente, sofre e ama durante os momentos e ocasiões mais inóspitas, dando lugar ao génio e à revolução em si. Seja através da pintura, da literatura, da música, o espírito encontra um local onde triunfar. Arriscaria dizer que a arte é a mais forte das armas, por poder assumir várias formas, por estar dentro de todos nós à espera de ser descoberta e revelada... Gostaria de um dia descobrir que arte tenho dentro de mim, mesmo que não tivesse oportunidade para a revelar. Entretanto vou apreciando o que os mais afortunados que eu, neste sentido, têm para dar ao mundo em troca de, por vezes, absolutamente nada. Não é por acaso que muitos dos grandes pintores só tiveram o seu trabalho reconhecido depois de mortos. Esta indiferença perante o tempo e a mortalidade, revela aquilo que podemos chamar verdadeiramente de arte.

sábado, abril 28, 2007

Aconteceu no Oeste

Como resultado de mais uma pesquisa pelos corredores da FNAC, na saga da procura de artefactos para a minha colecção de spaghetti western, encontrei algo de diferente. Uma edição de coleccionador do "Aconteceu No Oeste" ("Once Upon a Time in The West"), de Sérgio Leone. Confesso que apesar deste meu gosto peculiar pelo estilo, e apesar de este filme ser um clássico, ainda não o tinha visto. Assim, mais ou menos em três prestações (o filme é grande p'a caraças), vi este filme e fiquei bastante supreendido. A realização é bastante invulgar (sinto que foge um pouco ao estilo habitual do Sérgio Leone), os protagonistas são do melhor (Henry Fonda, Charles Bronson e a curvilínea Claudia Cardinali, entre outros), o enredo bate aos pontos qualquer tentativa de "nó mental" do cinema dos dias de hoje... enfim, espectacular. E assim se passou uma tarde de sábado em que ao fim de muitos dias, semanas e meses sem tempo para nada, resolvi ter uns minutos de descanso e desligar de tudo o resto. Entretanto vou continuando no objectivo actual da minha saga, que consiste em esperar que o "Por Um Punhado de Dólares" (do qual tenho a sequela), com o Clint Eastwood, baixe dos 25 euros (será que os direitos do filme, nesta altura do campeonato, ainda não estão pagos???) para que me decida a comprá-lo.

quarta-feira, abril 25, 2007

Então Adeusinho

Provavelmente hoje era um dia bom para escrever algo sobre o 25 de Abril. Ainda assim não seria original pois já o fiz anteriormente. Provavelmente seria um dia bom para escrever sobre outra coisa qualquer, uma vez que o tempo (ou a falta dele) me fez estar ausente desta esfera por uns dias. No entanto é um dia excelente para escrever sobre a noite que o antecedeu. Escrever, mas pouco, porque o conteúdo é reservado aos directos participantes. O meu sincero obrigado a todos os que estiveram comigo (e aos que quiseram estar mas não puderam) e que ajudaram a criar uma noite espectacular. Espero que tenham gostado tanto quanto eu. E assim se diz adeus a uma fase da vida para começar a dizer olá a uma outra, que sinceramente me parece promissora! Outras noites e outros momentos importantes virão para serem celebrados (um deles ouvi dizer que está para breve), na companhia de muitos e bons amigos como estes que estiveram comigo.

quarta-feira, abril 18, 2007

Uma Doninha Especial

Nos últimos tempos tenho-me deparado, no âmbito do que se tem feito pelas artes no panorama nacional, com uma subida de nível impressionante de qualidade em diversas áreas. São responsáveis por isso grandes artistas que temos (alguns deles aos quais é dada pouca ou quase nenhuma importância). Felizmente não é bem o caso dos Da Weasel, sendo que ainda assim constituem um grupo claramente limitado no seu sucesso pelo facto de serem portugueses e apostarem nesse mesmo mercado, e não noutros. Tomei ontem contacto com este álbum (Amor, Escárnio e Maldizer) e devo dizer que a palavra que me ocorre para o descrever, desde a qualidade das letras, da composição e de todo o processo de produção, é apenas "espectacular". Desde músicas que escutamos e ficam gravadas no ouvido, persistindo no tempo, até às mais sérias que servem objectivos claramente definidos, passando por momentos de "parceria" com os GF ("... sou tão nigga que até chateia..."), este álbum está recheado de "guloseimas" para quem o adquirir. Voltando ao aspecto mais genérico do panorama actual que referi à pouco, aproveito para dizer que quem organiza grandes espectáculos como aniversários de canais televisivos e afins, a meu ver faz mal em insistir tanto nas presenças artísticas internacionais. Do que tenho visto acabam por ser as que dão menos brilho ao espectáculo por escassearem precisamente em... espactacularidade. Em muitos sentidos podemos continuar a ser um país da treta, no entanto devemos assumir aquilo em que somos bons.

terça-feira, abril 17, 2007

Acção vs. Reacção

Ontem à tarde um cliente do Montepio Geral resolveu barricar-se numa dependência do referido banco, em Gaia, como uma tentativa de evitar a penhora da sua casa (250 mil euros) para cobrir uma dívida (66 mil euros + juros). O que estas situações do quotidiano têm de interessante é que servem para as forças de segurança se divertirem um bocado. Quando é efectivamente necessária uma intervenção eficaz, por vezes é mais difícil, mas enfim... Neste caso, o pobre do homem (pobre como quem diz, com uma casa de 250 mil biscas e uma dívida a rondar os 100...), viu a sua mala (que deixou no interior do banco) ser despedaçada por explosivos da PSP, por ter um aspecto suspeito. Provavelmente mandaram duas bananas e um iogurte para o galheiro... Até me admiro como não foi solicitada a intervenção das forças militares, talvez com um helicóptero ou outros meios espectaculares para o "show off" televisivo! Outro tipo de intervenção em que uma vez mais a dicotomia acção-reacção pode ser posta em causa, são as inspecções da ASAE, que levam sempre um batalhão de "geninhos" atrás, de G3 em punho. Ele é vê-los intimidar não só os feirantes, pescadores ou outros (mediante o local de intervenção), bem como as pessoas que por lá circulam. Existe coisa melhor do que ir passear calmamente a um domingo de manhã, por uma zona de guerra? Aguardo ansiosamente que as medidas que foram impostas (à moda do antigamente) lá para cima para os lados de Arcos de Valdevez, sejam impostas nos municípios das redondezas de Lisboa, de forma a que possamos todos ser multados efectivamente por coisas como atravessar fora da passadeira. Quem sabe daqui a uns tempos vivemos todos em "estado de sítio" (se é que não estamos já la)!?

sexta-feira, abril 13, 2007

Qual o Objectivo?

A saga em busca de uma qualquer deficiência na vida académica de José Sócrates, está longe de acabar. Não satisfeitos com o resultado das suspeitas levantadas relativamente à passagem pela Universidade Independente, do PM, a comunicação social descobriu agora que o "Sócras" esteve inscrito durante uns tempos na Lusíada, no curso de direito. Ainda antes de revelar qualquer outro podre ou desconfiança sobre este período (87-90), foi já dada a notícia como quem diz: "ainda não descobrimos absolutamente nada, mas dêem-nos tempo que lá chegaremos". Pelo menos a TVI aguarda ansiosamente autorização para vasculhar o processo! Meus amigos, tudo o que é demais enjoa, e sinceramente esta história, independentemente dos factos e dos boatos, já cheira mal. Na realidade cheira mesmo a putrefacção. Sinceramente não me podia estar, e desculpem a expressão, a cagar mais para a formação académica do PM. Por mim até pode ter a quarta classe! Neste momento o que é evidente é que, quer se aprecie ou não a personagem em questão, consegue-se odiar ainda mais esta insistência pela parte dos jornalistas na piquinhice! Até compreendo que o Al Capone tenha sido apanhado por fuga ao fisco, mas nunca ouvi nenhum caso de alguém que vá preso por ser um "salta-pocinhas universitário". Voltem lá às notícias verdadeiramente importantes, como a última bacorada proferida pelo Castelo Branco, ou algo do género. Como diz um amigo meu, haja juízo!

quinta-feira, abril 12, 2007

Marketing Falhado

Nos últimos tempos, a caminho de casa ou do trabalho, tenho reparado que não existe uma única paragem de autocarro que não tenha um cartaz com a menina da foto (Cláudia Vieira, ou "a boa" para os amigos) toda descascada. Acho muito bem, porque a ter uma gaja descascada em tudo quanto é paragem do autocarro, esta é uma boa hipótese. Ainda não tive oportunidade de confirmar, mas palpita-me que certa(s) e determinada(s) pessoa(s) de outro sexo que não o masculino, provavelmente dirão sobre o referido cartaz publicitário, que o mesmo é fruto de muito trabalho de Photoshop, implantes, clínicas de estética, etc. etc. (quer seja verdade ou não). Em qualquer um dos casos, desafio seja quem for a dizer qual a marca associada a esta campanha. É que já estou farto de ver o anúncio, mas realmente devo dizer que não me consigo recordar da marca associada... Enfim, não é algo que me vá tirar o sono, mas gostaria de deixar aqui dois recados à empresa que concebeu esta ideia. Em primeiro lugar, agradecer o esforço e o resultado final. Em segundo, avisar que como publicidade não funciona. Quer seja para apreciar (pelos gajos) ou criticar (pelas gajas), o que é um facto é que relativamente ao produto final, existe uma forte probabilidade de este passar ao lado do público alvo.

quarta-feira, abril 04, 2007

Abstracções Tecnicistas

Se existem coisas para as quais não tenho paciência, uma delas é certamente a característica que algumas pessoas insistem em evidenciar, de conseguir ter uma conversa abstracta sobre temas técnicos. Eu sou capaz de dedicar "tempo de processamento" do meu cérebro a temas, tanto técnicos como mais abstractos, no entanto não misturo as coisas. Normalmente associo uma conversa sob esta forma (abstracção vs. tecnicismo) como um indicador de que a pessoa não faz a mais pálida ideia daquilo que está a dizer. Naturalmente, o seu discurso refugia-se em frases imperceptíveis à compreensão humana, disfarçando assim a sua falta de conhecimento sobre a matéria. Aqui é que entra a parte estranha: quando não me sinto à vontade sobre um determinado tema, obviamente não me debruço sobre ele no sentido de ter qualquer tipo de debate. No entanto existem pessoas que quanto menos sabem sobre algo, mais insistem em falar sobre isso mesmo! Com o passar do tempo tenho vindo a desenvolver uma aversão a este tipo de espécime, que se tem agravado recentemente. É que uma das características do tipo de situação descrita é a de que, quem afinal de contas percebe do assunto, muitas vezes passa por estúpido. Ou porque não consegue responder a perguntas sem sentido, ou porque não consegue perceber a pergunta em si. Na prática não existe qualquer pergunta, porque se não se sabe o que perguntar, também não se sabe como fazer a pergunta. O meu apelo a todos os espécimes que se identificam com a característica supramencionada: vão jogar às cartas, vão ver a bola, vão espremer borbulhas, vão fazer aquilo que quiserem... mas não enfeguem!!!

segunda-feira, abril 02, 2007

Os Maiores da Aldeia

À imagem e semelhança do "maior da aldeia" (pesquisar "sketch" dos Gato Fedorento) 5 caramelos, entre os quais jornalistas desportivos, resolveram fazer uma "pega de caras" a um carro durante o rali de Portugal. Resultado: 5 feridos ligeiros, uma birrinha da FIA, uma multa de 50.000 dólares à organização do evento e muitas críticas ao velhinho espírito português. Quanto a mim, tudo errado e uma grandessíssima treta! Em primeiro lugar, se há 5 marmanjos que gostam mesmo é de ver o rali com a terra a entrar-lhe para a boca e olhos, é problema deles. Da mesma forma que um gajo que vai para uma largada pode levar uma valente cornada, também no rali deve existir essa consciência. Em segundo lugar, a birrinha da FIA é uma boa desculpa para ganhar 50.000 dólares... eu pessoalmente não vejo o que a organização de um evento destes pode fazer para impedir que algum tótó se atire para a frente de um carro. Talvez fazendo o rali dentro de um túnel, a coisa funcione melhor. Faz-me lembrar quando acabaram com uma etapa do rali (que por acaso passava na minha terra) depois de um dos pilotos se "esbardalhar" contra uma pilha de lenha à beira da estrada (mariquinhas... os outros passaram lá e seguiram viagem). Depois é preciso andar a pedir "por amor de Deus, deixem lá fazer o rali aqui". Além disso, se formos adeptos da teoria da conspiração, às tantas ainda foram os atropelados que deram cabo do carro do Armindo (algum fémur que lhe ficou entalado na suspensão) e levaram a que este desistisse na última etapa... malandros!