domingo, junho 27, 2021

A Sabedoria do Polvo

Também denominado "Professor Polvo" ou "My Octopus Teacher", é do melhor que vi em termos de documentários, nos últimos tempos. Um excelente trabalho visual e um relato emocionante de uma experiência que durou cerca de um ano, acerca do contacto com um homem à procura de um rumo na sua vida, e um animal surpreendente. Sem dúvida, inesperado.


sábado, junho 26, 2021

Quando Chegares ao Cimo da Montanha...

"... continua a subir". Este é um lema com o qual tive contacto num caminho ainda curto, que comecei a percorrer há 4 anos atrás nas artes marciais, mas cuja aplicação vai muito além do contexto da prática desportiva. 

Tem sido um caminho enriquecedor, de realização, orgulho e felicidade, também por ser algo que partilho com os meus filhos. Foi com eles e em família que estive ontem e foi em conjunto que demos mais um passo simbólico mas importante, no caminho da nossa evolução. 

Sobretudo no último ano, esta parte da minha vida foi algo que me ajudou a manter a minha própria sanidade mental. E espero que assim continue a ser por muitos e longos anos.

domingo, junho 13, 2021

Rumo a Norte - Dia 4

Quarto e último dia:

Este foi o dia que começou mais cinzento. Durante a noite a chuva deixou as motas molhadas, mas agora parecia já não representar grande ameaça. Continuávamos a fazer pouco das previsões negativas e a ignorar de uma forma meio infantil o risco de apanhar uma molha das mais capazes antes de chegar a casa, vestindo diariamente o nosso equipamento não impermeável cuja única proteção que oferecia era sobre os mosquitos que se acumulavam...

O plano (que avanço já não se viria a concretizar) só foi definido meio de improviso ao pequeno almoço na pousada. A ideia era continuar longe de autoestradas e tentar percorrer também alguns caminhos que ainda não conhecíamos. No mapa, a estrada nacional 13 pareceu-nos perfeita. Na minha mente ignorante imaginava uma espécie de estrada atlântica com bom traçado e piso, e com uma vista ocasional sobre o mar. Nada poderia estar mais longe da realidade.

 

A N13 é uma estrada super movimentada, com excesso de ciclistas, ao longo da qual se sucedem as povoações, sem nunca por os olhos no mar. Para ajudar à festa, para além da quantidade exorbitante de ciclistas que muitas vezes se deslocavam em batalhão ao longo da estrada, ainda tivemos de parar num corte de estrada prolongado por causa de uma prova de... ciclismo.

Uma juvenil agente da GNR completamente atrapalhada mandava atabalhoadamente sair-nos da estrada principal, sem nos indicar qualquer desvio alternativo. Acabámos por ficar ali a aguardar que a prova passasse, até podermos seguir novamente viagem.

Quando parámos para abastecer, entre todos decidimos que o percurso escolhido não estava a funcionar, e tínhamos feito até então muito menos quilómetros do que gostaríamos para um dia que seria obrigatoriamente longo em distância. Resolvemos atalhar caminho e recorrer à autoestrada, para chegar a Aveiro a tempo de almoçar por lá. O que fizemos.

Nisto das viagens de mota, há que saber quando insistir e quando dar o braço a torcer. Por muito desinteressante que seja percorrer muitos quilómetros em autoestrada, se isso nos permitir não estragar o resto do dia ou até recuperar alguma energia (como foi o caso), mais vale seguir com a corrente.

A chegada à Praia da Barra foi um bálsamo. Parámos as motas numa sombrinha, no centro, onde demos uma volta rápida à procura de um lugar para almoçar. Os restaurantes estavam cheios, mas mesmo junto ao local onde tínhamos estacionado, o café Farol parecia convidativo o suficiente para nos sentarmos na esplanada. Lá dentro passava num ecrã gigante a prova de SBK.

 

Uma vista de olhos rápida à ementa e acabámos todos por achar que a francesinha era boa para a despedida. Não estávamos errados.

Mais uma refeição acompanhada de bom convívio onde delineámos o plano para a parte da tarde. Seguir em direção ao Luso pela N235, onde iríamos depois até Penacova e... logo se via. Por esta altura fazíamos planos curtos para nos irmos adaptando às circunstâncias.

Montamos de novo nas motas e seguimos viagem. A N235 não era nada de especial, salvo ocasionais troços como por exemplo na zona do Luso, onde parámos para hidratar. A ideia era continuar em direção a Penacova, mas pouco depois de arrancarmos, pela primeira vez sentimos a séria ameaça do mau tempo mesmo à nossa frente, quando quase parecia anoitecer de tão negras que eram as nuvens.

Mais uma vez, decidimos adaptar-nos e demos meia volta para apanhar o IP3 em direção a Coimbra e simplesmente sair dali para fora. Algumas pingas de chuva ainda nos assentaram nas costas enquanto fugíamos, mas mais uma vez... safámo-nos.

Depois do valente manguito que fizemos ao mau tempo, despedimo-nos uns dos outros já na área de serviço de Pombal para percorrer os últimos quilómetros juntos, antes de cada um seguir o seu caminho. Tinham sido quatro dias excelentes, com mais de 1600 quilómetros percorridos, na excelente companhia de amigos com quem já não rolava há mais tempo do que considero razoável. O dia do regresso tem sempre este misto de satisfação com nostalgia antecipada, pelo que ficou o conforto de chegar a casa e deixar a "burra" repousar na garagem, cheia de mosquitos e a precisar de pneu novo.

Venha a próxima!

sábado, junho 12, 2021

Rumo a Norte - Dia 3

Terceiro dia:

O terceiro dia, à semelhança do anterior, começou com o sol a brilhar. Dizem que a sorte favorece os audazes e parecia ser o caso. Tomámos o pequeno almoço no hotel, albardámos as "burras" e rapidamente nos fizemos de novo à estrada.

Iríamos rumar em direção a oeste, percorrendo mais uns excelentes caminhos e paisagens, passando por Chaves e em direção ao Gerês.

Foi já próximo do Gerês que decidimos parar para almoçar. Depois de alguma hesitação, tivemos mais uma vez sorte e arranjámos uma esplanada com vista no restaurante Cabreira Terrace (nome meio pomposo para o local em questão), onde até deu para deixar as "burras" à sombrinha. Ainda que fosse repetição de ementa, a posta convenceu-nos de novo e foi a eleita.



Depois do almoço as raízes pareciam estar a criar-se nos nossos pés, talvez fruto do "peso" da posta no estômago e da frescura da esplanada no meio de mais um dia de calor. Por isso resolvemos contrariar a inércia e regressar à estrada. Estávamos já no Gerês, do qual somos todos fãs, e a paisagem convidava.


Seguimos entretanto por uma estrada que se revelou a mais castigadora para o pandeiro de cada um. Foram cerca de 12 kms de empedrado até voltar a ver alcatrão. Valeu a paisagem envolvente com direito ao avistamento de (muitos) cavalos à solta, o tipo de cenário que faz do Gerês um local mágico.


Findo o massacre do traseiro proporcionado pelo caminho municipal percorrido, parámos em Entre Ambos os Rios onde tomei banho numa fonte, e repus o nível de cerveja num café.


Seguimos novamente em direção a Melgaço, Monção e faríamos nova paragem em Paredes de Coura. Depois de alguma desorientação na paragem para abastecimento (o calcanhar de Aquiles da minha mota é a autonomia, já que tem uma amostra de depósito de combustível que raras vezes permite percorrer mais do que apenas 200 quilómetros) e de reorientação na procura da praia fluvial, descobrimos este espaço refrescante onde habitualmente se realiza o festival de Paredes de Coura. Senti alguma inveja daquelas pessoas que estavam ali a banhar-se, fazer piqueniques ou simplesmente descansar à sombra das frondosas árvores do parque. Mas depois lembrei-me do que estava a fazer nestes dias e deixei de sentir inveja!


O dia e o tempo continuavam a sorrir-nos. Sentíamos novamente raízes a sair dos nossos pés, pelo que voltámos a montar nas motas e seguir rumo ao destino final do nosso dia: Vila Nova de Cerveira. Antes de chegar à pousada da juventude que nos acolheria, passámos pelo Miradouro do Cervo que nos proporcionaria uma vista brutal sobre a terra.

O caminho até lá proporcionou-me a já tradicional oportunidade de espetar com a mota no chão, o que desta vez e graças à ajuda do Diogo, não aconteceu. Um caminho esgravatado em terra batida, um carro em sentido contrário e uma hesitação da minha parte, fizeram-me ficar num limbo entre não conseguir tirar a mota do sítio e ter de deixá-la assentar no chão. Um empurrãozinho e lá saí dali sem qualquer mazela, chegando são e salvo ao miradouro que, por aquela altura, estava infestado de "hermanos" espanhóis.


Mais uma vez, era ao final do dia que o tempo se tornava mais ameaçador, no entanto por um motivo que nenhum de nós consegue explicar muito bem, continuava a não ser tema de preocupação. Já na pousada da juventude, foi-nos possível arrumar as motas por esse dia, já que estávamos uma vez mais bem próximo do centro, onde iríamos jantar e visitar o castelo, essa noite.


Durante o jantar no restaurante Cantinho dos Amigos, fizeram-se sentir as primeiras (e escassas) gotas de chuva do dia. Não passou de um ameaço que um mero toldo de esplanada conseguiu suportar e mais uma vez sentimo-nos bafejados pela sorte que nos vinha a acompanhar ao longo de toda a viagem. De facto, parecia que passávamos todos os dias pelos intervalos da chuva.

Os quilómetros percorridos durante o dia e o vinho verde bebido durante o jantar faziam-me sentir as pernas pesadas, não sei bem porquê, pelo que depois do passeio noturno pelo interior do castelo, estava na hora da caminha. Regressámos à pousada onde as nossas burras tinham entretanto ganho a companhia de outra meia dúzia de motas, no estacionamento. Era tempo de descansar, ainda com a perspetiva positiva de ter mais um dia de passeio pela frente (mesmo que sendo o de regresso a casa).

sexta-feira, junho 11, 2021

Rumo a Norte - Dia 2

Segundo dia:

A saída de Trancoso fez-se bem cedinho. Tivemos de sobreviver ao mercado que estava montado mesmo à porta do hotel e que criou um reboliço em toda a envolvente que contrastava com a pasmaceira da noite anterior. Antes de nos fazermos à estrada, ainda deu para fazer umas ruas em sentido contrário à procura de um qualquer bazar chinês para comprar carregadores de telemóveis que ficaram esquecidos em casa...

A primeira paragem foi junto ao Castelo de Marialva. Resolvemos perder-nos nos arredores da muralha e acabámos por descobrir um café acolhedor onde, inspirados numa conversa da noite anterior sobre bebidas que raramente bebemos, pedimos um cálice de porto. O dono do café disse que tinha algo melhor que isso e deu-nos a provar licor de uva local, que de facto nos soube bem melhor.

Paisagens e castelo vistos, licor de uva bebido, era tempo de aproveitar o tempo (bom) e seguir viagem. A Cátia trazia uma iguaria escondida que tinha comprado de madrugada em Trancoso, antes de sairmos, e que serviria de mote ao piquenique improvisado que fizemos no meio do nada antes da paragem seguinte: sardinhas de Trancoso (há que dar desconto à palavra "sardinhas", porque não tem nada a ver...)!


Não fiz o devido registo fotográfico do almoço, mas durante a parte da tarde, continuou o bom tempo, a boa paisagem e a boa estrada. Aliás, uma das melhores estradinhas que fizemos e que nos supreendeu a todos (enquanto fazíamos um "swing" de motas)!

Próximo de Vinhais o traçado continuava bom, mas piso podia ser um pouco melhor... Foi precisamente em Vinhais que parámos, mais uma vez com um calor do caraças, e nos refastelámos numa esplanada com vista que tinha um aspersor a mandar água para cima de nós... top!

Antes de chegarmos a Bragança, faltava apenas uma paragem: Montesinho. Mais uma terra perdida no meio do nada com um traça muito caraterística da região. Parámos para beber umas minis e comer o que restava das sardinhas de Trancoso.

O tempo continuava a dar-nos uma valente abébia, já que só ouvíamos falar em temporais e trovoadas e granizo, mas a nós ainda não nos tinha tocado nada disso. Mas volta e meia parecia ameaçador. Por esta altura, parecia-nos que se nos iria acabar a sorte, pelo que seguimos em direção a Bragança cientes da possibilidade de apanhar uma molha até lá. Felizmente não foi o caso, e fizemos o check-in no hotel Santa Apolónia ainda bem sequinhos! Banhoca tomada e desta feita tivemos de voltar a pegar nas motas para ir até ao centro histórico, onde iríamos jantar.

Neste dia, por algum motivo, não estava virado para o registo fotográfico das refeições, mas o que é certo é que comemos uma bela de uma posta no restaurante Poças, no centro histórico, acompanhada a um verde tinto (pelo menos por alguns de nós...) que nos soube pela vida. Houve até quem pedisse umas entradas com sotaque (uns tais de "cogumelos shitake", que deram que falar)...

Já de barriguinha cheia voltámos ao hotel para recarregar baterias para o dia seguinte, que desejávamos continuasse a correr tão bem ou melhor como tudo até ali.

quinta-feira, junho 10, 2021

Rumo a Norte - Dia 1

Depois de uma longa temporada sem fazer viagens de duração superior a um ou dois dias, surgiu meio de repente a oportunidade de, com amigos, poder matar saudades de um mototurismo um bocadinho mais a sério e tirar a barriga de misérias. Em pouco mais de um par de dias se conversou, pensou e planificou, e definiu um excelente passeio para 4 dias, aproveitando um dos feriados de junho. A ideia era percorrer a zona mais a norte do país. Os mapas foram traçados, os alojamentos foram reservados e nem a previsão do mau tempo nos assustou.

Primeiro dia:

O plano era sair bem cedinho de casa e ir ao encontro do Diogo e Cátia, os meus amigos leirienses, numa estação de serviço já em Pombal. O caminho até aí seria feito por AE sem grandes floreados, porque de Pombal em diante é que começaria a diversão. E assim foi. O reencontro com abraços sem receios covidianos, o abastecer das motas e um cafezinho, seriam suficientes para apreciar os quilómetros que se seguiriam.


Nesta fase, zonas já bem conhecidas de todos serviram para tirar as "galinhas" dos pneus, passando pela Pampilhosa... Oleiros... Orvalho... e a paragem da praxe nos grelhados do Paúl para matar a fome. Depois de um joelho de porco mais saboroso que aquilo que esperava, debaixo de um calor que nos confortava quanto às previsões meteorológicas mais negativas, era tempo de seguir rumo à serra.

Por muito pequeno que seja Portugal, a probabilidade de encontrar várias vezes um companheiro de estrada, de cada vez que resolvemos subir a Estrela, será necessariamente baixa. No entanto, mais uma vez, aconteceu. Uma breve paragem em Loriga para ver os veraneantes na praia fluvial, e eis senão quando o Hugo aparece e pára junto a nós.

Rimos muito do insólito da situação que já se repete por várias vezes (no meu passeio anterior encontrei-o em Alvoco da Serra), trocámos uns dedos de conversa, e já que estávamos todos ali, decidimos subir à Torre na companhia uns dos outros.

Conversa para cá e conversa para lá, era tempo de seguir que ainda tínhamos alguns quilómetros pela frente até Trancoso. Despedimo-nos do Hugo e seguimos o nosso caminho. O tempo teimava em deixar-nos na dúvida se iríamos apanhar as malfadadas trovoadas anunciadas para os 4 dias ou não, mas fizemos sempre questão de ignorar o mau augúrio (tanto que nem fomos equipados para chuva) e lá seguimos em direção a Celorico da Beira, para logo depois chegar ao destino final do nosso dia: Trancoso. Ficaríamos no Hotel Turismo de Trancoso, que parecia aberto ao funcionamento só para nós, muito bem localizado próximo da zona antiga. Depois da banhoca da praxe fomos a pé até à zona do castelo/muralhas, e começámos por saborear uns filetes de polvo, no restaurante São Marcos, servidos pelo empregado de mesa com menos imaginação e mais monosilábico de sempre.


Felizmente os filetes souberam bem melhor que a interação com o empregado e saímos dali satisfeitos o suficiente para dar uma volta pelo castelo, ver a vista espetacular e ainda beber um licor beirão abaladiço numa esplanada estrategicamente colocada em terra de ninguém, antes do regresso ao quarto de hotel.

Era tempo de descansar, já que o dia tinha sido longo (em duração e em distância percorrida). A expectativa do percurso do dia seguinte era animadora, e se o tempo não nos tinha deixado ficar mal, não seria agora que nos ia falhar...