sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Análise Requentada

Apesar de já ter passado algum tempo, tinha aqui pronta a sair a minha "posta de pescada" relativamente à última peça de teatro, ou neste caso musical, a que fui assistir. Foi pretexto para a compra e oferta dos bilhetes, o dia dos namorados (não que eu costume necessitar de pretextos destes para aquilo que seja). Depois da reacção inicial típica de mulher, do género "ah e tal, rica prenda, o que queres é ir ver a jeitosa da Rita Pereira", lá consegui explicar que em Os Produtores, o papel de Ulla é secundário - apesar de todo o marketing em volta do espectáculo contribuir para a ideia oposta - rodando a história em torno de dois produtores da Broadway e da preparação de um espectáculo. Ultrapassado este atrito inicial através da demonstração clara e inequívoca do mais completo desinteresse pela observação da escultural rapariga, lá fomos nós a caminho do Tivoli. Sigo então para a componente mais crítica deste post... apesar de algum cansaço inerente a 3 horas de espectáculo (quanto a mim algo exagerado) sentado no (des)conforto das cadeiras de um teatro fundado em 1924, posso dizer que ainda assim é um musical a ver. O Miguel Dias está dentro da sua linha habitual, a rapariga curvilínea surpreendeu pela positiva em termos de representação (talvez pelo facto de as expectativas também não serem muito altas) e Manuel Marques esteve muito acima daquilo que eu podia esperar. A comicidade do actor a nível televisivo é claramente ultrapassada pela sua presença em palco, bem como pelo surpreendente talento vocal para integrar este tipo de musicais. Em suma e uma vez mais... recomenda-se!

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

As Coxas de Courbet

Gustave Courbet foi um pintor francês do século XIX, considerado um dos fundadores do realismo. Entre as suas muitas obras encontram-se auto-retratos, pinturas de motivos campestres e marítimos, assim como algumas pinturas consideradas pela crítica da altura como mais "controversas", em que o pintor mostra o corpo da mulher. Seria esta a forma que o artista encontrou de chocar a sociedade burguesa da época em que viveu. É o caso da pintura à qual se refere a imagem em anexo - A Origem do Mundo - que se encontra exposta no museu D'Orsay em Paris e que serve de capa a um livro sobre a obra de Courbet. Parece que nós por cá estamos cada vez mais próximos do tempo da outra senhora, a nível de hábitos, costumes e até mesmo nível cultural. Pelo menos é a única coisa que me ocorre, quando leio notícias como a que relata que uns senhores agentes da PSP de Braga, apreenderam hoje numa feira de livros uma série de exemplares desta publicação sobre pintura. Ao que parece e segundo ficou registado no auto preenchido pelas nossas estimadas autoridades, os ditos exemplares foram considerados... "pornográficos", motivo que originou a apreensão. Qualquer semelhança com a realidade histórica mencionada anteriormente, será pura coincidência? E o facto de cada vez mais sermos confrontados com situações semelhantes, numa sociedade que se diz cada vez mais livre, será normal? Enfim, pelo simples facto de eu ter aqui comentado este acontecimento, acompanhado de uma imagem da pintura em questão, talvez algum leitor mais "sensível" faça uma "análise crítica", tal como aconteceu a um gajo amigo, e classifique o blog como detentor de "conteúdo reprovável"... entretanto penso que nos cabe a nós, comuns mortais e navegadores errantes do ciberespaço, aproveitar esta liberdade que (ainda) temos e divulgar este tipo de situação para que a balança possa de alguma forma ir ficando equilibrada. Viva a sátira carnavalesca ao Magalhães, viva a pornografia de Courbet, viva!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Vals Im Bashir

Se a espécie humana é capaz de grandes feitos, também é capaz do pior. É a única coisa que me ocorre após ver o espectacular filme Waltz With Bashir. Este filme de animação relata sob a forma de documentário um dos piores massacres da história da humanidade, que teve lugar num campo de refugiados palestinianos em 1982, levado a cabo por milícias cristãs sob o olhar (e não só...) conivente das tropas israelitas. Não querendo revelar mais da história verídica por detrás do enredo, resta-me dizer que em termos de animação, este filme é uma verdadeira obra de arte. As cores, a fluidez, a iluminação e o realismo são elementos absolutamente fantásticos, acompanhados por uma banda sonora igualmente espectacular, que tornam este filme digno da nomeação para um Óscar em 2009, um Grammy e um Globo de Ouro, entre muitos outros prémios recebidos. Nem mesmo a repressão exercida no Líbano, relativamente à proibição deste filme, foi capaz de impedir que este filme chegasse pela Internet aos críticos de cinema locais. Na qualidade do excelente filme de que se trata, mas talvez pelo facto de ser orientado a pessoas com um QI superior a um dígito, está (estupidamente) disponível em apenas... 3 cinemas no país inteiro. Em Lisboa está no Cascais Villa e no Medeia King. No site 7arte nem se consegue pesquisar. Deixo assim a minha recomendação para arranjarem forma de ver Vals Im Bashir, mesmo sem ser no cinema, porque certamente não se vão arrepender.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Publicidade ou Violência?

Ou sou eu que estou demasiado sensível a algum tipo de publicidade com que me tenho cruzado, ou esta malta do "marketing" anda toda a precisar de férias. Depois do episódio das "almorródias", nada me tinha preparado para ver em folhetos publicitários ameaças veladas à integridade física das pessoas. Meus amigos, quantos me comprariam algo se eu chegasse ao pé de vós com a seguinte frase: "olha lá, estás a precisar de uns dentes novos?". Das duas uma: ou desatavam a fugir ou quem ficava a precisar de uns dentes novos era eu! Mas parece que para alguns génios da publicidade, este tipo de "slogan" faz sentido. Assim nasceu o papelinho cuja capa aqui coloco em formato digital. Apesar da criancinha sem os dentes de leite, presente na fotografia, este serviço é destinado aos mais graúdos. Imagino já uma futura versão deste folheto em que aparece uma típica dona de casa, com apenas dois dentinhos (as chamadas mulheres "bidentes", que adivinham o futuro) e com um slogan como "o seu marido chega bêbado a casa e parte-lhe os dentes? Peça-lhe outros!". Este tipo de publicidade poderia ainda ser alargado às ópticas e oculistas: "O seu marido chega a casa bêbado e faz-lhe olhos negros? Peça-lhe óculos escuros!". Enfim... parece-me a mim que, se há quem "precise de dentes novos", outros há que já mereciam também um cérebro novo... de preferência a funcionar!

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Regresso às Aulas

É desta que retomo a minha vida académica! Há meses que ignoro estes papelinhos de 5 cm2 que teimam em colocar na minha caixa de correio numa base semanal, mas agora é que foi: tirei o papelinho, e li. E fiquei muito feliz por saber que a qualidade de ensino em Portugal, ainda existe. Só não percebi que disciplinas lecciona este senhor Mamado (assumo que Mamadu contenha um erro ortográfico, porque nós por cá não temos destes nomes). Pelos vistos o senhor Mamado é especialista em trabalhos ocultos. Suponho assim que a respectiva área de investigação tenha uma classificação de segurança, motivo pelo qual não pode desvendar muito daquilo que se propõe ensinar. Adicionalmente, este professor garante que mediante o seu acompanhamento, todos os nossos problemas ficarão resolvidos, o que significa uma vida de prosperidade. Existe um pequeno contrasenso nesta singela publicidade: como é possível garantir simultaneamente a harmonia matrimonial e a fidelidade absoluta (espero que esta piadola não seja lida por certas e determinadas pessoas...)? Por fim, o senhor Mamado garante que resolve todos os nossos problemas, mas indica um horário de trabalho das 9h às 22h, de segunda a domingo... o que a mim me parece claramente exploração. Ainda por cima diz que o fará com honestidade, o que torna tudo mais difícil. Por fim, diz que o pagamento só é efectuado após o resultado, o que me deixa bastante inseguro. Pensando bem, este Mamado é demasiado honesto para mim... por isso acho que vou continuar no meu trabalho que por ali, se me der na veneta, sempre tenho a possibilidade de gamar uns clips ou mesmo uns elásticos e canetas. Bardamerda, ó Mamado!

domingo, fevereiro 15, 2009

Quão Evoluídos Somos?

Hoje logo após o almoço, decidi ir até à Gulbenkian. Não passava por lá há algum tempo e aproveitando o facto de estar disponível a exposição recém inaugurada relativa aos 200 anos de Darwin e 150 da publicação da sua teoria da evolução, coloquei-me a caminho. Quando cheguei percebi logo que o dia escolhido não era o mais inteligente... Uma vez que era domingo (com entradas grátis na maior parte dos museus) estava lá a malta toda dos "pontapés na cabeça*". Ainda assim resisti a uma ainda pequena fila (naquele momento), e a 15 minutos do som irritante provocado por um espécime estrategicamente posicionado atrás de mim na fila, a brincar com uma mão cheia de moedas. Assim que me consegui distanciar do dito animal, claramente deixado de fora de qualquer teoria da evolução possível e imaginária, lá consegui aproveitar a exposição. Não sei se pelo fascínio que o tema exerce em mim, os 1000 m2 anunciados souberam a pouco. Ainda assim estava bem pensada (a exposição), intercalando itens únicos relacionados com a pesquisa, uma réplica muito boa do Beagle produzida pelo Museu da Marinha, registos pessoais de Darwin, alguma literatura, filmes e bicharada cedida pelo Zoo de Lisboa (estiveram bem, nesta parte). A imagem que junto a este post não estava por lá, mas acho interessante pois consiste num cartoon do século XIX que goza com as teorias de Darwin sobre a evolução. Parece que afinal os loucos de hoje podem sempre ser os génios de amanhã... Acho que ainda sou capaz de lá voltar, se puder, para apreciar melhor o espaço sem a confusão da malta das borlas. Compreendo a acção e o incentivo a nível cultural, mas assim sendo, eu sinceramente... prefiro pagar.

* pontapés na cabeça: expressão utilizada para designar uma subespécie próxima dos primatas, retirada da teoria da (des)evolução desenvolvida pelo PJ, segundo o qual, "à borla até pontapés na cabeça".

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Vale a Pena Reclamar!

Rezam as lendas que, no já distante mês de Abril do passado ano de 2008, um simples e comum mortal fez uma reclamação contra uma entidade fornecedora de serviços de telecomunicações (enviado com conhecimento para a DECO), cujo nome me abstenho de revelar (mas posso dizer que começa com "Tele" e acaba com "2"). Esta reclamação foi merecedora da maior indiferença pela parte da dita entidade, apesar dos meus prolongados esforços para manter a chama acesa. O curioso é que, se por um lado era expectável que a entidade em questão tentasse ignorar a reclamação, por outro nada me poderia preparar para o nível de resposta da entidade copiada - a DECO. Transcrevo assim para vosso deleite a resposta recebida... hoje:

Exmo.(a) Senhor(a),

O toque pessoal que é dado pela indefinição do género e ausência de nome da pessoa a quem se envia uma resposta, é sempre enternecedor...


Acusamos a recepção do seu e-mail, cujo conteúdo mereceu a nossa melhor atenção.

Denoto que a melhor atenção destes senhores deixa um bocado a desejar...


Desde já apresentamos as nossas sinceras desculpas pela demora de resposta, face ao volume excepcional de trabalho com que nos deparamos diariamente.
Então? Não me digam que o cyborg que envia estas respostas automáticas esteve avariado e deixaram acumular trabalho?


Relativamente ao assunto exposto, cumpre-nos informar que a questão relatada por V. Exa. é de relevante interesse para a intervenção da nossa Associação junto dos organismos públicos e privados, constituindo um valioso contributo para a defesa dos interesses e direitos dos consumidores, na prevenção de eventuais violações dos mesmos.

Ah... os organismos públicos e privados... essa grande massa anónima cinzenta...


Sem outro assunto de momento, subscrevemo-nos com os nossos melhores cumprimentos,

Outro assunto... mas... chegou a existir um assunto principal?
No final do e-mail em questão, o "disclaimer" presente inclui ainda as seguintes indicações úteis:

A intervenção da DECO não substitui o recurso aos Tribunais;

Não percebo porquê... com este nível de intervenção, nem é preciso mais nada!


A intervenção da DECO não suspende o decurso de qualquer prazo nem evita as suas consequências;

Pelo tempo que demoraram a responder, efectivamente os prazos não constituem qualquer tipo de problema.


Resta-me solicitar a uma alma caridosa que passe os olhos por este texto, que me explique o que quer dizer. É que fiquei sem perceber qual será a linha de acção relativamente à reclamação...

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Almorródias ou Hemorróidas?

Independentemente das características mais ou menos constrangedoras do problema de saúde em questão, o que me fascinou neste folheto sobre o assunto foi o detalhe dado à componente linguística. Se há coisa a que poucos de nós dedicam mais do que um segundo a pensar, quando se fala em doenças ou maleitas em geral, é na forma como o nome das (mal)ditas se escreve ou diz correctamente. Ora aqui fica então a pequena lição ou moral da história do folheto informativo: meus amigos, não se diz "hemerróides", "hemorródias", "omorródias" ou "almorródias"... diz-se hemorróidas (é-mo-rrói-das). Até o falecido João Paulo II chegaria lá com estas dicas fonéticas! Ainda de acordo com a informação disponibilizada no papelito, resta lembrar a quem possa estar mais esquecido, que as hemorróidas (e não "hemerróides", "hemorródias", "omorródias" ou "almorródias"), como qualquer maleita que se preze, são incómodas, desconfortáveis e muito embaraçosas. Garantidamente nunca ninguém me vai ouvir dizer em público: "oh que chatice, já me estou a incomodar com o desconforto provocado por estas hemorróidas embaraçosas". Quando as tiver calo-me bem caladinho, evitando também assim algum pontapé na gramática, que o raio da palavra é mesmo lixada!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Um Pouco Contrariado...

... mas lá me decidi aceitar a convocatória da Carla, e escrever um daqueles posts com uma carrada de regras a cumprir, para que todos possam ficar a saber pouco ou ainda menos sobre nós. Ainda assim, para quem escreve não deixa de ser um bom exercício, tanto da escrita em si como de síntese, reflexão e autocrítica. Assim sendo, sem obrigar ninguém em particular a fazer o mesmo, deixo aqui aberto o convite a quem estiver interessado (tinha de quebrar pelo menos uma das regras enunciadas). E as regras do desafio são:

1. Disponibilizar um link para o blog(ger) que estabeleceu o desafio
Been there... done that... long time ago.
2. Publicar as regras do desafio no t(s)eu blog.
E que raio estou eu a fazer neste preciso momento, hein?
3. Escrever 6 coisas aleatórias sobre v(n)ós próprios.
Já lá vamos... fica para depois das regras.
4. Desafiar outros 6 bloggers a fazer o mesmo.
O meu grito do Ipiranga... a minha regra quebrada...
5. Comentar nos blogs desses 6 bloggers.
Isso já faço eu sempre que posso!

Então aqui ficam as tais coisas... sobre mim:

1. Gosto de estar com pessoas. A companhia dos amigos é uma espécie de elixir para mim. Um convite para almoçar, jantar ou tomar um café, acompanhado de uma boa dose de conversa é uma espécie de recarga de baterias e uma lufada de ar fresco para ultrapassar a dose de monotonia e rotina que por vezes se tenta apoderar das nossas vidas.

2. Gosto de rir e fazer rir. Quando digo rir é rir com alguém, quando digo fazer rir falo do riso diferente do que é provocado por pretensos palhaços e/ou pretensas palhaçadas. Uma risada genuína resultante de algo que se diz ou que se faz, inesperado ou original, liberta algo no nosso organismo que ainda ninguém conseguiu explicar muito bem, mas que garantidamente só produz efeitos benéficos.

3. Gosto de música. O silêncio para mim só é produtivo e agradável em (poucas) situações muito específicas. Geralmente gosto de ter um som adequado ao meu estado de humor, em cada circunstância, em cada momento. Uma espécie de tentativa de composição de banda sonora para a minha vida.

4. Não gosto de cínicos, hipócritas e afins. É certo que muita gente não gosta (e o dirá também), mas eu nem sequer consigo tolerar facilmente esta espécie. Geralmente topo-os à distância, e não me consigo sentir à vontade na sua presença, nem consigo responder na mesma moeda.

5. Não gosto de egocêntricos, narcisistas e pessoas que em geral necessitam ser o centro das atenções. Prefiro descobrir que alguém tem piada naturalmente, e descobrir essa mesma piada por detrás de uma timidez inicial se preciso for. Quando esta forma de estar forçada nos é impingida por força dos primeiros contactos, não tenho grande aptidão para a aceitar, e acabo por ter o sentimento oposto.

6. Gosto muito de escrever. Gostava de ter a força de vontade, imaginação e criatividade para um dia escrever um livro, mas para já não me visualizo a fazê-lo. Mas como não se deve dizer nunca, talvez esse dia chegue... um dia. Até lá, vou deixando por aqui umas postas de pescada com meia dúzia de parágrafos para saciar esta vontade.

Carla, espero (apesar da regra quebrada) ter respondido à altura do teu desafio.

Fotografia: tirada por mim, disponível na galeria do Olhares.com

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Gostei da Onda...

... em geral, e particularmente deste senhor (Yuri Daniel) que tive o prazer de ouvir tocar baixo (o instrumento, não o volume...) integrado no Dudas Trio durante uma actuação a que assisti recentemente ali para os lados de Alfama. Já que gosto de jazz, comecei a minha busca de locais porreiros para ouvir música deste género, e quem conhece o género em questão sabe que o melhor do improviso, só mesmo ao vivo. Há certos pormenores musicais que são praticamente impossíveis de capturar numa gravação, por muito boa qualidade que esta possa ter. Mas voltando ao assunto principal, descobri um ambiente acolhedor que me permitiu desfrutar e (quase) esquecer a dor de cabeça que teimava em lixar o meu final de dia/semana. Nada que um triplo destilado (leia-se Jameson) com apenas uma pedra de gelo, não ajudasse também a curar. E assim se passou um serão agradável, num local agradável com música a condizer e companhia também, que tenciono repetir mais vezes. Vou continuar a minha busca porque de certeza que cantinhos deste género não faltam por aí. Guardem-me um lugar, s.f.f.

domingo, fevereiro 08, 2009

O Golem de Loew

No processo de ressaca de viagens que estou a viver, vou-me lembrando das histórias que vou conhecendo nos locais por onde passo. Enquanto estou sentado ao computador e olho o meu quadro com uma foto a preto e branco do relógio astronómico de Praga, lembro-me de toda a envolvente histórica daquela cidade e de uma lenda em particular: o Golem. A lenda do Golem fascinou-me pela história do povo judeu naquele local, que está ainda hoje bem presente e (por motivos pouco felizes) bem marcada. Basicamente a palavra "Golem" significa "ser animado criado a partir de matéria inanimada". Esta criatura invulgar (que faz parte do folclore judaico) pode ser trazida à vida a partir de magia. A história mais conhecida destes seres é precisamente a de Praga, na qual o rabino Judah Loew terá criado um Golem com lama do rio Vltava para defender os judeus do gueto Josefov. Os judeus precisavam deste tipo de protecção devido aos ataques anti-semitas que ocorriam frequentemente. O Maharal (nome pelo qual o rabino era conhecido) terá criado o Golem, apenas para protecção do gueto, e fechava a criatura todos os dias no sótão da Antiga-Nova Sinagoga. Mas o Golem ter-se-á tornado violento e começou a espalhar o medo, sendo prometido ao rabino que a violência contra o gueto acabaria se este destruísse o ser, o que fez apagando a primeira letra da palavra Emet, inscrita na sua testa. O curioso é que nem os nazis da Gestapo entraram no sótão desta sinagoga, que sobreviveu miraculosamente aos bombardeamentos durante a segunda guerra mundial... e assim se perpetua a lenda até aos dias de hoje, dizendo que ainda se encontram lá os restos mortais do Golem.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Antes e Depois

Quem nunca viu nas revistas ou na televisão, um daqueles anúncios do "antes e depois", coloque o dedo no ar. Pronto... já podem baixar para que as pessoas à vossa volta não pensem que são todos maluquinhos. O "antes e depois" a que me refiro não tem a ver com nenhuns comprimidos milagrosos que em dois dias nos fazem perder quinze quilos, mas pode ser ilustrado por uma foto (tal como nos referidos anúncios), cortesia do meu amigo PO (a oferta para contactos de dentistas mantém-se de pé), que aqui disponibilizei. Pois é, parece que os autogolos frequentes no futebol português começam a baralhar a malta que trabalha nas régies, o que pode levar a pequenos equívocos como o que se constata nesta imagem. Parece-me também que pode por outro lado existir alguma parcialidade nesta malta porque o erro ainda persistiu algum tempo (de tal forma que deu para registar fotograficamente e tudo). Fica assim a dúvida se se tratou de um erro intencional ou não, de qualquer forma percebo alguma justiça poética nesta distribuição de resultados. Afinal, quem é que marcou mesmo o golo?

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Qualidade de Vida

Recentemente a minha qualidade de vida melhorou bastante. Devo esta mudança a umas pequenas peças de plástico que se colocam nas estradas (vulgo "lombas"), que servem para fazer abrandar os veículos em circulação (pelo menos aqueles cujos proprietários tenham amor ao dinheiro e à coluna vertebral). Qual é a relação entre as lombas e a minha qualidade de vida? É a proximidade entre a minha casa e um local de concentração de uma manada de "tunnings". Faço esta comparação com todo o respeito e sem qualquer intenção de ofender animais da espécie bovina. Retomando o tema principal, "aborrecido" é o mínimo que se pode chamar a uma cambada de tótós desocupados que se divertem em plena semana de trabalho a fazer barulho com os seus veículos alterados para versão "Pandeireta GT", entre a meia noite e as cinco da manhã. Parece que este tipo de carros e respectivas saias apaneleiradas não se compadecem com as lombas recém colocadas, e como resultado disso a espécie animal em questão deve estar em fase migratória para outras bandas. Do mal o menos: já que não se consegue extinguir, é correr com a espécie para outro lado! Confesso que nunca imaginei que a colocação de lombas numa estrada me pudesse fazer tão feliz, mas a verdade é que agora durmo que nem um bebé. Pelo menos até às 7h da manhã, que é quando o camionista que estaciona junto à parede do meu quarto dá à chave. Vá lá que o agarrado que tossia e escarrava durante a noite enquanto dormia encostado à minha janela, resolveu mudar de arbusto (depois de algum empenho da minha parte em o ajudar neste processo de mudança) e foi incomodar outro R/C. Caraças, agora que penso nisso, tudo me acontece!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Além do Óbvio

Há já bastante tempo que não comento por aqui filmes, porque sinceramente aquilo que tenho visto... não o justifica. Não é o caso deste filme. Ver o Wall-E estava a tornar-se um projecto eternamente adiado, mas hoje (ainda que por mero acaso) finalmente foi... e ainda bem. Para além de ser uma obra de arte em termos de animação (o pessoal da Pixar não brinca em serviço), tem todos os ingredientes de um grande filme. Um argumento para "ler nas entrelinhas"... para além do óbvio, uma banda sonora muito interessante e bem seleccionada (a oscilar entre um misto de clássicos até ao segmento final do Peter Gabriel) e um trabalho criativo muito além do que é habitual (a expressividade que se consegue transmitir com tanta simplicidade é espectacular). Fica por aqui o meu singelo obrigado por esta criação, e a recomendação para que vejam. De certeza que tal como eu não se vão arrepender.

domingo, fevereiro 01, 2009

Dias de Chuva

Se por um lado a chuva tem o efeito maléfico de nos impedir muitas vezes de fazer o que planeamos (sobretudo para o nosso tempo livre), por outro lado tem o dom de nos remeter outras tantas vezes para o conforto de um lar e para o descanso de estar simplesmente sentado a ver, ler ou escrever algo enquanto digerimos calmamente uma refeição e ouvimos o som da intempérie lá fora. Depois de uma noite longa de chuva, sucedeu-se hoje um dia de idênticas características. Por isso cá estou eu, sentado em casa, a escrever algo neste preciso momento. E curiosamente não me incomoda muito a ideia de me manter assim até o dia acabar e ser sucedido por outra noite que se prevê semelhante à anterior. É claro que este ano tenho tido a felicidade de não ser presenteado com um lago na casa (há pessoas que têm uma casa no lago, mas eu gosto mais de ser ao contrário), e julgo que isso favorece este meu optimismo anti natura. Ainda assim o cansaço acumulado dos últimos meses e o pouco tempo de descanso favorecem ainda mais este meu sentimento. Parece que se comprova o ditado que diz que "elas não matam, mas moem". Assim sendo, vou "vegetar" mais um pouco enquanto os alertas lá foram vão mudando de cor entre o amarelo e o laranja. Enquanto não cair uma árvore em cima do meu carro, certamente estará tudo bem.