terça-feira, janeiro 31, 2023

Regresso às Viagens (Pirinéus, 15/6)

O trajeto desta etapa contaria com menos alguns quilómetros que o anterior, mas não seria por isso menos desafiante conforme poderíamos constatar ao longo do dia. Seriam cerca de 300 quilómetros com alguns percursos bem interessantes, mas por estradas (algumas) impróprias para consumo.



O dia em Lourdes, após um pequeno-almoço bem aviado, começaria como a maioria das vezes… com as motas albardadas e a malta toda equipada… à espera do Michel.



Mas como o nosso “Deadpool” de serviço é um gajo porreiro, a malta não se chateava muito com isso e até já contava com a espera…



O tempo estava simplesmente espetacular neste dia, pelo que a primeira paragem permitiria vislumbrar uma paisagem simplesmente deslumbrante enquanto apanhávamos um pouco de ar fresco (o qual iria contrastar com o calor que nos esperava mais tarde nesse dia).



A primeira paragem foi feita em Col de Saucede (ainda no lado francês dos Pirenéus), onde mais uma vez a natureza tomava conta de nós.



E como sempre, era fácil encontrar “rostos familiares” pelo caminho…



Depois de bons momentos de confraternização com bestas de carga… e alguns animais, resolvemos seguir caminho em direção ao Col d’Aubisque, passando pelo Vale d’Ossau.









Ao longo do caminho, surgiam com alguma frequência cascatas de água resultantes da neve e do gelo que derretiam no topo das montanhas, o que resultava numa paisagem ainda mais invulgar e interessante.



Nova paragem para contemplar as alturas…









Depois de rolarmos mais um bom bocado e já mais próximo da fronteira, fizemos nova paragem em Portalet para contemplar as formações rochosas por onde tínhamos passado, agora vistas bem ao longe, antes de atravessarmos de novo para o lado espanhol dos Pirenéus.









Como já tinha umas dezenas de quilómetros feitos com autonomia a indicar 0, comecei a ter aquele sentido de urgência no que diz respeito a encontrar umas bombas para abastecer.



Bem próximo da fronteira, esse foi um problema resolvido, com direito a paragem em mais um spot simplesmente espetacular, onde deu novamente para contemplar um enorme vale atravessado por uma linha de água cristalina, enquanto bebíamos um cafezinho e fazíamos a necessária fotossíntese.






Conversa para lá e para cá com um reformado castiço que por ali andava em passeio, e que nos deixou a todos invejosos e a sonhar chegar aquela idade com aquela jovialidade e interesse por motas e carros, desejámos-lhe boa viagem enquanto se afastava no seu Lotus, para logo a seguir nos fazermos também à estrada.



Breve paragem para contemplar um palco flutuante, onde se realizam festivais e concertos de música, e cuja história e peculiaridades o Rui teve a amabilidade de me contar, mas que confesso entretanto já se me olvidou…



Voltámos às curvas, percorrendo uma estrada interessante, mas movimentada, fazendo uma paragem em Puerto de Cotefablo, logo após a passagem por um longo túnel que permitiu baixar a temperatura corporal em alguns graus (o que todos agradecemos dado o calor que já se fazia sentir).






Havia de facto algum trânsito nesta estrada, de tal forma que num momento de menos paciência, o Rui teve de fazer uma (quase) pega de caras numa ultrapassagem a um pesado que não dava grandes abébias. O Rui e as “caminetas”…
O estômago já começava a dar sinal, além disso o calor continuava a apertar, por isso já era bem vinda uma paragem em local fresco e para almoçar. Parámos em Broto, e procurámos um local com essas caraterísticas, que encontrámos no restaurante do Hotel de Sorrosal.



O ar condicionado ganhou à esplanada, tal era o calor que se sentia cá fora. E mais uma vez tivemos uma refeição 5 estrelas (num hotel de 2). Aqui escapou-se-me o registo fotográfico do prato principal, mas pelas entradas dá para ter uma ideia que a coisa correu bem…



Terminada a refeição, o Rui apercebeu-se que não tinha as chaves da mota com ele. Já na rua, vimos que a mota ainda estava no local onde a tinha deixado, por isso a conclusão era óbvia: tinha deixado as chaves na ignição. Afinal de contas, quem é que estaria interessado em levar um trambolho daqueles?



Achincalhámos mais um bocado o Rui por se tentar desfazer do seu trambolho de forma tão rebuscada. Nem durante um par de horas parada em plena rua, com a chave na ignição, despertou qualquer tipo de interesse aos transeuntes… O achincalho estava bom, mas lá nos começámos novamente a ambientar ao calor exagerado, pois era tempo seguir viagem em direção ao parque natural, pelo Valle de Vió.









Mais umas paisagens soberbas e umas fotos merecidas. Havia, no entanto, a promessa de que iríamos passar por um local espetacular, fresco, a acompanhar um rio de água cristalina e repleto de vegetação envolvente. Seguimos novamente. Tudo isto era verdade e a parte do “espetacular” também, não fosse a estrada em algumas partes ser apenas uma breve lembrança do que em tempos foi alcatrão em condições (mas de facto, era bonito).









Para ajudar à festa, e à conta dos troços de sentido único que nos levavam a fazer um percurso mais ou menos “circular”, invariavelmente acabámos por nos perder e dar umas voltas a mais do que era suposto até regressar ao trajeto planeado.



Houve quem tivesse sentido necessidade de parar para recalibrar os azimutes e coiso e tal...



Andávamos nós nesta curtição de passeio em círculos pelo Parque Nacional de Ordesa, a tentar aproveitar as zonas mais frescas, quando o Rui que é um gajo bué invejoso e que não pode ver nada, achou que também estava na altura de trocar os pneus da mota. Telefonema para cá, telefonema para lá, chegou-se à conclusão que tal seria possível numa oficina localizada no destino final do dia. Até aqui tudo perfeito, mas teríamos de lá chegar um pouco mais cedo que o previsto…



Seguimos em modo papa léguas, mas por muita pressa que um gajo tenha, há sempre tempo para fazer uma paragem pelo caminho e beber mais uma caña fresquinha (que com o calor que estava, nos soube pela vida). Quando finalmente parámos, já estávamos meio derretidos.






Recuperadas as energias com combustível de cevada, lá nos fizemos à estrada de novo. Chegámos finalmente a Jaca e fomos ter diretamente à oficina que já aguardava a chegada do Rui para lhe trocar as ferraduras (… as da burra, não as dele).



A burra ficou entregue na oficina Mas Gass e nós abancámos logo ali ao lado para fazer o reabastecimento de cerveja que se impunha, acompanhada pelos amendoins que o Botelho tinha trazido para a viagem num saco industrial, que por muito que tentássemos dar vazão, parecia nunca mais ter fim.






O Rui continuava a galar tudo o que eram traseiros com mais de 80 cm que passavam na rua.... Felizmente e para quem aprecia traseiros mais contidos em dimensão, pouco depois já tinha a burra com ferraduras novas, pronta para os quilómetros que tínhamos pela frente e mais alguns, pelo que pudemos finalmente percorrer as centenas de metros finais até ao nosso alojamento.



Fomos deixar as burras no estábulo mais próximo, um parque de estacionamento subterrâneo nas proximidades do nosso alojamento, que ficando em plena zona histórica, não tinha condições para aparcarmos as motas por perto.



Depois da banhoca da praxe era tempo de ver as vistas, e de facto Jaca é uma terra simpática, com um centro histórico interessante e que ainda tivemos tempo para percorrer com a luz do dia.






Mas chegava a altura de procurar um spot para jantar, tarefa que não se adivinhava muito fácil pela quantidade de malta que andava por ali e depois de um par de tentativas falhadas de restaurantes fechados (temporariamente ou permanente) que procurámos no Google. Já se tornava uma tradição percorrer quilómetros até escolher um sítio para jantar, por isso nada que nos tenha incomodado muito. Por fim lá encontrámos um local barulhento mas castiço, o restaurante Candachú, onde saciámos a fome com boa carne e bom vinho.






A região da Rioja continuava a ser uma presença predominante na vertente enófila da viagem.



Depois de jantar ainda havia coisas para visitar. A cidadela era um ponto de paragem obrigatório. Mais uma vez, o Rui fez as hostes do papel de guia turístico e não se inibiu de partilhar connosco a história do local.









Nova paragem para mais copos e mais mentiras e, pouco depois, alguns de nós manifestavam ter algum ó-ó. Para os que não… tentámos uma nova paragem num bar com uma empregada “simpática” que nos serviu o melhor gin tónico da noite, mas que já estava a fechar o estaminé...



... pelo que seguimos caminho e encontramos uma espécie de bar irlandês com sotaque castelhano, mas que tinha música e era bastante mais movimentado.



Deu para lavar as vistas e até jogar umas setas e tudo. No meu caso “jogar” é uma força de expressão… mesmo sem estar alcoolizado, debatia-me por tentar acertar no alvo. O Botelho fez questão de ser um g’anda mete nojo e deu-me uma abada das mais capazes.






Entretanto, a determinada altura a coisa começou a ficar mais “animada” dentro do bar. Mas como as pessoas que estavam responsáveis pela animação foram arrastadas cá para fora pelo segurança, para evitar loiça partida ou pior, resolvemos pegar nas nossas cervejinhas e vir até cá fora apanhar ar fresco e continuar a assistir ao espetáculo.
O espetáculo foi melhorando progressivamente, e entre alguma pancadaria e cadeiras a voar, apreciávamos com gosto estes momentos de entretenimento do bom, sempre com olhar atento não fosse algum soco mal dado, pontapé menos certeiro ou até uma cadeira extraviada acertar-nos na pinha...



Entretanto chegou a polícia, armados em estraga-festas, o que acabou por ser um anticlímax para tão inesperado mas revigorante espetáculo com que tínhamos sido brindados… Como a polícia também estava algo dada à porrada, antes que sobrasse para o nosso lado, terminámos a nossa cerveja e resolvemos voltar à base e descansar umas horas antes da etapa seguinte.



Legenda: carinha triste do Botelho diz tudo...