sábado, março 20, 2021

Dia do Pai com Pai

Além de ter sido o Dia de São José, ontem, 19 de março, foi também o Dia do Pai. E é justo que aqui fale dele, porque ao longo de 40 anos tenho tido a felicidade de o poder sistematicamente festejar, com o meu. Mais recentemente a celebração multiplicou-se, porque além de filho sou também pai, e a festa torna-se mais "alargada". Assim foi ontem: a feliz oportunidade de estar com todos. Um bom jantar carregado de chicha da boa, uma vinhaça à maneira, umas boas risadas e melhores conversas. E não é preciso muito mais do que isto. Uma troca de prendas simbólica que regra geral tende a evidenciar o potencial alcoólico que existem em mim (o que muito contente me deixa, não é uma reclamação) e assim se passa um bom serão, alheios a novelas covidianas e outras que tais. Espero que assim seja por muitos e longos anos, até porque vale sem dúvida a pena celebrar o Pai que tenho. Espero que os meus filhos assim pensem também ao longo da sua vida, será sinal que alguma coisa de jeito terei feito. Para todos os pais por aí, espero que tenham tido a mesma sorte que eu.

domingo, março 14, 2021

Para Certos Males Não Há Vacina

Li hoje que nos EUA, num só dia, foram vacinadas contra a COVID 4,5 milhões de pessoas. Serão no meu entender aqueles que efetivamente estão mais bem posicionados para o mais próximo que existirá do tão desejado "regresso à normalidade". Cá em Portugal certamente não temos a mesma capacidade logística que nos permitira em pouco mais de 2 dias ter a população inteira do país vacinada, mas de qualquer forma é claro que não há pressa e também não é por aí que se quer investir. Não quando a ditadura do confinamento e da repressão é tão conveniente aos fins obscuros dos nossos governantes e em particular do nosso PM. Por cá, opta-se por orçamentar 87 milhões de euros de receita em multas só para o ano de 2021, opta-se por investir 8,5 milhões de euros em novos radares sincro de controlo de velocidade, opta-se por abrir concurso para admissão de mais 1200 polícias. Parece-me clara a orientação do nosso governo e por contraste bastante negro o futuro que nos espera a todos. E ainda há quem pense que o perigo do regresso a um sistema ditatorial e opressivo está nas extremas políticas.

sexta-feira, março 12, 2021

Cá se Fazem...

 ... cá se pagam, já diz o ditado. Que raio de sociedade é esta em que os pais só pensam em ver os filhos pelas costas? Será de recriminar que um dia, mais tarde, esses mesmos filhos também virem as costas aos pais?

Saiu recentemente mais um balde de merda de medidas desconexas, meramente tentativas e aleatórias de desconfinamento, produto da gestão tirana e acéfala de um (des)governo qualquer, cujo principal foco foi o regresso à escola das crianças do pré-escolar e primeiro ciclo e que será seguido alguns dias depois do regresso dos restantes alunos. Rapidamente os canais de comunicação e redes sociais se inundaram de mensagens de regogizo por tal facto, com piadas sobre o assunto (tal como aquela que aqui apresento ao lado).

Honestamente, esta é uma das medidas que (salvo pelo facto de considerar que as crianças estão melhor servidas na escola em termos de aprendizagem), a nível de logística familiar me faz menos diferença. Pelo contrário, vou sentir falta das "visitas" dos meus filhos nos intervalos das aulas Zoom, sentando-se ao meu colo a meio de uma videochamada do trabalho a espreitar com um sorriso com quem eu estava a falar (algo que nunca impedi que acontecesse) ou simplesmente quando ía ter com eles, lhes dava um beijinho e perguntava se estava tudo a correr bem e se precisavam da minha ajuda. Esta proximidade que as circunstâncias nos impuseram, será sem dúvida algo que devia ser visto como um fator positivo e não negativo.

Talvez por ter a felicidade de os meus filhos não serem umas bestas e de gostarmos todos uns dos outros, não desgosto desta rotina de os ter mais perto de mim. Aprecio-a até (apesar de todas as dificuldades e trabalho extra que representa). Por isso (e uma vez mais repito) salvo pelo facto de as aulas Zoom não terem a mesma eficácia pedagógica para crianças desta idade que as aulas presenciais, a presença dos meus filhos em casa não era nem nunca foi um problema para mim. Durante este tempo em que convivemos no mesmo espaço (e tal como já tinha acontecido no passado) nunca houve lugar a problemas por esse motivo. Sempre nos demos bem, sempre houve entreajuda, carinho entre todos, disciplina e respeito.

Para aqueles que estão contentes por verem os seus filhos pelas costas, entregues a quem tome conta deles em espaço alheio, à sua maneira e com os riscos inerentes da situação atual, talvez não fizesse mal uma breve reflexão interior para pensar o que possa eventualmente estar errado nesta linha de raciocínio...

segunda-feira, março 08, 2021

Dia Internacional da Mulher


Poster alemão datado de 1914, alusivo à comemoração do Dia Internacional da Mulher, no qual se reclama o direito ao voto feminino. Passados mais de 100 anos, continua a existir a necessidade de reivindicação de direitos. Historicamente e de um ponto de vista generalizado, as mulheres sempre fizeram mais e melhor do que os homens, por isso continua a fazer sentido prestar-lhes homenagem, não apenas neste dia, mas em todos, quanto mais não seja com respeito e amor. Um beijinho muito grande para as mulheres da minha vida, presentes e ausentes.

domingo, março 07, 2021

Eu, Burguês, Me Confesso

Sobretudo nos últimos tempos tenho tentado fazer uma dieta mental através da filtragem e do tempo que dedico a notícias e conversas sobre temas que considero tóxicos. A COVID tem sido prolífera no que diz respeito a muito deste lixo mental do qual é praticamente impossível tentarmos esquivar-nos, por temas direta ou indiretamente relacionados. O elevado número de "especialistas" em matérias variadas e diversas tem aumentado exponencialmente a cada mês de pandemia que passa, e os jornais e os programas televisivos têm cedido espaço e tempo de antena a muita desta gente que na falta de saberem fazer alguma coisa de jeito, fazem de conta que sabem. Infelizmente não consigo ignorar tudo o que gostaria de ignorar.

Recentemente partilhei entre amigos uma capa de jornal que fazia referência a um artigo de opinião de uma economista de seu nome Susana Peralta, cujo título era uma das frases da autora: "a crise devia ser paga por toda a burguesia do teletrabalho". Por algum motivo esta frase foi proferida por uma economista, e não por uma socióloga ou antropóloga ou outra "óloga" qualquer. Com os devidos descontos da praxe (que os dei, ao ler o artigo), sobre a descontextualização possível da frase e toda a explicação inerente à mesma, este tipo de afirmação é tão justo quão justa é a generalização que nela está implícita (e que dúvidas houvesse, é injusta).

Numa situação atípica como a que vivemos, não pode haver lugar a generalizações deste género como justificação para tomadas de decisão, porque a verdade é que cada um de nós, sejamos dos que perderam o trabalho, dos que viram o seu rendimento reduzido a uma fração do que era, ou dos que tiveram de se adaptar para continuar a trabalhar, vive neste momento dificuldades variadas e de níveis diferentes, independentemente da situação. Conheço que esteja desempregado há meses e não esteja para já preocupado com a situação. Conheço quem já esteja reformado e viva com receio de sair de casa e com receio pelo futuro. Conheço quem esteja em casa, a receber o seu salário a 100% enquanto funcionário público e a fazer 1 (sim, "um") dia de trabalho a cada duas semanas. Conheço quem esteja há um ano a trabalhar a partir de casa e a fazer "malabares" para apoiar a sua família enquanto faz ginástica para continuar a ser produtivo.

O termo "burguesia" só por si soa inevitavelmente a insultuoso nos termos em que foi proferido (por muito que a autora o tentasse justificar, incluindo-se ela própria nesse grupo), quando muitas das pessoas que estão realmente a trabalhar no dito regime de teletrabalho, estão sob uma pressão imensa resultante da falta da separação entre trabalho/família, resultante da falta ou inexistência de horários, resultante da intensidade de trabalho (maioritariamente de caráter intelectual) realizado em regime de clausura. É um sobresforço que muita gente faz, ciente como eu da sorte que tem em poder manter o seu trabalho (e vencimento) em tempos difíceis, mas que tem o seu preço. E esse preço é elevado, e será tão mais elevado quanto o tempo que esta situação durar. É por isso que quando leio um texto de uma pseudointelectual de esquerda armada aos pingarelhos e cujo principal objetivo será o de ganhar notoriedade (conseguiu), a sugerir que a crise deve ser paga pelos privilegiados e felizardos como eu, numa altura em que o estado "derrete" dinheiro das formas mais estapafúrdias que se possa imaginar, num país com a carga fiscal como aquela que temos, só me ocorre uma resposta: "bardamerda"!

São tempos sem dúvida difíceis para todos. Para uns mais do que outros. Para alguns até (porque os há sempre) será uma época de prosperidade. Mas claramente o critério para determinar quem é o mais "sortudo" e "beneficiado" e "privilegiado" nos dias que correm, não será certamente o de quem simplesmente conseguiu manter o seu trabalho. Eu por exemplo nesta altura dava tudo para ser aquele funcionário público que referi, e que recebe o seu salário por inteiro para trabalhar apenas 1 dia a cada duas semanas. Em vez disso luto por conseguir desligar do meu trabalho de "burguês" pelo menos ao fim-de-semana para me poder dedicar à minha família ou simplesmente a mim próprio (e nem isso consigo fazer).