sábado, julho 21, 2018

Millenials e o Velho do Restelo

Não querendo parecer um velho do restelo, considerando o tema sobre o qual vou aqui dissertar, aviso desde já que vou ser politicamente incorreto. Esse tema são os millenials ou geração Y, e a forma como encaram a vida em geral e o trabalho em particular. Escuto com frequência chavões e frases feitas, afirmações de como esta geração está muito mais bem preparada que as anteriores em todos os sentidos e como todas as gerações anteriores são, portanto, obsoletas na sua forma de ser, pensar e estar. Gostaria de começar por isso por responder que esta última depreciação das gerações que antecederam os millenials é uma generalização e, portanto, inevitavelmente injusta. Mas seguindo no tom dessa injustiça que é própria das generalizações, há que responder na mesma moeda, referindo que os millenials também não têm essa "bola toda". Pegando numa imagem que me chegou via LinkedIn (rede social em que - ainda - tenho uma presença) e que muito prontamente foi aplaudida e elogiada por todos, permito-me dissecar cada afirmação nela constante, individualmente.


"Não queremos um emprego para a vida."
Os empregos para a vida já não existem há muito tempo, se é que alguma vez existiram. Não ter a ilusão de que se vai trabalhar para sempre no primeiro emprego que nos aparecer é uma coisa, outra é assumir a postura de "salta pocinhas" entre empregos. Na minha atividade lido com bastante recrutamento, e com frequência aparecem pessoas com 3 ou 4 anos de experiência, que já passaram por 3 ou 4 locais de trabalho (ou mais). Salvo raras exceções, isso significa que essas pessoas não souberam lidar com o que quer que lhes tenha sido apresentado e simplesmente desistiram. "Desistente" não é um adjetivo muito "sexy" para se colocar num CV. Será que não tem mais valor alguém que é capaz de gerir situações adversas para alcançar os seus objetivos, do que alguém que "não está para se chatear" e só porque o mercado (ou a carteira dos pais) assim o permite, sai porta fora?

"O worklife balance é importante para nós."
Assim como o é para toda a gente. No entanto, o trabalho não tem de ser visto como algo negativo cujo contraponto da felicidade é o que se faz fora dele. Será que sendo o trabalho uma fonte de realização (ou no limite um meio para chegar a um fim), não será portanto sinónimo de satisfação? Será que se andarmos satisfeitos, não seremos também melhores pais, filhos, maridos, irmãos…? Será que temos de pensar de forma tão isolada entre o "work" e o "life", como dois pratos distintos de uma balança, cujo equilíbrio tem de ser mantido de forma quase nazi? Posso ser velho do restelo nesta linha de raciocínio geral que aqui exponho, mas aos modernos millenials há que alertar a existência de um termo mais recente que o "worklife balance": o "worklife blend". Sim, é verdade, não somos robôs, pelo que as duas coisas misturam-se. É possível termos amigos com quem convivemos dentro e fora do local de trabalho, assim como é possível executar uma ou duas tarefas relacionadas com o nosso trabalho enquanto estamos em casa, sem que a ordem mundial seja afetada por isso.

"Gostaríamos de ter mais oportunidades para crescer."
Concordo. É algo que muita gente (ainda que nem toda a gente) quer. E esse querer e ambição devem ser equilibrados e acompanhados por moderação, tolerância e alguma paciência. Uma vez mais e de acordo com a minha experiência pessoal ao nível de recrutamento, o que vejo são pessoas que saíram das universidades há 3 ou 4 anos (depois de um curso com uma duração inferior aos chamados "pré bolonha") e que ambicionam auferir o ordenado (e já agora a função) de alguém que trabalha há 15 ou 20 anos no mesmo negócio ou função. Não vou discutir o tema das ferramentas e capacidades que essas pessoas possuem, nem da ambição que carregam, mas… e a equidade? Onde é suposto ficar? Alinhar com estas pretensões dos mais novos, não será também tratar como lixo e passar um atestado de incompetência aos mais antigos? No que diz respeito ao crescimento pessoal e profissional de cada um, os millenials deveriam interiorizar um adjetivo que muito gostam de referir (e exigir) sobre as organizações que os acolhem: "sustentável".

"Dêem-nos oportunidades para sermos líderes."
Claro que sim! Simplesmente pode não ser já amanhã. Porque é que alguém que só agora chegou ao mercado de trabalho, tem de ter a oportunidade de ser um líder no dia seguinte? Existem líderes natos, é certo, mas para se ser um bom líder, é também preciso ter primeiro uma boa aprendizagem sobre o que isso implica. É preciso observar outros bons líderes levarem a cabo a tarefa de liderar e aprender com eles. É preciso ver os erros que cometem e as coisas boas que fazem. É preciso definir e interiorizar bem o conceito de se ser líder, para depois tentar aplicá-lo, tendo a consciência de que também se pode (e irá) falhar. E ter a preparação para isso, sabendo levantar depois de cair, sabendo voltar a tentar. A liderança não é um prémio, muito pelo contrário, pode até ser um fardo. E se for levada a cabo levianamente pode ter consequências desastrosas, não só para quem lidera, mas sobretudo para quem é liderado (e no limite, para as suas famílias). Já liderei e posso dizer que perdi muitas noites de sono à conta disso. Por isso só consigo pensar que esta vontade urgente e irracional de se ser líder sem saber o que isso representa ao certo, pode ser um sinal preocupante de irresponsabilidade.

"Decidimos de acordo com os nossos valores pessoais."
Uma frase bonita para se colocar num autocolante. Não quer dizer absolutamente nada. Obviamente que todos nós decidimos de acordo com os nossos valores pessoais. Simplesmente nem todos teremos os mesmos valores. Esta é uma das falácias da injustiça da generalização. Não obstante a geração a que pertencemos, somos todos pessoas diferentes. Crescemos de maneira diferente, expostos a realidades distintas, e o nosso caráter foi definido de acordo com a experiência individual de cada um. As empresas têm os seus valores, assim como as pessoas que nelas trabalham. O alinhamento entre ambos é importante, mas a vontade individual de cada um prevalecerá sempre, quer seja no sentido de aplicar os valores da organização, ou decidindo não o fazer e aplicando em detrimento disso os seus próprios (para o bem e para o mal).

"Achamos que o foco das empresas deve ir para além do lucro."
Concordo. O foco das empresas deve ir (e hoje em dia assim é na maioria dos casos) para além do lucro. O que vemos hoje em dia são empresas que se preocupam com as pessoas que nela trabalham, com a sua pegada ecológica, com a sua intervenção social, entre outros. Se pensarmos na evolução das empresas de há 100 anos para cá, essa evolução torna-se clara e óbvia. Esse caminho foi e continua a ser percorrido, essa orientação é cada vez mais um pressuposto do que uma opção e… que eu saiba… não foi algo que os millenials tenham inventado, mas sim algo que foi colocado em marcha muitos anos e gerações antes de estes aparecerem. Ah, mas importa referir que, sem lucro, as empresas não existem. Sem lucro, as empresas não podem ir além de pagar o salário aos seus colaboradores, criando mais e melhores condições para alcançar as muitas exigências que os millenials colocam. Sem lucro as empresas não crescem, e não crescendo, afundam-se. Uma vez mais, neste como em tantos outros chavões, a virtude encontra-se algures no meio.

"Valorizamos a sustentabilidade nas organizações."
Ainda que (de uma forma egoísta) isso possa parecer pouco relevante para alguém que não pensa em empregos para a vida, e que pouco mais que um ano se dedica a cada organização por onde passa. É mais uma vez óbvio que a sustentabilidade das organizações é algo a valorizar, dizer o oposto seria simplesmente estúpido. Mas e a sustentabilidade relativa às pessoas que trabalham nessas organizações? É sustentável para uma organização ter de recrutar dezenas ou centenas de pessoas, todos os anos, porque as que lá estão "não querem empregos para a vida", ou perante a primeira adversidade batem com a porta? É sustentável ter que mudar uma pessoa de funções de um dia para o outro, porque se não o fizer essa pessoa vai-se embora? É sustentável criar falhas na equidade das organizações, porque "aquela" pessoa é mesmo necessária para uma determinada tarefa e se não lhe dermos o que ela quer, não vem? É sustentável criar cada vez mais e mais regalias para pessoas que cada vez menos lhes dão valor? Cada vez temos empresas que tentam ser sustentáveis, à custa de pessoas insustentáveis, o que se revela inevitavelmente um paradoxo, cujo resultado a longo prazo é para mim incerto. À luz dos dias de hoje, sou velho, pelo que poderei nem sequer assistir a um desfecho sobre esta matéria.

Dos poucos leitores que este texto possa ter, certamente uma parte significativa não gostará do que lê (se não a maioria). Ou porque o vão rotular de politicamente incorreto, ou desprovido de visão, ou preso a uma forma de estar e de ser que pertence ao passado. No entanto (e assumindo claramente que talvez por estar eu próprio a envelhecer) a cada ano que passa este sentimento é mais forte em mim (apesar da confiança que tenho nas minhas próprias capacidades). Se é resultado de algum receio de ser eu próprio visto como obsoleto? Sim, já o vi acontecer no passado a pessoas que me são próximas, e quando se nos apresenta à frente é um caminho difícil e duro de percorrer. Se essa é a principal razão do meu sentir? Não, porque mais do que a injustiça de imaginar que quem percorreu e percorre atualmente o seu caminho (de uma forma completamente válida) no mercado de trabalho dos dias de hoje possa ver o seu prazo expirar compulsivamente, aborrece-me a injustiça de isso acontecer porque quem vem aí pode não saber aproveitar estas pessoas, o seu conhecimento e a sua experiência, para construir o seu próprio caminho de uma forma sustentável, crescendo sem saltar degraus na escada da sua evolução pessoal e profissional, só porque isso (como tantas outras coisas nos dias de hoje) é moda e aparentemente fácil. Uma última nota a todos os millenials: a geração seguinte dos centennials (ou Z) está aí e depois dessa virá outra, pelo que a obsolescência tocará inevitavelmente a qualquer um, a uma velocidade cada vez maior…

terça-feira, julho 17, 2018

Um Tesourinho...

Tropecei há alguns dias nesta imagem, e resolvi partilhar. Alguns pormenores interessantes nesta "Carta Chorographica" de Portugal, como a região de "Alemtejo", ou "Traz-os-Montes", assim como os cerca de 5 milhões de habitantes no continente. Nostalgia de um tempo que já não vivi.


segunda-feira, julho 16, 2018

Um Novo Ciclo

Decisão tomada. Depois de cerca de 5 anos no mundo da consultoria (subtraindo um curto período de 6 meses pelo meio em que resolvi experimentar outras andanças), é tempo de mudar novamente de vida (leia-se, de trabalho). Não era algo que procurasse ativamente, mas foi um convite que recebi bem, ainda que com as devidas preocupações e apreensões que fazem parte deste tipo de tomada de decisão… A oportunidade de mudar de ares é sempre apelativa. Uma página em branco, na qual nos podemos reescrever e por isso redefinir. A perspetiva de evitar alguns erros que nos reconhecemos no passado, trabalhando no sentido de criarmos uma versão melhor de nós próprios. A isso aliada a possibilidade de rever e trabalhar com pessoas com quem já tive o privilégio de o fazer no passado, foi esta a lista dos motivos que me levaram a tomar a minha decisão final. Deixo para trás um trabalho que julgo ter feito com alguma competência e dignidade, um grupo de colegas e amigos dos quais terei saudades e o sentimento de dever cumprido. Não terei sido perfeito, mas julgo que ninguém o será. Agora é tempo de começar a viver o "phase out" de uma casa pintada de verde, e começar a preparar a entrada noutra casa desta feita pintada de laranja. São já algumas as cores pelas quais passei, mas acredito e espero sempre que a seguinte seja a que me fica melhor, e desta feita não é exceção. Resta-me aguardar algumas semanas, já com uma certa ansiedade. As férias pelo meio irão ajudar.