quinta-feira, outubro 23, 2014

Coexistência Pacífica

Devido às caraterísticas da minha atividade profissional, não tenho um local de trabalho fixo. Os vários projetos em que participo podem levar-me para locais dentro ou fora de Lisboa, mais ou menos longe da zona onde vivo. Neste momento um deles leva-me a percorrer cerca de 40 kms (para cada lado), tendo de entrar e sair de Lisboa para chegar ao destino, percorrendo algumas das vias mais complicadas em termos de trânsito. Já agora aproveito para referir que o meu emprego de sonho (ou quase) seria aquele em que eu pudesse ir de bicicleta para o trabalho. Voltando ao tema inicial, enquanto hoje percorria o IC19, deparei-me com 6 kms de trânsito parado por causa de um acidente. Felizmente o meu meio de transporte é uma moto, por isso o impacto destes imprevistos mais ou menos previsíveis é reduzido. Nesta ocasião percorri os kms de fila atrás de outro motociclista, que só me ocorre dizer necessitava de um curso de gestão de raiva... O homem esperneava, gritava, fazia gestos obscenos... Só estava a ver quando é que parava a moto e desatava ao pontapé a um carro qualquer. Ainda que a expressão de descontentamento fosse a mais condenável e errada, o motivo era aquele que enerva (normalmente em menor escala) a totalidade ou quase dos motociclistas: o desrespeito de quem não o é, na estrada. Quem anda de moto diariamente como eu, quando conduz um carro, revela-se um condutor mais atento. Não muda de faixa sem olhar pelo espelho retrovisor primeiro... assinala as manobras com pisca... facilita situações de passagem... não se deixa ficar parado no meio de cruzamentos... em resumo (e obviamente correndo os riscos de fazer generalizações que são injustas para alguns) os motociclistas são melhores condutores de automóveis do que os condutores de automóveis que não são motociclistas. É certo que passar com a moto no meio do trânsito parado não está previsto no código de estrada, mas ainda assim a possibilidade de o fazer é um fator determinante para optar por este meio de transporte. Da mesma forma, os condutores de automóveis que olham com desdém para os motociclistas que o fazem, e por vezes arriscadamente os tentam prejudicar até com intenção, nem sequer fazem ideia do nível de atenção e stress que isto representa para um motociclista. Eu falo por mim, que o faço conscientemente, e sei que é uma manobra arriscada... sei que se algo acontecer, sou sempre eu o responsável perante as regras do código de estrada... sei que se algo acontecer, quem se magoa sou eu... sei que se algo acontecer, ainda serei o alvo da fúria do condutor que está do outro lado da equação. A bem da coexistência de motos e carros na estrada deixo aqui o meu apelo à reflexão e à cooperação. O resultado será certamente muito melhor do que algumas situações a que assisto diariamente.

2 comentários:

mãe disse...

Muitas vezes já o disse, os piores peões principalmente nas passadeiras são os que normalmente não têm carro ou raramente andam de carro porque pensam que os que andam são uns priviligiados. Com os motares é exatamente o mesmo raciocínio. Infelizmente é a mentalidade dos portugueses.
Beijinho ,mãe

Marco disse...

mãe: a mentalidade tem um nome: olhar apenas para o próprio umbigo... e mal!