Três dias após o meu regresso, só penso no quanto me sentia bem na Índia. Se por um lado estou feliz por estar de volta, no seio da minha família e amigos, as dificuldades e problemas com que me deparava no meu dia-a-dia de trabalho em Pune eram situações práticas e - mal ou bem - resolúveis. Por cá, tudo está pior do que eu deixei. A insatisfação generalizada e a moral em baixo das pessoas com quem trabalho... a contínua falta de liderança, caminho, sentido e estratégia que cada vez se torna mais óbvia... a chefia baseada no grito e na falta de respeito... tudo parece agora ampliado e demasiado negativo para que possa ser minimamente tolerável (pelo menos por muito mais tempo). Sinto que a qualquer momento sou capaz de explodir e descarregar a acumulação da insatisfação e descontentamento que há em mim. Já pensei para comigo escrever uma carta a quem mais contribui para esta minha insatisfação. Algo pensado, com tempo, onde poderia expor e detalhar exactamente o que considero errado, e tentar até talvez (muito provavelmente em vão) sugerir caminhos alternativos. Depois, um dia, quando o descontentamento e instatisfação se tornarem de tal forma insuportáveis, daria a conhecer essa carta como um desabafo final antes de dar o derradeiro passo em direcção ao abismo. Seria certamente um sentimento, no mínimo, libertador. Mas por enquanto, e durante o tempo que a minha "mariquice" durar, por cá continuarei a aturar malucos, contando pelo meio com umas recargas de boa disposição dos amigos e colegas que apesar de tudo fazem o meu dia parecer menos difícil, e com a expectativa diária do regresso a casa para ver quem mais conta no meio disto tudo. Desculpem lá qualquer coisinha, mas hoje precisava mesmo de desabafar em qualquer lado... calhou ser aqui, e convosco (julgavam que era só ler coisas giras, não?). Abraço a todos!
4 comentários:
Camarada, amigo...'mariquinhas'...todos nós carregamos as nossas cruzes, umas mais pesadas que outras por certo...tenta pensar que importância isso vai ter daqui a 100 anos...e sorri porra, não vale o esforço.
Recentemente adoptei, ainda que erradamente, a filosofia de todos os que me rodeiam, tenho andado a aprender a desligar aos poucos e já começo a notar resultados, ando mais calmo e menos stressado (tirando os dias em que me enervam e me conseguem stressar).
Viver não custa, custa é saber viver!
E já que estás com saudades da India, fica com este vídeo :
http://www.youtube.com/watch?v=hpkdXVDgipI
Se ao menos esboçaste um sorriso, então o meu trabalho aqui está feito!
Haja juízo! (para estes dançarinos)
Abraço
Quando estamos fora, ainda que em trabalho, há um certo "encantamento" que quasi nos remete para um estilo diferente de "férias" e que de algum modo nos faz sentir, à posteriori, como que uma saudade daqueles momentos tão diferentes do rame rame (rotina) do dia a dia no nosso ambiente nativo. Ao regressarmos, reencontramos tudo quanto nos era familiar, mas enegrecido pela "luminosidade" do ambiente diferente em que estivemos. É necessário algum tempo para a readaptação ao que nos era familiar. Nem me passa pela cabeça o que sentem os astronautas ao regressarem do espaço... quando nós cá na terra sofremos um tão grande choque só por mudarmos de ambiente, ainda que seja apenas por alguns dias ou semanas. Depois não ajuda o ambiente que hoje em dia se vive nas eos locais de trabalho. Tempos houve em que as empresas procuravam que os seus trabalhadores "vestissem a camisola" da casa, dando-lhes condições e motivações para que se sentissem orgulhosos de pertencerem àquela "família". Hoje com o economicismo como primeiro objectivo, é indiferente a satisfação dos trabalhgadores, incentivando-se de qualquer forma o "mercenariato" onde o que interessa é o objectivo - lucro - imediato e quem vier atrás que feche a porta. O dia de amanhã, logo se verá, e quem lá chegar que se amanhe, o que no fundo é anti natura: tudo na Natureza, tem o seu tempo de preparação e maturação. Os resultados são demorados, nada se consegue de imediato. Daí todo o stress, os gritos das chefias, mal preparadas, porque se sentem dependentes dos subordinados muitas vezes mais bem preparados, porque também elas não têm qualquer segurança, sabendo que são descartáveis a qualquer momento.
O que vale é que ainda há quem, como tu, consiga no meio disto tudo encontrar as suas recargas de boa disposição e contar com amigos com quem desabafar.
Beijinhos
Pai
"Keep moving and discover, there are pretty things about your life."[The Gift]
Os bons momentos que passei aí... mas pronto já nada é como era. Mas, para alegrar o dia-a-dia podiam combinar qualquer coisinha e lembrarem-se de mim :)
Precisa-se da lufada de ar fresco das parvoíces do PJ e do PO...
careka: também vou tentando fazer esse mesmo exercício que descreveste, mas nem sempre é fácil. quanto ao vídeo: muito booom...
accm: pois, mas sinto que existe uma força cósmica a impulsionar-me para fazer algo em relação à minha instatisfação... ainda não sei é bem o quê.
susy: say no more... este sábado é o dia!
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