terça-feira, março 05, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 12

Se ontem de manhã me vieram chamar enquanto tomava o pequeno almoço, para me dizer que o substituto do Mr. Sushant e do Gaikwad estava à minha espera, hoje ligaram-me para o quarto, ainda estava eu na casa de banho... Como ainda era cedo, desci calmamente para tomar o pequeno almoço, e depois então dirigi-me ao meu transporte. Desta feita já consegui cumprimentar a minha nova companhia matinal, o prestável Sayant, ainda que com alguma desconfiança devido à situação do dia anterior. Lá tive mais uma hora de conversa (confesso que às vezes já sinto falta do silêncio do Mr. Sushant, mas não se pode ter tudo), durante a qual aproveitei para perguntar se, no regresso ao final do dia, me poderia deixar num dos restaurantes que me tinha mostrado na MG Road. Disse logo que sim e começou-me a fazer perguntas sobre as minhas preferências em termos de comida, para me fazer uma recomendação. Pelo caminho vi um enorme camião de transporte de cana de açúcar capotado à beira da estrada agrícola do atalho que costumamos percorrer. Aparentemente saltou uma roda e o carro tinha-se virado. Várias pessoas à volta encarregavam-se de recolher as canas e colocá-las num tractor.

Chegado ao escritório, começou a rotina do costume. Trabalho produtivo e sem stress durante a manhã, conference calls e azáfama durante a tarde e frustração geral durante o dia inteiro. Excepção do dia: o meu chefe deu-me uma "palmadinha nas costas" que é como quem diz um "well done". Apesar do meu trabalho não resultar em praticamente nada, vi o meu esforço ser louvado. Também o pessoal aqui parece gostar de mim, já que todos me estão a pedir para ficar mais uma semana. Menos mal... mas não vou ficar. E para voltar terei de assegurar primeiro algum planeamento e suporte à minha estadia. Para "encher chouriços", fico em Lisboa. Durante o almoço de hoje, sem me aperceber, dei nas vistas. Desci com os meus colegas, e sem lhes perguntar ou dizer nada, dirigi-me a um balcão e pedi um já conhecido Veg Thali, que me foi apresentado pelo meu colega Vinod. Sentei-me com eles e olharam-me todos surpreendidos a perguntar se eu já tinha comido aquilo e se gostava, uma vez que era bastante picante. Disse-lhes que sim, expliquei que não estava maluco, e de seguida quiseram tirar uma fotografia minha a comer a minha refeição. Acedi. Mandaram-na depois para os meus colegas em Lisboa, com o título: "Marco enjoying (mostly) indian thali".

Ao final do dia, já de regresso, a preocupação do Sayant mantinha-se, relativamente ao restaurante a que me iria levar. Disse-lhe que não era esquisito, que podia comer vegetariano ou não vegetariano, que não se preocupasse e me levasse ao que achasse melhor. De repente perguntou-me como é que eu faria para regressar ao hotel, ao que respondi despreocupadamente que apanharia um tuctuc (seria para aí o vigésimo desde que estou aqui). Disse que não, que nem pensar e pediu para lhe ligar quando acabasse de jantar. Tentei convencê-lo que não era necessário, que a MG Road era relativamente perto do hotel, mas o tipo não se demoveu e fez-me prometer que lhe ligava. Levou-me então a um sítio chamado Thousand Oaks. Um restaurante como uma atmosfera bem porreira, à excepção das buzinas constantes que se ouvem da estrada. A refeição foi uma das melhores que já comi. Um Shahi Murg Korma acompanhado com Garlic Naan (pão de alho) que de tão bom que era mereceu duas Kingfisher a acompanhar. Foi tudo espectacular, até à parte em que pedi um expresso e me trouxeram literalmente um galão. Fiquei a olhar para aquilo, afastei-o para o lado e pedi a conta.

Ainda antes de sair vi que tinha uma SMS do Sayant que dizia "hi sir now i am free when u finish u can sms to me i will be there thanx". Devolvi-lhe a mensagem dizendo que já tinha acabado, e pouco depois de sair do restaurante eis que aparece ele... de motorizada. Depois de uma breve hesitação, lá me sentei à pendura (não me lembro da última vez que andei de mota sem ser a conduzir) pensando no entanto que aquela era das ideias mais infelizes que tive nos últimos tempos. Num local onde não arriscaria conduzir um carro, andar à pendura de mota, no meio do trânsito caótico, com um tipo que não conheço de lado nenhum, sem capacete nem qualquer outra protecção, não foi das coisas mais inteligentes que fiz até hoje. Mas para a frente é que é caminho e lá vim à boleia com o tipo, de volta até ao hotel. Chegados, tentei oferecer-lhe uma cerveja ou dar-lhe uma gratificação mas não quis aceitar, dizendo que não precisava e que lhe poderia retribuir noutra altura. Despediu-se de mim a sorrir, com um até amanhã. É impressionante, mas passados mais de 10 dias aqui, não há um único que passe que não deixe de me surpreender de alguma forma...

7 comentários:

ACCM disse...

És verdadeiramente um cidadão do mundo... com todas as peripécias porque tens vindo a passar. Agora vê lá é se essa simpatia do Mr. Sayant, dizendo que lhe agradeces noutra altura, não traz água no bico, como se costuma dizer... há que ter cuidado, nos tempos que correm, mas isso sou eu a cogitar conspirações e artimanhas... desconfiado!
Beijinhos
Pai

mcaa disse...

Não será aventura a mais, ou antes confiança a mais?
Isto é desconfiança de mãe. Vai tudo correr bem. Beijinho da mãe

carekaPT disse...

Estás um autêntico sahib das Indias...ouve os sábios conselhos dos teus pais, só o facto de ir de virilhas encostadas a um traseiro indiano a mim deu-me logo arrepios...ainda se desculpa com a trepidação da moto e lá estás tu exposto a gases nocivos...

Tem juízo! (eu também vou tentar)

Marco disse...

accm/mcaa: entendo a vossa preocupação... para mim não se trata de confiança a mais, mas sim de simplesmente confiar. A história em questão nem é nada de especial, mas acredito que vivemos melhor neste mundo confiando e tendo algumas desilusões, do que desconfiando sempre de tudo e todos... talvez o tempo me prove o contrário, ou não. E acabou por correr tudo bem! :)

careka: mantive as virilhas afastadas o mais possível, mas realmente foi arriscado no que diz respeito a exposição a possíveis substâncias mais tóxicas; por acaso acho que eras menino p'a teres feito o mesmo que eu... ;)

carekaPT disse...

Como resposta, deixo-te o meu lema :
"A necessidade aguça o engenho."

E deixo-te um link sobre a maneira mais expedita de resolver a situação: http://www.loupiote.com/photos/97863640.shtml

PS Dispenso o chapéu do Raiden. :)

Marco disse...

careka: parece-me que com esta estratégia irias originar eventualmente uma guerra química, com baixas dos dois lados... ;)

SeaFooD Recipes disse...

Não será aventura a mais, ou antes confiança a mais?
Isto é desconfiança de mãe. Vai tudo correr bem.