sábado, março 02, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 9

Hoje finalmente tive uma noite de sono recuperador. Acordei às 10h e decidi relaxar durante o resto da manhã. Desci para tomar o pequeno almoço, e de seguida fui até à piscina, munido de leitura recomendada (Sofia, estou a ler Voltaire). Como tantas outras coisas neste hotel, tive a piscina só para mim. Dei uns mergulhos, deitei-me na espreguiçadeira a ver as águias a sobrevoar nos céus, e ali estive o resto da manhã. Já próximo da hora do almoço, no entanto, recebi um telefonema do trabalho dizendo que a minha ajuda era necessária. Subi até ao quarto para tentar resolver a situação remotamente, mas como sempre a lei de Murphy manifesta-se nestas ocasiões, e a ligação à Internet não estava a funcionar. Liguei para um contacto de helpdesk que aqui tinha num panfleto do hotel, e lá resolveram a situação. Prossegui, vi e fiz o que pude, mas não consegui resolver o problema. Ainda enderecei o tema a quem de direito e acabei por me resignar ao facto de, muito provavelmente, em Portugal pelas 7 da manhã de um sábado, ninguém estar muito interessado em ajudar um desterrado na Índia. Decidi tentar novamente mais tarde. Quem decide estes modelos de trabalho e funcionamento, que se preocupe com o assunto e com os atrasos que daqui resultam!

Passadas quase 3 horas de trabalho, envio de emails e conference calls, retomei o meu sábado. Almocei, troquei uns dedos de conversa com alguns funcionários do hotel e decidi o meu destino para a parte da tarde. Fui visitar um local chamado Aga Khan Palace. Desta feita apanhei um tuctuc com um motorista que deu de facto uso ao taxímetro, mas que era completamente maluco. Além de ter feito a viagem toda a falar ao telemóvel, gritava imenso, como é compreensível, já que o ruído dos carros e motas é por vezes ensurdecedor. Não sei como estes tipos conseguem fazer algo como conduzir num sítio destes a falar ao telefone ao mesmo tempo. A capacidade de concentração é brutalmente natural (ou naturalmente brutal). Respeito. Chegado ao local, olhei para o taxímetro, dei-lhe mais umas rupias do que este marcava, e o tipo desata às gargalhadas como se eu tivesse contado uma anedota! Agradeceu-me e seguiu caminho. Ao vê-lo rir daquela forma, fiquei a pensar se lhe teria dado uma nota de 500 rupias em vez de 100, enquanto o via afastar-se... felizmente mais tarde confirmei que não.

Chegado ao palácio Aga Khan, a vista é realmente imponente. Passeei um pouco pelos jardins exteriores para admirar as fachadas deste edifício, construído no séc. XIX pelo sultão Muhammed Shah Aga Khan III, como um acto de caridade para a população local. O povo vivia na miséria, e a construção deste palácio deu trabalho e dinheiro a milhares de pessoas que na altura passavam fome. Mais tarde, o palácio ficou fortemente ligado ao movimento de libertação da Índia, já que durante algum tempo esteve aqui preso Ghandi e a sua esposa. O palácio tinha uma exposição para visitar. Dirigi-me à bilheteira onde li: "Cidadãos da Índia: 5 rupias; Outros: 100 rupias; Fotografias: 25 rupias". É justo. Paguei 125 rupias e entrei. A exposição era mais pequena do que imaginava, mas deu para ver algumas pinturas, esculturas, manuscritos e até roupa e alguns artefactos pessoais que ali estavam expostos. No final da exposição, já na parte exterior do palácio, existe um pequeno jardim com um memorial onde se encontram as cinzas de Ghandi. De volta ao jardim principal sentei-me um pouco a descansar e a observar hipnotizado um grupo de crianças que brincavam a tomar banho nos aspersores que regavam os relvados.

Depois da viagem de regresso, decidi não voltar logo para o hotel e fui dar uma volta a pé para ver um pouco mais da cidade. Parei durante algum tempo a observar uma verdadeira multidão a tentar entrar para um comboio que estava parado na estação. Caminhei mais um pouco pelas ruas que, devido à sujidade, ao lixo e ao cheiro, não são o local mais agradável para se ir dar um passeio. Acho que inalei mais poluição num dia aqui, do que num ano inteiro em Portugal. O calor começou a apertar (estão cerca de 38º) e como já tinha bebido a água toda que transportava, resolvi regressar. A frescura do interior do hotel transmite a sensação de um oásis, e assim que cheguei ao meu quarto sentei-me no sofá alguns minutos em silêncio, a descansar. Li mais um pouco, "malhei" mais tarde enquanto o sol se punha, trabalhei mais duas horitas e quando já estava farto, fui jantar. Escolhi a melhor refeição que comi desde que cheguei: um "pomfret tandoori", um prato de peixe  feito com chaputa simplesmente espectacular, que até mereceu duas Kingfisher a acompanhar, enquanto assistia ao jogo do Manchester. Balanço final do dia, apesar das horas de trabalho: positivo.

2 comentários:

ACCM disse...

Pelo menos, ainda que com algum trabalho pelo meio, deu para quebrar a rotina.
Beijinhos
Pai

mcaa disse...

Nada mau o teu dia . E até parece que tinhas uma piscina só para ti.
Beijinho
Mãe