domingo, março 03, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 10


Hoje acordei determinado a ter um dia livre de trabalho. Podia ter dormido um pouco mais, não fossem os meus vizinhos barulhentos que resolveram ter uma discussão às 9h da manhã, mas ainda assim descansei. Estava determinado a retomar a banhoca na piscina interrompida abruptamente no dia anterior por motivos profissionais, e assim fiz. As águias eram a minha única companhia. A determinada altura dei-me por feliz pelo facto de só conhecer histórias de pessoas que levaram com cagadelas de pombo ou eventualmente de gaivota em cima, e de não ter conhecimento de casos reportados com águias. Mesmo que tal acontecesse, sempre ficava com uma história inédita para contar. Coloquei os óculos de sol, como protecção. Por ali fiquei pela manhã, intercalando banhos com leitura e descanso. Quando já estava de barriguinha cheia de banhoca, fui até ao quarto pesquisar um pouco na net o meu destino agendado para a parte da tarde.

Hoje tive direito a um "brunch" em vez de um almoço tradicional, aqui no hotel. Tinham algumas iguarias e também umas águas de coco porreiras. Almocei calmamente antes de me fazer à estrada. Como no dia anterior tinha recusado uma oferta que fez o desdentado Gaikwad, enviando-me uma SMS que dizia "hi sir it is gaikwad do u requre car for tommorow for site sean" (o que com algum esforço entendi como uma oferta de transporte para ir passear), lá fui eu à procura de um tuctuc. Desta vez a comunicação foi impossível. Mesmo com o endereço do local (que é até bastante conhecido) escrito num papel, o tipo não conseguia entender. Quando estava quase a desistir, o tipo sai do tuctuc já meio enervado, arranca-me o papel da mão, pára um tipo que vinha a passar numa mota e pede-lhe para lhe explicar onde raios eu queria ir! O tipo da mota explicou, o motorista disse-me "wan fiti" e eu fiz um fixe com o meu polegar, em sinal de acordo. Lá nos pusemos a caminho, enquanto eu rezava para chegar ao destino desejado sem necessidade de comunicação adicional. Desta vez, talvez por me ter afastado mais da cidade, já vi as célebres vacas a passear no meio da estrada. No entanto não consegui tirar uma foto a nenhuma. Apanhei apenas um camelo que estava estacionado junto a umas motas. Para meu descanso, finalmente chegamos ao destino (certo). Dei um pouco mais do que as "wan fiti" rupias e despedi-me do motorista.

O local em questão, Katraj Snake Park, tinha-me sido mencionado por algumas pessoas e estava com alguma curiosidade de o visitar. Na qualidade de estrangeiro, paguei 25 rupias para entrar. Sabia que a principal atracção eram as várias cobras que ali estão em exposição, em fossos com uma altura que raia a capacidade das mesmas se esgueirarem por ali acima. Existem até uns sinais a recomendar às pessoas para não se debruçarem nas extremidades. O parque em si, que se intitula de Rajiv Gandhi Zoological Park, está mediocramente mantido, apesar das várias regras que por ali impõem. Pelo facto de levar uma garrafa na mão, tive de fazer um depósito à entrada de 10 rupias, que se desejasse reaver teria pedir à saída, mediante apresentação da mesma garrafa. O objectivo é que ninguém deite lixo no parque (e tendo em consideração o estado das ruas, percebo porquê). Lá vi a secção das cobras e outros répteis (crocodilos, iguanas, etc.) com mediano interesse, e acabei por ver a minha atenção mais desperta pela outra parte do parque, onde existiam outros animais. Entre eles encontrava-se um tigre branco lindíssimo, cuja primeira imagem que vi se mantém na minha mente até agora: deitado na relva com o sol a reflectir no pelo branquíssimo. É um animal realmente admirável. Depois de vários quilómetros percorridos a pé ao longo do parque (parece mais um safari do que um zoo) que contorna uma enorme lago, debaixo do sol e do calor do costume, resolvi voltar. Recolhi as minhas 10 rupias da garrafa de água e lá fui eu.

Apanhei outro tuctuc e a viagem de regresso decorreu sem percalços. A determinada altura vi que o motorista procurava algo pelo caminho, o que estranhei. De repente encostou e foi a correr em direcção a uma casa de banho pública, fazendo-me sinal que já voltava. Depois de regressar seguimos caminho. Num dos cruzamentos onde parámos, uma velhinha abordou-me no tuctuc pedindo esmola. Dei-lhe as rupias que trazia no bolso. A velhinha continuava no entanto a apontar e pedir algo, que eu não percebia o que era. De repente compreendi que estava a pedir a minha garrafa de água. Dei-lha, esboçou um sorriso e desapareceu no meio dos carros e motas. É realmente impressionante o nível de pobreza, dificuldades e falta de coisas básicas como água e comida, que este país ainda tem em pleno século XXI. Lembrei-me do desdentado Gaikwad dizer que achava uma afronta as pessoas usarem dois e três baldes de água para lavar os seus carros no centro da cidade, quando nas zonas limítrofes há quem não a tenha para beber! Engoli em seco ao pensar no meu país e no nível de vida que até mesmo os mais pobres estão habituados. Chegado ao hotel, retomei as minhas rotinas diárias de exercício, leitura (terminei o Cândido), escrita e jantar. Segue-se o descanso que amanhã há trabalho para fazer. Abraço a todos!

3 comentários:

ACCM disse...

Bom dia de trabalho para amanhã, que por aí já é hoje.
Dizem que a India é um país de grande espiritualidade, se calhar por servir de padrão às misérias da vida, relativamente a outros países... Até mais logo
Beijinhos
pai

mcaa disse...

Um bom dia de trabalho para ti.
Estou a ver na TV que o Paulo Portas tambem está na India, vê lá se o encontras, foi aì inaugurar um ginásio da VIVA FIT só para mulheres.
Até amanhã, beijinhos
Mãe

Marco disse...

pai: não sei se é esse o motivo, mas ainda que não consiga explicar porquê, é mesmo.

mãe: ainda bem que a nossa classe política continua com as prioridades bem definidas, na época que o país vive; cada vez fico mais contente por não ver televisão.