quinta-feira, março 07, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 14

"Are you happy with me, sir?", perguntava-me hoje o Sayant, acerca da sua prestação enquanto motorista. "I am very happy with you.", respondi-lhe, enquanto ele rasgava um sorriso maior do que o seu bigode pontiagudo. E foi assim que fez a introdução para me dizer que se eu quisesse ir fazer umas compras antes de ir embora, podia pedir à empresa que lhe atribuísse essa tarefa, no próximo sábado. Concordei, até porque vai saber bem dispensar os tuctucs e as motorizadas no meu último dia por aqui. Por falar em motorizadas, para além de só existirem aqui motas de cilindrada baixa (100cc, 150cc) praticamente nenhum modelo me é familiar. Como tal, perguntei ao Sayant que marca/modelo tinha e respondeu-me: uma "Hero Honda Passion Pro", igual à da imagem, e aparentemente uma das motas mais comuns cá do sítio. As motos de cilindrada mais elevada são raras, e não vão além dos 250cc. Existem depois alguns modelos mais a dar para "chopper" que são de uma marca local chamada "Royal Enfield".

No trabalho tudo vai relativamente bem, mas a andar muito devagarinho. Acho que enquanto estou por aqui estou meio abstraído do facto de, o progresso que devia ter sido atingido e que era um dos motivos da minha viagem, estar longe de ser alcançado. Quando regressar certamente vou sofrer um bocado. Mas como se costuma dizer, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. E ainda: bater não batem, ralhar não dói. Por isso, quando chegar a Lisboa logo lido com a situação. Agora resta-me apenas mais um dia por aqui, e vou dar o meu melhor para o fazer render ao máximo, como aliás tenho feito sempre. O resto, que se lixe. Amanhã vou tentar convencer os meus colegas a tirar umas fotografias de grupo, já que foram a minha "família" por estas bandas, e acolheram-me muito bem. Espero um dia poder retribuir-lhes a forma como me trataram e receberam.

No caminho de volta ao hotel, aconteceu hoje um episódio caricato. No meio da estrada agrícola que faz parte do atalho que costumo percorrer, um tractor estava parado, impossibilitando a passagem de carros em qualquer sentido. Há uns dias o Sayant tinha-me explicado que as pessoas que vivem nas quintas à beira daquela estrada, não gostam que os carros ali passem, e que se puderem fazer algo para lhes dificultar a vida, não hesitam. Parecia ser o caso. O tipo do tractor não parecia minimamente preocupado com o facto de estar a parar o trânsito há uns bons 15 minutos, sem razão aparente. De repente o tipo que estava no carro à minha frente sai, agarra num punhado de canas de açúcar que o tractor transportava e começa a agredir violentamente o condutor do tractor! O tipo tenta-se defender como pode, mas sem sucesso, e arranca de forma desgovernada, saindo finalmente da frente e fazendo uma razia ao meu carro. Problema resolvido. Seguimos viagem. Mais à frente, tentei tirar uma foto (que conforme se vê ficou com qualidade 3D) a um templo que tem estado sempre iluminado à noite, nos últimos três dias, devido a uma qualquer celebração que ali se faz. O Sayant explicou-me que junto à ponte onde aquele templo se encontra, existe também um local onde, quando alguém morre, fazem uma espécie de velório/funeral. Levam para ali o corpo, junto ao rio, e deitam-lhe fogo. Depois as pessoas que assistem, cortam bocados do seu cabelo, que ali depositam como uma oferta. Não consegui deixar de ficar pasmado com a descrição que fez, pensando que nos dias de hoje, só imaginaria ver algo semelhante num filme do Indiana Jones...

PS: já que falei em motas neste post, acabei de ver um email que me enviou o tipo da oficina onde deixei a minha querida ZZR, que me encarreguei de escavacar na segunda circular antes de me vir embora. Diz assim o senhor: "envio-lhe fotos da sua mota que está novamente nova". Além de apreciar o "novamente nova", entretive-me a ver o álbum com umas 10 fotografias que me enviou, mostrando a qualidade do trabalho. Mal posso esperar para lhe voltar a por as unhas em cima! Estou capaz no entanto de lhe pedir para acrescentar uns rodízios...

5 comentários:

mcaa disse...

Que o teu ultimo dia de trabalho em Pune te corra muito bem e sem aventuras.
Beijinho da mãe

ACCM disse...

endo os teus posts, vê-se que aproveitaste para, para além do trabalho que foi a causa desta viagem, aproveitares para conhecer - ainda que minimamente, como é óbvio - uma cultura tão diversa da nossa. É muito mais do que muita gente faria, quando nas tuas circunstâncias. São essas experiências que enriquecem as pessoas enquanto pessoas e que as fazem evoluir. Só posso dizer que és uma pessoa preciosa e àparte.
beijinhos
Pai

ACCM disse...

Lamentavelmente falhou a primeira letra do que escrevi atrás sem que eu me tenha apercebido. Seria a letra L, portanto a primeira palavra era "Lendo".
Pai

Susy disse...

Caro amigo, bom retorno ao Ocidente.
Trazes a mala cheia de recordações e enriquecimento pessoal.
Tens de certeza por cá uma boa recepção de saudades à tua espera.
Essa viagem está de certeza no top das que não se esquecem e são marcantes mesmo que envolvam trabalho.
(Con)Viver com uma cultura assim mexe com qualquer pessoa.
Tudo de bom para ti e cuidado agora a conduzires a tua mota (aquilo não é um tuc tuc, nem as nossas estradas são chamuças) :)

Marco disse...

mcaa: não foi perfeito, mas também não foi mau!

accm: espero ter tido a capacidade de absorver as coisas mais importantes que aqui vi e vivi. também acredito que possam fazer de mim uma pessoa melhor.

susy: confio que estará alguém à minha espera, senão vejo se consigo apanhar também um tuctuc em Lisboa, que me leve a casa! beijinhos e obrigado!