segunda-feira, março 04, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 11

Apercebi-me que desde que cheguei aqui há pouco mais de uma semana, mudei os meus hábitos muito mais além do que o simples afastamento de casa poderia significar. Há mais de uma semana que não vejo televisão e o meu tempo, apesar de totalmente preenchido, parece chegar para tudo o que quero realmente fazer. Levanto-me bem cedo para conseguir estar no escritório pelas 8h30. O dia passa a correr até às 19h30, hora em que o meu transporte de regresso me aguarda para me trazer de volta ao hotel. Pelo meio paro apenas cerca de 20 minutos para almoçar e tomo um ou dois cafés. À noite, tenho tempo para ir ao ginásio, jantar, conversar, "skypar" para casa, ler e escrever (e infelizmente também trabalhar). Faço tudo isto e chego ao fim do meu dia muito menos cansado do estou habituado em Lisboa. Penso que se trata de uma mistura entre o facto de estar afastado do meu local de trabalho habitual, estar fora da minha zona de conforto com uma atitude positiva, mas sobretudo pelo facto de sentir que estou a fazer as coisas de maneira diferente. Acredito sinceramente que esta viagem, apesar de ser feita em trabalho, vai ser uma experiência que me vai modificar bastante. Tenho tido contacto com muitas pessoas, falado com muita gente (excepto com o silencioso Sushant) posto muitas coisas em perspectiva, e daqui para a frente vou encarar tudo de forma diferente. O escasso conhecimento dos hábitos e da cultura daqui que entretanto adquiri já é por si modificador da forma como alguém habituado a algo totalmente diferente encara a vida. Isto porque tem sempre mais impacto ouvir este tipo de histórias e experiências na primeira pessoa.

Para minha surpresa hoje de manhã não me aguardava nem o Sushant nem o Gaikwad. Estava eu a tomar o pequeno almoço quando me vieram avisar que o carro já estava à minha espera lá fora. Ainda era cedo, mas como já tinha acabado de comer, lá fui ao encontro do meu transporte. Quando chego à rua, nem sinal do condutor. O funcionário do hotel foi à procura dele: estava na casa de banho e veio a correr ter comigo. Quando estendi a mão para o cumprimentar recusou respeitosamente porque não tinha lavado as mãos (calha bem que eu nem tinha pensado nisso). Este tipo era muito simpático. O transporte do hotel para o escritório decorreu como se de uma visita guiada por Pune se tratasse: "E aqui, sir, à sua esquerda fica o posto dos correios. À sua direita fica a maior universidade de Pune. Em frente, um templo...". A determinada altura lá começamos a conversar de coisas mais interessantes mas sempre ia dando uma achega quando via um qualquer edifício que achasse interessante eu saber do que se tratava. No regresso falou ainda mais à vontade, e contou-me como todos os motoristas da empresa preferiam transportar estrangeiros do que locais. Segundo ele os locais maltratam-nos bastante. Mal lhes dirigem palavra e podem deixá-los até 2 ou 3 horas à espera, sem lhes dizer nada. Aparentemente os estrangeiros respeitam-nos mais. No meu caso em particular referiu que tenho a particularidade de ir sempre no banco da frente, o que eles consideram porreiro. Contou-me que hoje, na hora do chá na empresa, comentou com o Sushant e com o Gaikwad que me estava a transportar, e ambos lhe disseram: "Ele senta-se sempre na frente, não é?". Deixei-me rir por dentro com este pormenor tão insignificante mas que é capaz de fazer diferença na percepção que alguém tem de nós. Antes de me levar ao hotel, como tinha comentado que ainda gostava de fazer algumas compras antes de ir embora, levou-me a um sítio chamado MG Road que é uma espécie de baixa da cidade, recheada de lojas e restaurantes. Se tiver tempo, ainda voltarei ali antes de me ir embora... Ofereceu-se para me ajudar a fazer as compras, e a dar-me conselhos para regatear.

Durante o jantar, um funcionário com quem tinha comentado que tinha ido ao Katraj Snake Park perguntou-me se lhe podia mostrar as fotografias. Ficou impressionado com as excelentes fotos que eu tinha tirado daquele medíocre parque (grande parte delas desfocadas), e ficou admirado pelo facto de ter conseguido ver os animais todos, já que sempre que lá foi andavam meio escondidos nos espaços onde estão confinados. Ficou ainda mais admirado quando lhe contei que também tínhamos tigres brancos no Zoo de Lisboa, que ficava dentro da cidade, e onde até já tinham nascido três crias. Antes da refeição acabar estiquei-me excepcionalmente nos doces, que são sempre muito, mas mesmo muito bons, e lá regressei ao meu descanso, com não sei quantos sorrisos pelo caminho e outros tantos "good evening, sir". Amanhã vou tentar a minha sorte num restaurante da MG Road. Depois conto como correu.

2 comentários:

mcaa disse...

Mais um dia bem cheio e longo.
Que o dia de amanhã seja ainda melhor que este.
Beijinho
Mãe

ACCM disse...

Força. Já estás em contagem decrescente e por aquilo que dizes, vai passar num instante.
Beijinhos
Pai