Depois da voltinha da manhã, voltei ao hotel pois tinham-me indicado que haveria um almoço especial. Lá fui eu, mentalizado para subir mais um degrau na escala do picante. Ainda assim na hora H armei-me em maricas, e pedi ao Abhishek (o funcionário que me tem dado as dicas mais úteis sobre os locais a visitar) que me trouxesse o tandoori chicken sem ser muito picante. Ou seja, comi o tandoori chicken mais picante da minha vida. Chegou-me a escorrer uma lágrima no canto do olho na primeira garfada que dei à confiança, mas que ocultei discretamente com os óculos escuros que felizmente levei comigo. Passado um bocado de ter desentupido os canais lacrimejais e o nariz, aquilo até começou a saber bem e consegui terminar a refeição com sucesso.
Após ter sobrevivido a tal refeição, agarrei em meia dúzia de comprimidos Imodium Rapid, guardei-os no bolso e fiz-me novamente à estrada. Apanhei o motorista de tuctuc mais chato e divertido em simultâneo, que tive até ao momento. Este não falava uma única palavra de inglês, mas conversava pelos cotovelos e ria-se muito. O próprio valor da viagem foi difícil de acordar. Da boca dele saía algo parecido com "tufi", que admiti querer dizer "two fifty" que é como quem diz 250 rupias. Achei que para me levar ao local pretendido era razoável e lá fomos nós. Durante todo o caminho o homem apontava para sítios, dizia coisas e ria-se muito. Eu sorria de volta já que me restava pouco mais a fazer. A determinada altura passámos num local onde havia uma festa com uma banda a tocar música muito alto, e o homem gritou histérico as primeiras palavras que percebi: "India dance party!!!". Quando cheguei ao destino, entre gestos e palavras imperceptíveis, entendi que o homem queria esperar por mim para fazer a viagem de regresso. Acenei que sim com a cabeça e o homem não quis aceitar o dinheiro da primeira metade da viagem. Ou seja, se eu me pisgasse, o homem tinha perdido as 250 rupias.
Quando cheguei à entrada do local que queria visitar, percebi porque se chama "Pavarti Hill". Em plena cidade de Pune existe uma encosta tão inclinada que, em combinação com o calor que se fazia sentir, levei uns 10 minutos a subir. Chegado finalmente ao topo da colina, passando por vendedores ambulantes, pedintes e gado, encontram-se vários templos e um museu com várias referências Peshwa. Existem muitas referências ao império Maratha, em quase todos os locais. Calcei-me e descalcei-me umas 3 ou 4 vezes para poder entrar em cada um dos templos ali reunidos. O nível de confiança em deixar os ténis no meio da rua não melhorou muito, já que existia uma tenda a vender calçado junto ao local! Pelo menos não voltava descalço para casa... Terminada a visita aos templos e museu, chegou a hora de descer a encosta. Aqui fui rodeado por um grupo de miúdos a pedir esmola, que eu dei, e que serviu para gerar em todos eles um sorriso de orelha a orelha seguido de muitos agradecimentos. Na base da colina esperava o meu motorista.
Na viagem de regresso, percebi que me queria dizer qualquer coisa mas como a comunicação era impossível fui acenando e sorrindo. Quando parou junto a um mercado enorme, percebi que queria que eu fosse às compras. Rapidamente chamou alguém que veio ter comigo, e me tentou vender um gramofone antigo todo dourado. Não me perguntem o porquê da sugestão. Sorri e declinei respeitosamente. Sorriram os dois de volta, o amigo do motorista afastou-se e continuamos viagem. Na primeira tentativa levou-me até ao Meridien, um hotel muito bonito, mas pouco interessante para mim que estou no Marriott. Lembrei-me que inicialmente tinha apanhado o tuctuc já longe do hotel. Lá consegui fazê-lo entender em que hotel estava, e continuámos até ao destino. No final pediu-me mais 100 rupias pelo facto de ter estado à minha espera. Disse-lhe que não. Insistiu sorrindo, fazendo sinal de quem emborca uma garrafa e dizendo a segunda coisa que entendi vinda da sua boca: "Beer!". Deixei-me rir com ele, convenci-o a tirar-me uma foto a conduzir o seu tuctuc e dei-lhe as rupias. Agradeci e despedi-me da personagem.
De volta ao hotel, e já no conforto do meu quarto, percebi que tinha as entranhas a carburar de forma diferente, ainda que estando tudo controlado. Disse assim a mim próprio que a próxima refeição deveria ser o mais sensaborão possível, para ver se não causava danos irreversíveis. Assim, fui jantar, expliquei a minha preocupação e deixei-me convencer a provar um prato típico de nome impronunciável, mas que de acordo com o empregado não tinha nenhum picante. Explicou-me tratar-se de galinha com uma espécie de molho de manteiga, que se come com popper, umas fatias de pão fino, do qual me deu dois tipos diferentes para provar. O prato tinha uma excelente apresentação e era óptimo... mas picante como tudo. E eu comi na mesma. Caros amigos, se no espaço de dois ou três dias não tiverem notícias minhas, liguem para o Marriott e peçam para procurarem por mim no WC do meu quarto.
4 comentários:
Devias ter levado também KOMPENSAN...
Então a foto de ti a conduzires os TUCTUC?
Mas que aventuras.
Tem cuidado. Beijinho grande
Mãe.
Amigo, uma coisa é certa vais perder uns quilitos e teres recordações para contares aos teus netos :)
Continuação de boa viagem.
accm: já coloquei no post seguinte...
mcaa: beijinhos!
susy: os quilos podem ir, desde que não levem nada atrás... obrigado!
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