segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Pune - Diário de Bordo - Dia 4

E depois de um mais que merecido ainda que breve descanso, chegou a hora de voltar à realidade. Levantei-me bem cedinho, comi fruta e bebi sumo, o mais saudável e suave possível para compensar o eventual desastre que me esperaria à hora do almoço. Como a minha empresa achou por bem alojar-me num hotel que fica a 30 quilómetros do meu escritório, e o trânsito aqui é o que já descrevi, achei por bem reservar um táxi para me levar e trazer todos os dias. O facto de não existirem transportes públicos que sirvam o meu objectivo e de só de pensar em fazer tal percurso de tuctuc me doerem as costas e o rabo, contribuiu para esta minha decisão (para aqueles que não acreditavam que eu tinha tirado a foto no tuctuc, hoje aqui fica). Como o táxi nunca mais aparecia, liguei para o contacto que tinha, e o motorista atendeu-me muito afogueado a dizer "there was a mistake... there was a mistake". O "mistake" foi que a empresa deu-lhe os endereços ao contrário e o tipo estava à minha espera no escritório. O atraso resultante foi mínimo. Lá fomos nós, desta vez e para minha surpresa sem qualquer confusão de trânsito, de tão cedo que era. Resultado: cheguei ao escritório ainda não eram 8 horas, e não estava lá ninguém a não ser o segurança para me abrir a porta. O resto da malta começou a chegar pelas 9h30. Licção aprendida. Contactei a empresa do táxi e alterei os horários dos dias seguintes.

O princípio de dia foi do melhor. Estava totalmente entusiasmado com a minha presença aqui. O meu desejo de ajudar estes colegas era grande. Talvez por isso, a meio da manhã comecei a desanimar. Confirmei a ideia que já tinha, de que aqui passavam um mau bocado devido a dependências dos países com quem trabalham enquanto "fábrica". No meu caso, percebi as dificuldades que têm devido a uma coisa tão simples como um desfasamento horário de 5 horas e meia. Isto é, se acontecer um problema qualquer em Portugal, ficam de mãos atadas até mais ou menos às 14h00 (leia-se 8h30 em PT). Comecei rapidamente a ficar frustrado e desmotivado por não conseguir ajudar, e a minha vontade era ligar para toda a gente de madrugada a pedir ajuda. Outro ponto negativo é que o final do dia aqui em Pune corresponde mais ou menos a meio do dia em Portugal, o que significa que quando eu já estava a ficar cansado e irritado, em parte devido a ter estado o dia inteiro de mãos atadas, foi quando em Portugal se começou a carburar um bocadinho melhor. Entretanto o meu táxi chegou e terminei assim o meu dia no escritório, na certeza porém que ainda teria TPC para fazer no hotel.

O meu taxista não quis arriscar ir pelo caminho do costume, porque segundo ele àquela hora estava demasiada confusão (para um tipo local dizer isto, imagino que seria a verdadeira da selvajaria). Como tal levou-me por um caminho de cabras onde mal cabe um carro na faixa de rodagem, mas misteriosamente podem passar até 4 em simultâneo. Finalmente vi vacas, se bem que nenhuma estivesse no meio da estrada. Não tirei fotos do percurso porque vinha chateado e com pouca paciência. É impressionante a utilização que aqui se dá às buzinas. É até uma coisa bem vinda, e não considerada como insultuosa, de tal forma que os veículos de maior dimensão trazem uns autocolantes na traseira a dizer "please horn"! Feitos os 30 kms em 1 hora apenas graças ao atalho do meu taxista, cheguei finalmente ao hotel.

Ao longo da tarde toda fui percebendo que o almoço que me foi recomendado pelos colegas devido a "não ser picante" com o nome enganador de "chicken butter" tinha sido uma espécie de último aviso. Como quem diz "vê lá se paras mas é de comer como se fosses um nativo".  Eu gostava, mas para isso precisava de encontrar um sítio qualquer que tivesse um único prato sem picante, o que me parece sinceramente impossível. Achei que precisava relaxar e fui descarregar a fúria no ginásio, logo seguido de uma banhoca no meu "walking shower XXL". Respondi a mais uns emails do trabalho e acabei por descer para jantar, já completamente bem disposto. O jantar correu muito bem. Portei-me como um bom menino e comi arroz cozinhado no vapor com batatas assadas e bife grelhado. A ver se ainda não é desta que as minhas entranhas me declaram guerra...

2 comentários:

ACCM disse...

Indo ao encontro do que tantas vezes se ouve dizer, acho que quando estiveres para vir embora, estarias pronto para começar... nestas coisas há sempre necessidade de um período de adaptação, só que hoje em dia, ainda mais em situação de trabalho, não há tempo para adaptações.
beijinhos
Pai

mcaa disse...

Ontem e hoje não consegui falar contigo. Espero ter mais sorte amanhã.E pode ser que o dia te corra melhor, acredito que seja um pouco frustante querer e não poder.
beijinhos
Mãe