domingo, abril 29, 2007

26 de Abril de 1937

Passam hoje três dias sobre o aniversário dos 30 anos do bombardeamento de Guernica, no País Basco, acontecimento que segundo o professor Jeffrey Hart, não passa de uma grande fraude. Porque é que perante os grandes crimes históricos contra a humanidade, existe sempre alguém que teima que os mesmos nunca tiveram lugar? Mas enfim... perante o desespero de uma televisão que se divide entre as novelas da globo e as da vida real, passei pelo canal da salvação (RTP2) onde estava nesse preciso momento a terminar um documentário sobre o quadro de Picasso e a possibilidade ou não de o mover para Guernica. Essas guerras territoriais espanholas não me interessam propriamente, mas confesso que a pintura em si, sim. Não sou conhecedor, não tenho obras assinadas (pelo menos por ninguém cujo nome possa ser reconhecido), mas sou apreciador como qualquer ser humano pode ser. Em minha casa tenho alguns retratos do esforço, trabalho, arte e criatividade de anónimos que ainda assim transpuseram algo para as telas, que me levou a olhar para elas de forma diferente. Mas isso para o caso também não é propriamente relevante. O documentário em si levou-me a pesquisar umas coisas sobre o Picasso, entre as quais encontrei uma frase que diz mais ou menos que "a pintura não foi feita para decorar as habitações, mas sim, é um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo". Esta é uma grande verdade, e mesmo com uma celebração quase apagada do 25 de Abril, é impossível para quem quer que seja esquecer que os movimentos artísticos alimentam-se do espírito de quem mais sente, sofre e ama durante os momentos e ocasiões mais inóspitas, dando lugar ao génio e à revolução em si. Seja através da pintura, da literatura, da música, o espírito encontra um local onde triunfar. Arriscaria dizer que a arte é a mais forte das armas, por poder assumir várias formas, por estar dentro de todos nós à espera de ser descoberta e revelada... Gostaria de um dia descobrir que arte tenho dentro de mim, mesmo que não tivesse oportunidade para a revelar. Entretanto vou apreciando o que os mais afortunados que eu, neste sentido, têm para dar ao mundo em troca de, por vezes, absolutamente nada. Não é por acaso que muitos dos grandes pintores só tiveram o seu trabalho reconhecido depois de mortos. Esta indiferença perante o tempo e a mortalidade, revela aquilo que podemos chamar verdadeiramente de arte.

2 comentários:

Gonçalo disse...

...quanto á arte como forma de luta(principalmente a música), eu considero e ainda hoje aprecio muito, a musica que se escreveu, cantou e até se usou na queda do nosso poder fascista no 25 de Abril...tenho muita pena de não poder ter vivido o dia 25 de Abril(ainda não era nascido), sim só esse momento único e mágico que foi... mas sempre que ouço as músicas da época sinto-me mais forte e capaz de lutar pelos meu direitos e feliz por poder escrever estas linhas sem o sentimento de presseguição. É verdade que hoje em dia pouco se liga a essa data, muito menos respeitam os militares...pior elege-se Salazar como Português de todos os tempos, mas para mim, aquele simples militar (Salgueiro Maia) que um dia sonhou ser livre e lutou por essa liberdade, merece todo o meu respeito e a ele dedico todas as formas de arte que como ele lutaram para se poderem exprimir.........

Anónimo disse...

Quanto a mim, a arte suprema é a da palavra. Já o livro mais vendido do mundo, a Bíblia, refere: "no princípio era o verbo", ou seja, segundo dizem os eruditos e entendidos estudiosos da matéria, tudo quanto é conhecido derivou da palavra. Neste pressuposto, ainda que possas vir a descobrir outras artes dentro que ti, pelo menos uma é bem evidente, basta atentar neste teu blog e no que ao longo do tempo tens vindo a fazer dele: um verdadeiro polo de atracção e de expectativa para quem o frequenta; atracção pelos temas que escolhes, enriquecidos na forma como os desenvolves. Expectativa não só pelo que possas apresentar de seguida, mas também pelas reacções que estimulas nos teus leitores, geradoras dos seus comentários.
Não tendo tu tido lições de oratória ou dialéctica, não deixa de ser uma arte, a forma como usas a palavra.
Gostaria também de reforçar o comentário do Gonçalo:
Eu estive no 25 de Abril, não de uma forma muito actuante, mas da forma que me foi permitida, uma vez que era militar (furriel miliciano) sujeito a uma disciplina ditada pela hierarquia: de guarda ao paiol da Escola Prática de Infantaria, no meio da Tapada de Mafra; de qualquer modo, foram efectivamente dias em que as artes da música e da palavra tiveram um peso sobremaneira importante no ambiente que se viveu, com destaque para nomes como José Mário Branco, Luís Cília,José Jorge Letria, Francisco Fanhais, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Ermelinda Duarte, Luisa Basto, apenas para citar aqueles que me ocorrem agora ao pensamento. Também nesta altura, outras artes tiveram como que uma explosão de criatividade (redundante, porque arte já implica criatividade) e vestiram roupas novas, como aconteceu com o próprio grafismo usado em desenhos e imagens que de algum modo retrataram a revolução dos cravos.
Pegando ainda no texto original, quando é dito "a arte é a mais forte das armas, por poder assumir várias formas, por estar dentro de todos nós à espera de ser descoberta e revelada..." eu permito-me discordar: a arte (na sua verdade interveniente) está apenas ao alcance e dentro de alguns, poucos, o que atemoriza e incomoda a matilha imensa que se alimenta do sangue da plebe... (eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada...)
beijinhos
Pai do Marco