segunda-feira, outubro 08, 2018

5 de Outubro e 3 Dias de Mota - Dia 2


Depois de uma noite bem dormida e recuperadora, soube bem apanhar o ar fresco das ruas graníticas de Folgosinho, enquanto albardava a burra para seguir viagem. Chaves entregues no Albertino e começámos da melhor forma a percorrer as curvas do caminho que leva até Gouveia, com uma paisagem lindíssima ainda que tenha sido recentemente fustigada também por incêndios.


Em Gouveia tomámos o pequeno almoço que se impunha, para depois regressar à serra e fazer mais umas quantas curvinhas (algumas das que já tínhamos feito no dia anterior, mas em sentido contrário, para garantir que ainda estavam lá). Começámos depois a apontar o azimute a Aldeia das Dez, mas esquecemo-nos de uma regra básica nas viagens em grupo, que é a de assegurar que estamos todos com a autonomia alinhada em termos de combustível. Tivemos por isso de improvisar no caminho e a determinada altura procurar a bomba mais próxima.


Nova paragem e lá revimos o percurso antes de retomar o caminho. Como acontece sempre que nos perdemos ou improvisamos, acabamos por fazer troços de estrada interessantes. Foi o caso, ao passarmos por Avô e Pomares, por uns caminhos perdidos no meio da serra. Como por vezes os astros alinham-se, inadvertidamente e sem combinar encontramo-nos com a outra metade do grupo ainda antes de chegar ao alto de Fajão.


Lá nos alinhámos todos e decidimos rumar em direção à barragem de Santa Luzia, mais concretamente ao Casal da Lapa, onde tentaríamos almoçar. Chegados ao restaurante, não nos safámos, já que a fila de espera não se coadunava com os nossos objetivos e timings, pelo que optámos por descer até à barragem e comer qualquer coisa rápida no bar. Comemos qualquer coisa, mas foi tudo menos rápida (para não variar).



De barriguinha cheia e com mais uma resma de mentiras contadas, seguimos novamente viagem em direção a Orvalho. Aqui o grupo partiu-se novamente, tendo metade regressado a Lisboa, e a outra metade continuado caminho em direção a Castelo Branco, pelas curvas do Salgueiro do Campo. Aqui tirei a barriga de misérias em termos de curvinhas feitas a bom ritmo. Havia uma "lebre" no grupo que me competia agora a mim perseguir, pelo que assim o fiz… e gostei! Finalmente os pneus novos levavam o justo aquecimento naquelas curvas deliciosas, e o caminho entre Orvalho e Castelo Branco foi feito em menos de um fósforo. Reagrupámos em Castelo Branco e fomos refrescar-nos às Docas Secas, com uma mais que merecida imperial que o calor já justificava.


O dia não podia estar a correr melhor, pelo que a estrada chamou novamente por nós. Mais uma dose de quilómetros a correr atrás da "lebre", nas curvas que nos separavam de Nisa (e que aí acabavam). Nova paragem técnica em mais uma esplanada, e por aí nos quedámos mais um pouco.


Os aspersores de rega que entretanto se ligaram correram connosco. Despedimo-nos da "lebre" que nos deixava para regressar a casa, na Guarda. Os que restaram (eu e mais três) continuaríamos viagem até Castelo de Vide, onde pernoitaríamos. Checkin feito no hotel de Castelo de Vide, era tempo de procurar lugar para jantar. Estávamos a 500m do centro, pelo que deixámos as burras no estábulo e seguimos a pé, até finalmente encontrar um cantinho meio que às escuras, em frente à Sé, onde nos abancaríamos confortavelmente para um jantar alentejano servido por alentejanos.


Comemos e bebemos o que havia, não escolhemos nada. Fomos servidos pelo simpático e afável Sr. Raposo, um alentejano que diz que gosta de conversar com gente culta, enquanto dá duas palmadinhas na sua saliente barriga. Queixa-se que, sendo sacristão, o resto da população acha que ele bebe o vinho da missa, mas que isso é totalmente falso, até porque o vinho não presta. Aponta-nos a Macal que conduz diariamente, enquanto cospe mais meia dúzia de perdigotos para cima de nós.


Já no final da refeição, outro empregado debita-nos a lista de sobremesas (ambas) que ficou rapidamente reduzida a uma opção, quando a cozinheira comenta que "o bolo de café é capaz de não ser boa ideia". Duas rodadas de bagaceira oferta da casa, e lá nos despedimos até porque os senhores queriam fechar o restaurante. Ainda parámos em mais um barzinho onde compensámos as 2 bagaceiras com 2 macieiras, acompanhadas de 2 dedos de conversa.


A noite parecia ir adiantada, quando nos decidimos ir para o hotel. No entanto uma festa com música popular chamou-nos a atenção a meio caminho. Quando nos entre-olhámos alguém comentou "mal não faz" e lá fomos nós. Entrámos festa adentro e dirigimo-nos ao balcão. Um alentejano mal encarado, de camisa aberta e tufos de pelos no peito, chegou a nós uns minutos depois a explicar que se tratava de uma festa privada e que não podíamos estar ali. Era a festa anual da família Carapateiro, que juntava mais de 100 pessoas. Pedi educadamente desculpa e prontifiquei-me a sair, ao que o ligeiramente menos mal encarado alentejano respondeu "bebam lá uma cerveja, usem a casa de banho e vão-se embora".


Agradeci-lhe com um obrigado e um sorriso. Poucos minutos depois já me tinha contado toda a história da sua vida, explicado que já não morava ali mas sim em Albufeira, que se tinha divorciado da mulher que lhe tinha ficado com a casa, mas que tinha evitado dar-lhe o carro tendo-o vendido, já que ela nem precisava porque dali ao Pingo Doce, onde trabalhava, eram 500m. Passámos a noite com os Carapateiros, a beber cerveja à borla e a dançar ao som da música pimba.


Já mais que torcidos e a festa quase a acabar, finalmente fomos embora para o hotel (que felizmente ficava a uns 50m dali), onde nos apercebemos todos quão bêbados estávamos. Dormi novamente que nem um anjinho.

(Continua…)

1 comentário:

mãe disse...

O que eu já me ri com tudo isto que tu descreves.
Bem até penetra em festa privada? Sinceramente, não te estava nada a ver.
Beijinho da mãe. E mais uma vez obrigado por partilhares