quarta-feira, maio 17, 2006

Diário de Um Contribuinte

Hoje fui às finanças. Sim, é verdade... eu tive a ousadia. Coisa simples... Chegar lá, fazer uma pergunta de resposta mais ou menos directa e ficaria o caso arrumado. E até foi, tirando a meia hora de espera que, não fosse o facto de não ter ninguém à minha frente para ser atendido, até seria considerada normal. Mas enfim, isso já são outras histórias. O que me traz aqui tem a ver com uma conversa que tive a oportunidade de presenciar noutro balcão com um senhor que fez questão de se identificar como "reformado da função pública", enquanto esperava que "ninguém" fosse atendido no meu balcão. Problema em questão: entrega da declaração do IRS via Internet.

Tudo começou com um simples "Boa tarde, vinha aqui pedir o 'cartão da Internet'", ao que o funcionário da repartição respondeu prontamente "Não existe nenhum 'cartão da Internet'", o que só agravou a confusão do senhor, que conhecia uma senhora, que lhe disse para arranjar o 'cartão da Internet'. O funcionário começou a explicar... "O que recebe em casa é uma senha que depois utiliza para entregar o IRS via Internet, utilizando aquele site que está ali no papel colado na parede" ao que o cérebro do senhor, pela expressão que fez, deve ter respondido com um valente "Hã?". O funcionário continuou: "Para receber a senha, tem de fazer o pedido. Já fez o pedido?", ao que o senhor respondeu "Não". "Ah, então tem de fazer o pedido primeiro, em como quer passar a entregar o IRS via Internet", ao que o senhor respondeu "Mas eu não quero fazer isso pela Internet que eu não percebo nada disso". Aqui começou o funcionário a vender a "banha da cobra". "É mais rápido... Pode fazer logo uma simulação... No final do ano toda a gente vai receber a senha... Bla bla bla...".

Enfim, estive quase para dizer ao senhor, enquanto o funcionário foi ver não sei o quê com um dossier de papéis que este lhe levou, para se ir embora para casa ver uma qualquer novela da TVI, que fazia melhor. Com o grau aparente de conhecimentos das novas tecnologias, estar a pedir a senha electrónica era o mesmo que estar a vender a alma ao Diabo. Por falar em alma, a "alminha" que lhe vendeu a história do "cartão da Internet" também podia limpar as mãos à parede com a obra feita. Sinceramente... Ajudar as pessoas é uma coisa, tornar-lhes a vida mais difícil é outra completamente diferente, por isso e na qualidade de profissional das TI, não tenho qualquer problema em dizer que a onda da modernização não deve nem pode ter este tipo de contornos tão difusos.

PS: por falar em finanças, é suposto agradecermos ao governo o "não subir" os preços do combustível? Meditemos...

2 comentários:

Dani disse...

Nem mais. Em vez de elucidarem, assumem à partida, que toda a gente é iluminada, e que já nasceu ensinada (neste caso, numa altura em que nem televisão havia ainda, enfim...).
São tão quiduchos aqueles tipos do governo... Olha lá o bem que eles nos tratam... :)

desculpeqqc disse...

LOL
Quando o Socrates anunciou o choque tecnologico, nunca imaginei que se estava a referir a este tipo de confronto nos balcões das finanças.
Não sei se tenho pena do reformado, ou do funcionário, ou de ti, ou de mim, ou...