sexta-feira, janeiro 15, 2021

Quinze Dias Depois

Quinze dias passaram de um novo ano e a constatação do óbvio é inevitável. As coisas não mudam simplesmente porque se pendura um novo calendário na parede. Cabe-nos a nós mudá-las, independentemente do dia, mês, ano ou década em que estamos.

Quinze dias passaram de um novo ano e, para mim, a vida seguiu normalmente o seu rumo, mas eu não sou exemplo p'ra ninguém porque não me estava propriamente a queixar de muito. Família, trabalho, etc., tudo no mesmo lugar: o lugar certo. O objetivo de tentar ver sempre o lado positivo das coisas e de me ir transformando na melhor versão da pessoa que posso ser é uma constante há já vários anos na minha maneira de ser e de estar. Creio que lentamente, desafio a desafio, reflexão a reflexão, ação a ação, lá vou volta e meia subindo um pequeno degrau nessa escada de evolução que tracei para mim próprio. No limite tenho para mim que pelo menos não faço mal a ninguém, o que nos dias que correm já não é mau de todo e não é algo de que toda a gente se possa gabar. Não é muito difícil olhar para o lado e ver alguém que eventualmente - até por pura ignorância - acaba a prejudicar o próximo... Por outro lado, ocasionalmente temos a felicidade de ir observando pontuais situações enternecedoras de pura bondade. E uma vez mais o truque é ir focando a nossa atenção sobre essas ao invés das outras.

 Quinze dias passaram de um novo ano e estou prestes a retomar uma resolução (não de ano novo, mas de um dia qualquer) que adotei durante os primeiros meses de 2020: deixar de ver notícias. Por vezes ligo a televisão em busca de informação sobre o que se passa no país (além da COVID), sobre acontecimentos e eventos (além de chegadas de vacinas para COVID e novos surtos de COVID), sobre desporto (além do relatório do número de jogadores de futebol infetados com COVID), mas nada disso é possível. O jornalismo já não existe. Em vez disso foi substituído por uma retórica fácil e infantilizadora da população que se concretiza com efeitos práticos sob a forma de uma injeção ocular de propaganda inútil sobre algo que já sabemos, sem que isso acrescente nada de novo a não ser o aumento do sentimento depressivo e opressivo que (aparentemente) se pretende gerar em cada um de nós. Se há coisa que sei e que a história já provou, é que a depressão e a opressão não curam nenhum mal, são elas próprias um mal terrível, dos piores a que podemos ser submetidos. Reservo-me assim o direito de não levar esta injeção ocular (pelo menos de forma voluntária). Reservo-me o direito de escolher aquilo que vejo e leio e de me (tentar) manter informado com os escassos recursos que ainda considero válidos e que estão ao meu alcance. Reservo-me o direito de ter uma palavra a dizer sobre aquilo com que alimento o meu pensamento, sobre a forma como me sinto (ou escolho sentir) e como vejo as coisas.

Quinze dias passaram de um novo ano e a constatação do óbvio é inevitável. As coisas não mudam simplesmente porque se pendura um novo calendário na parede. Cabe-nos a nós mudá-las, independentemente do dia, mês, ano ou década em que estamos.

1 comentário:

mãe disse...

Mais uma vez, fico comovida com o que escreves.
És um ser humano incrível. Que sorte a minha por seres o meu filho.
Beijinhos da mãe