domingo, janeiro 17, 2021

Presidenciais 2020

Nos últimos tempos dou por mim a evitar falar de política com as pessoas que me são próximas. Não que tenha alguma tendência qualquer para a política, porque foi tema que nunca me interessou muito. Mas com alguma frequência em conversas de café com amigos (como se ainda fosse possível ir ao café conversar com alguém...), assisto aos meus interlocutores exaltarem-se de alguma forma e defenderem com acérrimo e laivos de violência as suas opiniões. Pior que isso é que já não é a primeira vez que dou por mim a ter a tendência para fazer o mesmo (e isso sim é grave e pretendo evitar que aconteça). Talvez a dispersão tão grande de opiniões e a conjuntura atual contribua para isso. O que é um facto é que temos eleições presidenciais à porta, e nunca assisti a um cenário como aquele que temos...

Até determinada altura tivemos a apresentação de um conjunto de candidaturas em que nenhuma maioria dentro da população se revia, até que chegou o momento em que Sua Excelência o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa (doravante denominado "Marselfie" por ser um nome mais adequado à personalidade em concreto) se apresentou como candidato a um novo mandato.

Acho sinceramente que a recandidatura do Marselfie não trouxe nada de bom. Reconhecendo que no sistema político português (e numa situação normal além do que sejam cenários de guerra, etc.) a figura do PR é quase meramente decorativa, ainda assim há que defender o que significa este cargo. Fui militar (ainda que por pouco tempo) e tenho respeito pela posição em causa (não esquecer que se trata do comandante supremo das forças armadas), pelo que me sinto triste por ver alguém que faz desse papel o de bobo da corte. Uma necessidade constante de manter os níveis de popularidade acima de tudo, silêncio e inação nos momentos realmente importantes, o ridículo de supostos salvamentos na praia e injeções em tronco nú e uma arrogância, paternalismo e tom de superioridade crescentes no seu discurso, foram fazendo que me distanciasse emocional e racionalmente de tal personalidade com o decorrer do tempo.

Existem depois os candidatos que simples e assumidamente disputam o segundo lugar do pódio: Ana Gomes e André Ventura. Ana Gomes entrou na corrida sabe-se lá a representar quem (pelos vistos ciganos, segundo a própria, que se auto intitulou a "candidata cigana") e tem lutado pela posição do mal menor. Não apresenta nenhum projeto com ideias relevantes e que mereçam a discussão, como aliás praticamente nenhum candidato. Faz parte da histórica pandilha dos compadrios e só por isso tento não lhe prestar muito mais atenção, porque quando penso nisso vem-me a comida à boca.

André Ventura, o principal opositor do que sobra depois de Marselfie. Tem sido o principal tema de debate em quase todos os debates presidenciais, mesmo aqueles em que não participa. Com um discurso não menos populista que o do atual PR, mas em sentidos habitualmente opostos, é o defensor das irritações de toda a gente. Qualquer pessoa que tenha uma "comichão" com um assunto específico, tem em Ventura uma proposta para a sua defesa, umas mais realistas que outras. Em plena campanha tem por hábito defender medidas que extravasam a competência e poder de qualquer presidente eleito, mas vai falando nelas de qualquer forma como se fossem relevantes para o efeito. Afinal de contas, os seus opositores também não apresentam nenhum programa de medidas coerente com o que um PR pode e deve fazer. Ocorre-me dizer que os debates (aos quais assisti na maioria) são sobre "cenas". Uma espécie de conversa de café presidencial, na qual se discutem temas que podem ir desde a crise dos refugiados ao desempenho de Teresa Guilherme enquanto apresentadora do Big Brother.

Marisa Matias, a candidata que ficaria em terceiro lugar se ele não estivesse já ocupado. Especialista em cargos políticos secundários bem pagos mas sem qualquer tipo de visibilidade. É eurodeputada mas ninguém sabe ao certo o que é que faz. É fixe porque é relativamente jovem e pela associação ao partido da moda dos que se dizem da extrema esquerda mas não sabem o que é a esquerda nem a extrema.

Tiago Mayan, um daqueles candidatos que ninguém conhece. No meu caso tenho pena de não o conhecer. Do curto tempo de antena que teve até ao momento e abstraindo-nos do nervosismo extremo que transparece quando fala, teve dos discursos mais coerentes, interessantes e com algum conteúdo que ouvi até ao momento. Se observarmos o conteúdo para lá da forma, encostou muitos dos outros candidatos às cordas (Marselfie incluído). Penso que um candidato como este deveria arranjar maneira de adquirir algum tipo de visibilidade prévia que sustentasse a sua candidatura de forma mais eficaz. Infelizmente joga na "liga dos últimos", mas talvez depois disto tudo comece a ter algum tempo de antena noutros fóruns.

João Ferreira, mais um eurodeputado que ninguém sabe o que faz e - ao contrário da Marisa Matias - outro dos candidatos que ninguém conhece. Em relação a este, não tenho interesse em vir a conhecer o que quer que apregoe. Um jovem membro do partido comunista mas que tal como Ventura referiu é apenas mais um "beto" de Cascais, reúne eventualmente alguma simpatia da chamada "esquerda caviar" e não mais do que isso. Estou ainda para perceber o que justifica que o seu seja o orçamento mais avultado de todas as campanhas presidenciais...

Por último (mas que provavelmente não será o último), Vitorino "de Rans" Silva. O ex-autarca que graças a um par de piadolas com o Guterres ganhou toda uma projeção mediática que a mim pessoalmente me escapa. Por mais que tente, não consigo achar graça nem perceber o que diz, não porque aquilo que diz se resume a um conjunto de metáforas imperceptíveis e fora de contexto, mas porque quando o vejo fico sempre fixado naquela espuminha branca que teima em lhe contornar os lábios, não conseguindo prestar atenção a mais nada a partir daí.

Posto isto, vou votar sabe-se lá em quem. Como informático que sou, a minha vontade era desligar e voltar a ligar estas candidaturas, na esperança que os candidatos arrancassem mais direitos e sem vírus. Mas parece que a política ainda é uma ciência menos exata do que a informática e as coisas não funcionam assim...

2 comentários:

António Maria disse...

Desde que há presidência constitucional, ou seja desde 1976, todos os nossos Presidentes cumpriram um segundo mandato, portanto, parece-me que nem deveria ser necessário haver "eleições intermédias" era alterar os mandatos do Presidente da República para dez anos e estava o assunto resolvido.
Pai

António Maria disse...

Devias ir para a televisão fazer "pandan" com o Ricardo Araújo Pereira! ;)
Beijinhos
Pai