quarta-feira, maio 09, 2018

Rota Andaluz - Parte VI

Sexto e último dia na estrada. A noite foi recuperadora, e nem o ralenti do meu companheiro "tratorista" evitou que eu conseguisse dormir desta vez. Uma vez mais, fui o segundo a aparecer para o pequeno almoço, já que havia um companheiro de estrada sempre mais madrugador do que eu. Quando me juntei a ele já tinha orientada a tradicional "tostada de tomate" regada com azeite, o que me simplificou a escolha, optando pelo mesmo.


A malta lá se foi reunindo, já com aquele sentimento de que a festa estava a acabar. De tal forma, que tivemos dificuldade em "despegar" a conversa, arrastando o mais possível o adeus e a divisão em subgrupos para a viagem de regresso. Os destinos eram variados, desde Saragoça, Lisboa (o meu caso) ou Algarve. Lá nos despedimos, e já com as "burras" albardadas foi tempo de uma última mirada pelas janelas do hotel Los Dolmenes, em Antequera, antes de partir.


A viagem iria ser feita em grandes tiradas, preferencialmente de pelo menos 100 quilómetros cada, para não arrastar o regresso pelo dia todo. Assim, já foi bastante depois de nos fazermos à estrada que parámos a primeira vez, aproveitando para vestir o equipamento de chuva, que de repente se tornou necessário.


E já que estávamos numa estação de serviço, aproveitámos para reabastecer também de "pipas", "cacahuetes" e as inevitáveis gomas...


Seguimos para mais uma tirada de outros tantos quilómetros em modo "papa-léguas", e quando parámos novamente para abastecer, próximo de Zafra, a barriga já dava horas. Perguntei ao funcionário das bombas onde poderíamos almoçar por ali, tendo respondido que se estivessemos dispostos a fazer uns 15 quilómetros havia um restaurante de berma da estrada muito bom, onde habitualmente paravam os camionistas. Seguimos o conselho e dirigimo-nos ao Gallego, em Llerena.


O almoço foi uma vez mais excelente, quer pela comida, quer pela companhia. Apesar dos "blues" do fim da viagem já se fazerem sentir, a boa disposição mantinha-se, e os quilómetros que nos faltavam fazer não nos assustavam.

A partir daqui a viagem não teve muito mais para contar. Cuidado máximo para não ser "fotografado" no dia de regresso (a Guardia Civil é uma presença constante, e as estradas estão pejadas de radares fixos, móveis e até helicópteros a fazer o controlo de velocidade). Paragem em Badajoz para um último abastecimento em terras de "nuestros hermanos", a um preço convidativo, e uma última tirada até casa, com breve paragem para a despedida na área de serviço de Montemor. Como neste último dia já fizemos bastantes quilómetros em autoestrada, ao contrário do que tinha acontecido nos dias anteriores, constatei o habitual genocídio de mosquitos no meu capacete e na mota, quando cheguei...


Seguir-se-ia o regresso à normalidade, felizmente com um dia de descanso pelo meio que soube muito bem, antes de voltar ao trabalho, caso contrário a depressão teria sido ainda maior. Este tipo de viagem é sem dúvida algo que me lava a alma, porque me permite conjugar vários elementos que aprecio. A viagem por si só, já que é aquilo que considero mais enriquece o ser humano, a beleza singular de locais e paisagens, a camaradagem e amizade, a boa disposição e despreocupação. Andar de mota é algo que me faz realmente bem, porque consigo por vezes não pensar em mais nada. O nosso raciocínio muda, simplifica-se, torna-se básico... passando a focar-se em coisas elementares como a trajetória de uma curva, a emoção de uma aceleração ou a paisagem que se descobre à nossa frente. Espero poder continuar a viver estes momentos por muitos e longos anos, porque se algum dia, por algum motivo, tiver de deixar de o fazer, sinto que ficarei muito mais pobre.

Para já, trago ainda comigo o gostinho desta viagem, e poder revivê-la ao escrever estas linhas, é também para mim muito compensador. Venha a próxima (que já agora, serei eu a organizar...).

1 comentário:

mãe disse...

Venha ela. Essa tua nova viagem.
Como eu te estou sempre a dizer. Fico sempre com o meu coração muito pequenino, cheia de receio do que pode acontecer. Mas também sinto o quanto essas tuas "escapadelas"te fazem bem.
E agora vou ficar com pena de não ter mais para ler e fotografias de locais extraordinários por onde passaste, para ver e viver através dos teus olhos.
Beijinho da mãe