quarta-feira, maio 09, 2018

Rota Andaluz (Parte V)

Quinto dia de viagem, e era tempo de nos despedirmos dos nossos alojamentos de hospitalidade portuguesa nos arredores de Ronda. Com o problema da água quente resolvido de vez, e com o "abraço português" na oferta do pequeno almoço nos dois dias de pernoita, saímos dali satisfeitos com a nossa estadia, com o charme do local, e até com o cheirinho a "offroad" que tínhamos de fazer sempre que nos deslocávamos até lá.


Já com o pequeno almoço tomado, era tempo de dar de beber às "burras", já que algumas estavam literalmente nos vapores. A fome era tanta, que algumas até "vomitaram" durante o abastecimento...


Prontos a seguir, começámos a temer que o tempo se estragasse. Felizmente conseguimos fazer as estradas que tínhamos previsto até à nossa primeira paragem, literalmente passando nos intervalos da chuva. A povoação a visitar: Setenil de Las Bodegas.


Uma povoação lindíssima e sui generis por ter as suas casas inseridas em rocha calcária (de)formada pela erosão da água ao longo dos anos. O efeito é magnífico, como se pode constatar, fazendo parecer que as casas são escavadas na rocha, já para não falar no facto de a povoação ser percorrida por um rio serpenteante.


Enquanto abancávamos em mais uma esplanada, a brejeirice continuava a ser uma constante no humor que nos acompanhou sempre, pelo que alguns comentários surgiram quando nos deparámos com certos produtos hortícolas de proporções pouco habituais (que carinhosamente foram batizados de "tumarcos").


Saímos dali novamente nos intervalos da chuva, mas ainda assim fomos devidamente equipados, inclusive o nosso Deadpool que fez questão de utilizar a sua capa de super herói.


Percorremos paisagens lindíssimas à saída de Setenil, com algumas encostas verdejantes fustigadas pelo vento como se fossem ondas do mar, coisa que parece poética e de filme, mas que é literal e tenho pena não ter sido possível captar numa foto. Fica a foto mental... no meio desta beleza toda, perdemo-nos novamente (e como faz já parte da tradição) e acabámos por percorrer talvez o melhor troço de estrada de toda a viagem, onde aproveitámos para esticar as pernas às burras, o que nos deixou com um sorriso nos lábios e com fome no estômago. Era tempo de almoçar.


Depois de nos termos perdido, chegámos acidentalmente a Ardales, onde nos deparámos de imediato com o restaurante El Cruce. Entrámos e percebia-se que estaríamos próximo de um dos destinos do dia porque o restaurante tinha motivos decorativos alusivos ao Caminito del Rey. A refeição foi maioritariamente à base de carne grelhada, uma vez mais. E uma vez mais também, comemos bem.


O tempo continuava a dar-nos tréguas, pelo que seguimos caminho, para visitar o Embalse de Guadalhorce, mais um local fantástico, onde duas barragens (uma nova e outra antiga) se encontram e convergem no mesmo rio de uma forma singular.



Fomos até um miradouro onde podíamos observar as duas barragens e o rio,  e onde aproveitámos para mais uma fotos artísticas (incluindo árvores que davam frutos invulgares).


Mais umas estradinhas serpenteantes pela frente, e cada vez estávamos mais próximos do grande objetivo do dia: o Caminito del Rey. Uma visão imponente que surge após desfazermos uma curva, e que nos obrigou instantaneamente a parar e a observar com admiração aquela paisagem.


Um caminho pedestre cravado em plena rocha a uma altitude considerável, com águas de cor turquesa na base do desfiladeiro a compor aquele cenário natural. Sem dúvida mais uma visão lindíssima e que nos fez subir de altitude também, para melhor observar toda aquela paisagem.


Restava ainda mais um cenário natural para visitar neste dia, pelo que continuámos a rolar novamente por uma estrada que permitiu esticar as pernas das "burras", ainda que com algumas paragens descontraídas pelo meio.


O último ponto de paragem do dia seria em Torcal, já próximo de Antequera, onde ficaríamos nessa noite. Este local tem mais uma paisagem natural difícil de explicar. Aparentemente a rocha foi trabalhada pela erosão como se de uma obra de arte se tratasse, e o resultado é bem visível nas invulgares formações rochosas que ficam no topo daquela serra.



Também por ali há um miradouro onde tivemos oportunidade de ver mais uma paisagem deslumbrante, em que até o mar dá um ar da sua graça como pano de fundo.


Já na descida, impunha-se mais uma foto de grupo, pelo que colocámos as máquinas em modo de "equilíbrio dinâmico" (leia-se, apoiadas numas rochas e prontas a cair encosta abaixo ou a ser esborrachadas por uma pedra qualquer), e registámos mais um belo momento.


O sol ameaçava por-se, e resolvemos rumar ao último local de pernoita da nossa viagem. Ficaríamos em Antequera, no hotel Los Dolmenes. Não visitámos Antequera, mas por sorte o hotel tinha um bom restaurante onde confortavelmente jantámos, regando a comida com bom vinho espanhol que felizmente alguns elementos do grupo conheciam, aproveitando para fazer o debriefing do dia, e da viagem no seu todo. O sentimento que todos trazíamos no coração era o mesmo: gratidão. Gratidão por quem na sua carolice organizou o percurso e a parte mais logística da viagem, gratidão pelo comportamento de todos na estrada, por todos termos garantido que a viagem corria sem percalços e que se tal acontecesse nos apoiaríamos como sempre uns aos outros, gratidão pela companhia, camaradagem e amizade que ao longo dos anos e de alguns milhares de quilómetros juntos temos desenvolvido, em suma, gratidão por toda aquela experiência que estávamos a viver e que agora começava a chegar ao fim. Entretanto, e como temos por tradição "alinhavar" sempre a viagem do ano seguinte desde que começámos a organizar estes passeios anuais, lá pegámos no mapa para reunir algumas ideias que serão úteis para o organizador da viagem do ano que vem: eu.


Era tempo de ir dormir (e nesta última noite o cansaço físico já me permitiu ultrapassar o "desafio sonoro" proporcionado pelo meu companheiro "tratorista") e acordar na manhã seguinte revigorado, para um regresso a casa em modo papa-léguas, que ainda assim seria e foi parte integrante da viagem.

2 comentários:

Miguel Carmona disse...

E assim ficam retemperadas as forças por mais uns tempos... Tenho que ir dar uma voltinha :) Abraço

mãe disse...

Não estando contigo nesta tua viagem, até eu já sinto saudades. Como tu muito bem dizes, que venha a próxima. Beijinho da mãe