terça-feira, maio 08, 2018

Rota Andaluz (Parte IV)

O dia amanheceu bem cedo em Ronda, da minha parte ainda mais, com a terceira noite mal dormida. Levantei-me e contra o que seria expectável, tomei mais um banho de água fria. Tudo bem. Desci do meu quarto deixando o meu companheiro "tratorista" a ressonar mais um pouco, e senti-me bem ao sair e enfrentar a brisa fresca da manhã, enquanto "albardava a burra" para o dia que se seguiria.


Uma olhadela rápida à paisagem e, após reunir as tropas, lá se seguiu um pequeno almoço que o pessoal do alojamento fez questão de oferecer, descrevendo-o como "aquele abraço português". Foi aceite de bom grado, e rapidamente fez esquecer os problemas com a água quente (ou falta dela, no caso). Seguiu-se um briefing rápido antes de montarmos nas motas e seguirmos caminho.


A primeira paragem do dia seria em Zahara, onde visitaríamos mais um dos povos brancos, não sem antes tomar o "café solo" da praxe. Quando estacionámos frente à igreja, tivemos um funcionário do município a pedir-nos para não deixar ali as motas, porque iria realizar-se a missa e os praticantes poderiam ficar deslumbrados com elas e esquecer-se se entrar… pelo menos foi assim que nós quisemos entender o pedido que nos endereçou para as estacionar noutro sítio, o que prontamente fizemos.


Depois de observar as "aves raras" que em frente a nós desfilaram para as celebrações religiosas, decidimos que era altura de seguir caminho. Na pior hora possível, diga-se de passagem, porque apanhámos uma confusão tal no meio da vila que foi impossível o grupo manter-se unido, acabando por perder dois elementos do grupo. Lá conseguimos sair do meio da confusão, para um pouco mais tarde reagrupar com os dois "ovos podres" que tinham ficado para trás, e finalmente seguir caminho, não sem antes observar a paisagem uma vez mais.


Seguiu-se uma estrada de montanha bem interessante com uma envolvente fantástica, que obrigou a mais algumas paragens para ver a vista. Nova paragem na povoação de Grazalema, onde resolvemos estacionar as "burras" junto a um "touro" digno de foto. A foto teve que ser tirada com alguma celeridade, porque a polícia rapidamente fez questão de nos "enxotar" dali para fora. Parecia que naquele dia incomodávamos onde quer que parássemos... A população também parecia sensível a estarmos ali junto àquela estátua, pelo que não quisemos incomodar mais do que já tínhamos incomodado, e seguimos o nosso caminho.


Uma paragem rápida para mastigar umas gomas (que ao longo de muitos quilómetros em grupo descobrimos ser a base da recuperação energética dos motociclistas) e descobrir que trazíamos no grupo nada mais nada menos que o anti-herói Deadpool!


Combinámos que iríamos procurar lugar para comer em Ubrique, o que correu melhor do que estávamos à espera. Um restaurante onde entrámos por acaso, repleto de motivos motociclísticos (toda a decoração baseada nas míticas Vespas) e comida da boa, muito à base de carne de porco ibérico grelhada.


Um passeio pelas ruas movimentadas de Ubrique que transmitem aquela sensação de férias, e aproveitámos o calor que finalmente nos aquecia o corpo para seguir viagem, já que a manhã tinha sido gelada (e eu estupidamente tinha deixado ficar o forro do casaco no alojamento). Seguimos então viagem tendo apanhado pelo caminho um grupo de "queimados das R's" que resolveu passar perigosamente pelo meio de nós. Para nosso azar dois agentes de mota da Guardia Civil, também os viram e resolveram seguir-nos, julgando que fazíamos parte do grupo. Ainda fui mandado encostar quando falhei uma saída e fiz uma inversão de marcha, mas rapidamente perceberam tratar-se de dois grupos distintos e fizeram-nos seguir caminho, indo atrás do outro grupo. Depois de respirar de alívio por evitar problemas a que ainda por cima éramos alheios, foi tempo de mais à frente parar num local com uma vista magnífica da Sierra de Grazalema, onde aproveitámos para fazer mais uma foto de grupo para a posteridade.


Com a tarde já adiantada fizemos nova paragem para engolir mais umas gomas, trincar umas pipas e beber uma Cruz Campo. Antes disso encontrámos um cenário peculiar frente a um hotel abandonado com um heliporto privativo, que foi palco obrigatório para mais uma foto de "burros" e "burras" todos juntos, com uma bela paisagem por trás.


Como a hora já era avançada, e não queríamos perder de novo a oportunidade de visitar Ronda ainda com a luz do dia, optámos por não passar pelos nossos alojamentos e seguir diretos para lá. Chegámos a tempo de ver uma povoação digna de cenário de um filme, com os vários motivos históricos embebidos numa paisagem natural não menos bela.


Desta feita e como era cedo, conseguimos ir jantar a um local decente, em vez de engolir mais um hambúrguer. Uma vez mais a galhofa foi constante, tal como já estávamos habituados (e apesar do cansaço de final de dia que todos começávamos a sentir).


Já de barriga cheia, voltámos finalmente aos nossos alojamentos. Alguns optaram por tomar banho (finalmente de água quente) e descansar, enquanto outros ainda desceram para mais um copo e dois dedos de conversa. E assim se terminou o dia com chave de ouro, antecipando já os quilómetros que se adivinhavam para o dia seguinte.


1 comentário:

mãe disse...

Hooo filho... o que eu me ri com os teus comentários, fui às lágrimas.
Mas à parte a risada fiz a viagem contigo, com estas belas imagens, e toda a tua descrição.
Como sempre.
Beijinho da mãe