segunda-feira, janeiro 23, 2006

O "Enfega"

Existe uma expressão na cultura naval, que aprendi logo quando entrei para a Marinha: "enfega". O enfega é tradicionalmente utilizado no contexto de uma conversa comum, para descrever aquele que só atrapalha, que é considerado o "empata" ou até mesmo o "atraso de vida". Penso que todas as organizações deveriam oficializar um termo para descrever aqueles que assumem este papel dentro ou fora das próprias empresas. É que certamente vai-se tornar mais fácil relatar os factos associados aos extraordinários feitos que os "enfegas" conseguem, bem como as questões de elevada importância e demonstrativas de conhecimento técnico associado ao problema que descrevem. Por exemplo e vendo o meu caso, que sou informático: é frequente alguém ligar a colocar uma questão do género "posso-lhe enviar uma SMS por FAX para o seu GPS, de forma a gravar a informação numa cassete VHS para eu poder reproduzir no meu DVD?". Ora eu nesta situação e perante tal destreza verbal e pormenor técnico, respondo logo: "Hã?", ao que o outro interlocutor tradicionalmente responde com a mesma frase, mas reordenada: "Queria reproduzir num DVD informação em formato VHS, enviada previamente para um FAX por uma SMS, a receber num GPS", seguido de um "Percebe?", ao que eu respondo "Ahhh... 'Tou a ver...", enquanto penso "Hã?". A área tecnológica tem muito destas coisas. Mas não tenho a mínima dúvida de que estas situações abrangem todos os sectores de actividade e competências técnicas. Dado o facto de esta ser uma problemática tão abrangente e actual, propunha uma reestruturação a nível nacional de todo o tipo de formação académica, de forma a incluir uma disciplina responsável pela capacidade de comunicação com este espécime, o "enfega". A disciplina podia ser "Enfeguês", ou caso se dividisse em duas, "Introdução ao Enfeguês", seguida de "Enfeguês Avançado". Ao nível de formação profissional até já vejo a criação de manuais técnicos: "Enfeguês for Dummies (ou para tótós)"... bem, esta última não faz muito sentido porque um "tótó" é por natureza também um "enfega", logo um tótó nunca compraria um manual deste género. O importante é que se crie a capacidade técnica nos profissionais do nosso país, para conseguir de alguma forma lidar com este tipo de "aventesma" e não nos deixarmos ir abaixo com a pressão que a espécie exerce! Aqui fica este meu apelo às autoridades competentes.

Sem comentários: