sábado, maio 25, 2019

Astúrias e Picos da Europa - Dia #1

De há alguns anos para cá, tenho tido a felicidade de pertencer a um grupo de amigos que, como eu, partilha o gosto pelas duas rodas e pelo mototurismo. Assim, começámos a organizar uma viagem anualmente, em que rolamos juntos durante 4-5 dias por estradas da península ibérica. Este ano calhou-me a mim organizar a dita viagem, que aconteceu no final de abril e teve umas quantas novidades, algumas peripécias, e... curvas, muitas curvas de várias formas e feitios. Foi batido o recorde de participantes, (num total de 13).

Carlos (VFR1200), Cátia (CB500X), Diogo (Tracer 900), Francisco (Z1000SX), Diogo (VFR1200), João (CBF1000), Ricardo (Superduke 1290), Luis (Versys 650), Pedro (S1000XR), Michel (Versys 1000), Sara (CBF500), Xico (R1) e eu (F800R).

O percurso deste ano em linhas gerais:


Finalmente chegou o dia de arrancar! A antecipação era muita. O grupo andava a trocar mensagens em tom de nervoso miudinho há quase um mês, por isso foi com muito ânimo e vontade que todos se fizeram à estrada. O primeiro dia não tinha muito encanto em termos de percurso traçado. Todos estávamos cientes que o objetivo era percorrer cerca de 700 kms até ao destino, em grande parte feitos por autoestrada para ninguém chegar muito cansado de forma a curtir os dias seguintes.

Pontos de encontro:

Alverca (Marco, Luís, Xico e Sara)



Aveiras (Carlos e Diogo)


Algures na A23... (Pedro, João e Ricardo) - não há fotos do momento do encontro por razões óbvias... :)

Zebreira (Francisco)


Os restantes elementos iriam ter diretamente a León (Diogo, Cátia, Michel).

Reunida a maior parte da tropa, na paragem da Zebreira, era tempo de rumar em direção a Plasência. Não iríamos parar por aí, mas um pouco mais à frente, em Jarilla, para almoçar no Hostal Restaurante Astúrias. O grupo já estava compostinho, e o tempo, até então, não nos tinha (ainda) castigado muito. Entrámos para almoçar e apesar da baixa expectativa, a refeição não foi nada má. O convívio começava assim a ganhar forma, com boa comida e boa disposição.


Enquanto almoçávamos, chegou a fazer sol, contrariando as "aves agoirentas" do grupo que andaram o mês inteiro a fazer piadas sobre o mau tempo que iríamos apanhar. Parecia assim que São Pedro nos iria dar tréguas para o resto do caminho. Não podíamos estar mais errados.


Terminada a refeição, voltámos à estrada. Pouco mais que umas dezenas de kms feitos, e em poucos minutos o tempo muda, começando a chover, para logo a seguir fazer trovoada, para culminar em 2 minutos intensos de granizo como nunca tinha assistido em toda a minha vida. Apesar de estarmos em plena curva numa autoestrada não tivemos como avançar porque as motas começaram imediatamente a escorregar, e tivemos todos de encostar e simplesmente esperar que aquela tormenta passasse. Ainda nos sentíamos fortes, e achávamos que aquele era apenas mais um obstáculo que iríamos ultrapassar.



Eu, o Pedro e o Carlos ficamos na frente do grupo. Mais atrás a Sara e o Xico. Os restantes elementos não estavam à vista devido ao ângulo da curva. O granizo já não caia, mas a ausência de notícias da cauda do grupo começou a preocupar-me. Um telefonema depois, metade do meu maior receio (alguém cair e magoar-se) tinha-se concretizado. O Francisco não teve tempo de encostar na berma a sua Z1000SX em segurança e acabou por sofrer uma queda. Não se magoou, mas infelizmente a mota não ficou em condições de seguir viagem. Terminava assim prematuramente a viagem do Francisco. Fizemos o percurso inverso na autoestrada para ir ao seu encontro, passando por vários automóveis acidentados em ambos os sentidos. Tudo aquilo aconteceu num espaço de 500 metros e num intervalo de 2 minutos! Como era possível...!?

O Francisco teve uma reação simplesmente espetacular, que foi um exemplo para todos nós e que ajudou a desdramatizar o mais possível a situação. Manteve sempre a calma, o otimismo e uma leveza no rosto que nos deixou a todos boquiabertos. Decidiu rapidamente o que fazer, chamou o reboque que chegou em 20 minutos, despediu-se desejando a todos uma excelente viagem, e que não nos deixássemos abater pela situação. Despedimo-nos dele com um aperto no coração e seguimos caminhos opostos, em direção a León.


E assim... éramos agora 12... :(


Considerando o sucedido, a nossa disposição não ajudou em nada a ultrapassar a intempérie que se continuou a abater sobre nós. Depois de já termos apanhado chuva, trovoada, granizo... seguiu-se vento com rajadas laterais e temperaturas bastante baixas. Uma parte significativa do final do percurso foi feita em piso miserável, pouco digno de uma autoestrada. A visão do Hotel Santiago de León foi como a chegada a um oásis, onde já nos esperavam o Diogo, a Cátia e onde logo de seguida apareceu também o Michel.

Estávamos juntos e unidos, era o mais importante. Havia que ultrapassar o sucedido de alguma forma. Tomámos banho, fizemos "reset" à temperatura corporal e reunimo-nos para o primeiro jantar do grupo, onde finalmente começámos a descontrair e digerir tudo o que se tinha passado. O conforto do hotel, a comida e cañas, e a boa companhia, começaram lentamente a fazer-nos regressar à normalidade. Brindámos ao Francisco, com quem fomos trocando mensagens e terminámos o nosso jantar. Esta viagem a ele foi dedicada!


O Pedro e o Xico foram buscar o material de suporte ao briefing que se impunha, para os dias vindouros e a forma como a viagem seria levada a cabo. Ao todo, uma garrafa de Bushmills, outra de Moscatel e uma Bicabagaço. A receção do hotel foi o local escolhido para o primeiro de vários briefings que seriam feitos ao longo de toda a viagem.




Neste momento o espírito já era outro, e acreditávamos todos que as coisas iriam correr melhor nos dias seguintes. E (apesar de ainda terem havido mais umas quantas peripécias) felizmente não estávamos errados! ;)

Sem comentários: