quarta-feira, maio 29, 2019

Astúrias e Picos da Europa - Dia #4

O quarto dia da viagem foi aquele que antecipou o dia do nosso regresso a casa. Começávamos a ter aquela suave perceção de que os dias estavam a passar mais rápido do que aquilo que gostaríamos, e a vontade de aproveitar tudo ao máximo, era muita. Talvez por isso mesmo, e uma vez mais, a malta foi cumpridora e bem cedinho já estávamos todos reunidos no "comedor" do Ibis para o pequeno almoço. No briefing da noite anterior tínhamos acordado que se faria cumprir mais uma tradição nesse momento, que era a de delinear as linhas gerais do que será a viagem de 2020.





Ao pequeno almoço cruzámo-nos com outros dois "tugas" viajantes de mota, que a bordo das suas GS, estavam a fazer o percurso da Ruta de La Plata. Em primeira instância fiquei interessado e até impressionado, mas quando ouvi a descrição do tipo sobre viagem, a forma como estavam a percorrer kms e o tempo que perdiam a "picar" o ponto no passaporte da Ruta... pensei para comigo próprio: "Não obrigado, mil vezes o formato descontraído e despreocupado da nossa forma de viajar"!

Terminámos o pequeno almoço, despedimo-nos dos nossos conterrâneos e reunimo-nos à volta do mapa que o Carlos abriu sobre a mesa. Trocámos impressões sobre datas, sobre zonas já visitadas/por visitar, sobre a dimensão de cada "tirada", o cariz mais/menos moto/turístico da viagem... No final, ficámos com apontamentos suficientes para aquilo que será a viagem do próximo ano.



Trabalho de casa feito, era então tempo de seguir. Até porque ainda tínhamos o "Tetris" de motas que tínhamos montado na garagem, por desfazer... :D



O primeiro ponto de interesse do dia era o Parque Natural de Las Ubiñas-la Mesa, pelo que saímos de Oviedo seguindo a estrada em direção a Soto, onde atravessaríamos a ponte para depois apanhar a estrada que acompanha o leito do Rio Trubia, até à referida zona protegida. Quando parámos para beber o cafezinho do meio da manhã, já tínhamos percorrido algumas estradas de curvas rápidas, ainda que intercaladas com bastantes povoações. A partir daí a coisa tornar-se-ia muito mais interessante.





Cafezinho tomado e com as burras a serem admiradas onde quer que parássemos, lá nos montámos nelas outra vez para nos fazermos ao caminho. A estrada que se seguiu foi simplesmente magnífica, em envolvente e traçado. A determinada altura o Pedro achou que era tempo de eu também ter um bocadinho de roda e passou-me (pelo menos é assim que eu gosto de pensar, e não que ele estava farto de levar uma "avozinha" à frente), o que me soube mesmo muito bem! Foi mais um troço em que, chegados ao ponto mais alto no Parque Natural, a mota do Pedro verteu outra lágrima tal foi a comoção...







Aqui tirámos uns momentos para reagrupar, apreciar as vistas e tirar umas fotos, incluindo novo momento de "equilíbrio dinâmico". Houve quem pisasse neve... Eu pisei um par de bostas de vaca enquanto andava armado em fotógrafo da National Geographic. Mas as fotografias até ficaram fixes!



Seguimos de novo, mas a paisagem era de tal forma magnífica que pouco tempo depois parei só para bater mais umas chapas, incluindo do grupo, que me dava sempre prazer observar!





A estrada que se seguiu foi feita de curvas mais rápidas e abertas. O sol brilhava, o calor apertava e dava gozo rolar. Deixámos a zona do parque natural e seguimos pela estrada em direção a Ponferrada. Nova paragem para abastecimento, e em Villaseca de Laciana parámos para almoçar no restaurante La Campanona.





Ao princípio parecia que a coisa não iria correr bem, porque o restaurante aparentemente estava todo reservado, mas uma vez mais tivemos sorte e bastou-nos fazer um compasso de espera com umas cañas a acompanhar e mais rapidamente do que esperávamos estávamos sentados a escolher os pratos do nosso almoço.





De novo, uma bela experiência gastronómica, daquelas que no final do "primer" já quase que nem apetecia o "segundo"... quase! O dia até então estava a saber-nos tão bem... que tínhamos a certeza que assim continuaria durante a parte da tarde!


Depois da barrigada de (boa) comida, mal sabíamos nós que iríamos apanhar outra barrigada (igualmene boa) de curvas.



Deixámos o restaurante La Campanona, saímos de Villablino e seguimos a estrada junto ao Embalse de Las Rozas, em direção a Ponferrada. Uma valente dosa de curvas rápidas com o excelente tempo que se fazia sentir a ajudar, colocaram-nos novamente com uma excelente boa disposição. Assim que parámos no primeiro cruzamento para reagrupar, estávamos todos ligeiramente eufóricos com o trajeto que tínhamos acabado de fazer! :nice:

Mas como dia de viagem que se preze não se passa sem pelo menos uma peripécia, desta feita foi a minha vez de contribuir para esse peditório. Ao desmontar enquanto esperava que a malta reagrupasse toda, deixei a mota com o descanso lateral mal colocado, e ela resolveu deitar-se um bocadinho como que a descansar das curvas que tinha acabado de fazer... olhei para ela no chão e tive um "dejá vu" de uma viagem anterior, quando num episódio semelhante dei por mim com um seletor partido e a necessidade de o "reconstruir" para poder seguir viagem. Felizmente desta vez o seletor retrátil da SW-Motech que entretanto adquiri, não partiu. Levantei a burra do chão, sacudi-lhe o pó do lombo e toca a andar, que "p'rá frente é que é caminho"!

... julgava eu. Assim que arranquei, percebi que algo se passava. O seletor estava preso em segunda. Procurei uma sombra, encostei e dei novamente largas à minha recém-descoberta veia de mecânico de berma de estrada. Verifiquei que o seletor tinha dobrado ligeiramente e prendia no movimento ascendente. Ocorreu-me desmontar aquilo tudo e trocar uma anilha exterior para a parte interior do pedal, de forma a criar espaço. Aproveitei e reposicionei o peso esquerdo. A manete estava partida na extremidade, mas funcional. Já com tudo operacional, e em pouco mais de 5 minutos estávamos novamente a rolar!



Com o problema do seletor resolvido, o calor e a estrada chamavam-nos. Fomos rolando descontraidamente, até que urgia repor alguns fluidos. Junto a Ponferrada, procurámos um local para descansar e parámos numas bombas de gasolina onde nos refrescámos e descontraímos um pouco.

O Ricardo aproveitou para mimar a sua princesa com uma sombrinha... (há quem diga que tinha medo que os tacos do pneu de trás derretessem)



O Diogo aproveitou para ser o vândalo irresponsável do costume...



O Luís aproveitou para se dedicar à apicultura... (e nesse dia não seria o único)



Houve quem simplesmente fosse mijar ao WC do Marquez...



Repostos fluidos e energias, era tempo de seguir em direção a Viana do Bolo. Retomámos a viagem, e pouco depois o meu GPS trocou-me novamente as voltas, levando-me por uma estrada com vários túneis junto à entrada na Galiza, em vez do caminho que tinha planeado fazer. Ainda assim, não correu mal. Chegados ao cruzamento próximo de Petín, antes de atravessar a ponte sobre o Encoro de San Martino, resolvi proporcionar mais um episódio de entretenimento ao grupo.

Comecei a sentir umas ligeiras picadas no braço, que foram subindo e agudizando, até sentir uma valente ferroada de abelha no ombro. Parei ali em pleno cruzamento, com o grupo todo atrás de mim, e depois de ter explorado a minha vertente de "mecânico de berma de estrada", achei que era altura de enveredar pelo "stripper dos cruzamentos". O ridículo episódio acabou comigo em tronco nu, a barrar a passagem a 11 motas e com o grupo todo a rir-se de mim. O Luís inclusive colocou-se estrategicamente na estrada não fosse surgir a necessidade de parar o trânsito! O pior de tudo... ficou registado em vídeo (um grande bem haja, Pedrosa .|.)!

Depois de mais um momento de entretenimento do dia, e já recuperado da ferroada que levei, reagrupámos e seguimos viagem. A estrada que nos levaria mais a sul, até A Gudiña, foi para muitos a melhor estrada do dia, sobretudo na parte final. O pessoal rodou livremente, ao ritmo que a cada um apetecia, e sabia bem estar na estrada. A paisagem envolvente continuava a ser top, não podíamos pedir muito mais. Em A Gudiña reagrupámos novamente, antes de virar em direção a Pereiro, rumo ao destino final do dia.



Uma vez chegados ao Hotel Restaurante Cazador, fizemos de imediato o checkin e disponibilizaram-nos local para guardar as burras. Ainda era cedo, pelo que combinámos ir reagrupando na esplanada após as devidas banhocas. Assim fizemos. Conforme fomos chegando fomos aviando mais umas cañas, enquanto se ouvia o relato do jogo.



Enquanto esperava pela malta fui dar um giro e ver a envolvente do hotel, que tinha "muy buena pinta".



A hora da janta aproximava-se, pelo que nos fomos acercando do "comedor", onde já nos esperava a nossa mesa. A moral estava muito elevada e sentiamo-nos todos realizados com a viagem que estava agora na sua reta final.



Uma derradeira refeição em Espanha que não ficaria atrás das restantes. Abancámos por debaixo de uma cabeça de "rubia galega", raça bovina da região, cuja carne integrou alguns dos pratos pedidos essa noite.







No final resolvi armar-me em esperto e pedir uma tarte gelada não-sei-do-quê que, julgava eu, era uma cena altamente que a mesa do lado tinha pedido. Uns quantos tansos foram atrás do meu raciocínio falhado, e acabámos todos a comer umas fatias merdosas de vianetta, que ainda assim não foram más o suficiente para estragar o belo jantar.

Juntamo-nos ainda mais um pouco na esplanada exterior. O tempo assim o permitia, e a noite estava agradável. Fizemos uma espécie de "debriefing" dos dias passados, os pontos melhores, os bons, e os a melhorar. Revemos a viagem na nossa cabeça e em grupo. Degustámos (alguns) mais um pouco de whisky e fomos descansar. O dia seguinte ainda teria direito a muitos e bons kms.

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