sábado, setembro 18, 2021

De Lisboa a Cidade Rodrigo - Dia 3/4

O terceiro dia começou tão bem ou melhor que o anterior. O plano original teria algumas alterações mas o Pedro tinha feito o trabalho de casa e preparado a navegação para termos mais um dia top.



No Hostal Extremeño, apesar de não haver café expresso (grande falha), havia na mesma a minha tostada e com extra... presuntinho ibérico do bom.



Mas como o café fazia falta e não queríamos repetir o stress desnecessário relativo à fraca autonomia da minha mota, parámos numas bombas antes de sair de Béjar para tomar cafezinho e abastecer, enquanto as burras cá foram tinham a companhia de um par de cabras de mato.



Não demorámos muito a sair de Béjar e curtir as primeiras curvas do dia, com um tempo ainda mais a jeito que nos dias anteriores. Apesar de todas as previsões menos otimistas, nesse aspeto estávamos a ser bafejados pela sorte.



Neste dia iríamos percorrer caminhos mais familiares de viagens anteriormente feitas por esta zona, pelo que rapidamente reconheci a estrada que nos levava até ao ponto da primeira paragem paisagística do dia: Puerto de Honduras. Esta estrada é qualquer coisa de fenomenal. Um caminho estreito, com zonas muito frescas em que a vegetação literalmente cria túneis por onde nos embrenhamos, parecendo que estamos numa cena digna de um filme. Não arriscámos parar para tirar fotos porque o mais certo era aparecer logo um carro da Guardia Civil e trazermos bilhete premiado. Ainda assim, fica facilmente na memória de quem por ali passa.

Puerto de Honduras, por sua vez, tem muito onde parar, já que dali se pode ver uma paisagem digna de ser mirada.







En el norte de la provincia de Cáceres se sabe que en el momento en el que las nieves hacen su aparición es muy probable que el puerto de Honduras quede cerrado al tráfico.
Este puerto nos proporciona alguna de las vistas más colosales de la zona norte. Une dos grandes valles: el del Ambroz y el del Jerte. Tiene una longitud de ascensión desde uno y otro lado de aproximadamente 17 kilómetros con una pendiente media de 5% bastante mantenida en todo el recorrido. Estas características lo convierten en un puerto muy apreciado por los amantes de la bicicleta.

Fonte: www.turismocaceres.org

Depois de observar a paisagem, começámos a descida em direção ao rio Jerte. Virámos em direção a Plasência e parámos num cafezinho para hidratar. Seguimos mais uns quilómetros pela nacional e antes de chegar a Plasência virámos à direita para percorrer mais uma estradinha secundária até ao apontamento cultural do dia: a cidade romana de Cáparra.







De origen Vetón, la población de Cáparra llegó a convertirse en muncipium de Roma en época de Vespasiano: Municipium Flavium Caparense. De los restos que se conservan destaca su impresionante arco, tetrapylum, el único de sus características en España, que se ha convertido en el símbolo más representativo de la ciudad.

Fonte: www.viajarporextremadura.com

O estado de preservação da cidade é impressionante e a mesma encontra-se no meio de um olival, no qual estava a decorrer a apanha da azeitona. Demos uma voltinha pelo local, batemos mais umas chapas e seguimos caminho, já a pensar no almoço (que nem nos passava pela cabeça o quanto tardaria...). Enquanto percorríamos a margem do embalse de Gabriel y Galán, fizemos uma paragem que se impunha junto à barragem, onde a vista era simplesmente magnífica.







Seguimos caminho e as povoações eram cada vez mais escassas e distantes umas das outras, assim como os possíveis locais para almoçar. Ainda parámos num spot com grande pinta em Vegas de Coria, o restaurante do Hotel Rural Los Angeles, mas infelizmente não tinham vaga para nós, a não ser que esperássemos até às 15h30. Fomos andando... e andando... e andando... e lá demos com um restaurante com uma catrefada de motas estacionadas à porta, pelo que pensámos: é mesmo aqui! O sítio era bonito, ficava junto à margem de um rio, tinha uma esplanada agradável, mas mal sabíamos na cegada que nos estávamos a meter...





O restaurante chamava-se Riomalo El Mulero, e também ali não havia vaga para nós, a não ser que esperássemos um pouco... como já eram quase 15h00, resolvemos ficar por ali e aguentar a bomboca enquanto mandávamos abaixo umas cañas. Sentámo-nos finalmente às 15h30 mas tudo naquele almoço tardava a acontecer. Eram quase 17h00 quando finalmente demos o almoço mais ou menos por terminado. Tive de chamar o empregado e disse-lhe: "perdona, pero estamos con prisa!". Por muito que gostemos de gastronomia e copofonia, estávamos ali para andar de mota e a estrada chamava por nós. Bebemos os cafés, pagámos a conta e seguimos até à próxima paragem que era mesmo ali ao lado: o Meandro del Melero.







Si hay una imagen que identifica y representa el norte de la provincia de Cáceres esa es la del meandro El Melero. En el límite oriental de la sierra de Gata, dentro de la comarca de las Hurdes y dibujando la frontera entre Cáceres y Salamanca, podemos observar este espectacular meandro que forma el río Alagón.

Fonte: www.turismocaceres.org

As fotos fazem pouca justiça ao local, que é simplesmente espetacular de se ver. O próprio miradouro está numa envolvente fantástica e o caminho para chegar lá é igualmente interessante de se percorrer.

Regressámos ao cruzamento onde ficava o restaurante que nos proporcionou a seca do dia e seguimos viagem retomando a estrada que de seguida nos levaria até Las Batuecas, passando por La Alberca, zonas já familiares inseridas na Sierra de Francia.



Um labirinto de montanhas e de vales intrincados conformam o Parque Natural de Las Batuecas – Serra de França. A sua posição estratégica, entre as duas mesetas, transformou-o num singular corredor de comunicação biológica.
Pelo seu elevado valor ambiental foi declarado, em 2006, Reserva da Biosfera (juntamente com a serra de Béjar) e dois anos depois foi incluído na Carta Europeia de Turismo Sustentável.

Fonte: www.salamancaemocion.es

Fizemos ainda uma paragem no miradouro de El Portillo, mas já tinhamos em vista o próximo ponto de paragem que sabíamos seria o mais espetacular do dia.



A seguinte e última paragem do dia, antes de rumar a Cidade Rodrigo, seria o santuário de Nossa Senhora da Peña de Francia. O dia já ía longo e o fresco fez-se sentir e bem na subida da serra até ao santuário. Quando chegámos lá, deparámo-nos com uma confusão das mais capazes. Um qualquer evento motard que reunia dezenas de Ducati, com ducatistas equipados a rigor com blusões da Ducati, calças da Ducati e, desconfio eu, cuecas da Ducati.





Confusão no estacionamento, confusão no santuário, até que finalmente deram à soleta e nos deixaram apreciar a vista como deve ser.













Ao chegar à Serra de França, o viajante distingue rapidamente o inconfundível perfil deste maciço rochoso de 1.723 metros de altura.
No alto, eleva-se um santuário dominicano que acolhe a Virgem Morena, padroeira da província salmantina. Uma hospedaria e vários miradouros completam o conjunto.
O topónimo França está relacionado com o repovoamento medieval destas paragens com gentes vindas de terras longínquas. Segundo a lenda, foi um estudante francês, Simón Vela, quem encontrou numa gruta a figura da Virgem em 1434. Em sua homenagem, celebra-se uma romaria no dia 8 de Setembro.
Uma estrada sinuosa conduz-nos até ao ponto mais alto, deixando para trás parcelas de carvalhos e pinheiros. Recomenda-se subir e contemplar a paisagem, num horizonte de perder de vista até encontrar as terras extremenhas. Pelo caminho, não é estranho encontrar exemplares de cabras montesas que tomam conta da zona.

Fonte: www.salamancaemocion.es

Para além de admirar a paisagem, há que admirar as burras que nos trouxeram até ali. Como se costuma dizer, se não olhas para trás quando a estacionas, não tens a mota certa...







Saindo dali até Cidade Rodrigo, a viagem não teve grande história. A temperatura subiu quando a altitude baixou e já sentíamos vontade de chegar ao nosso alojamento e relaxar. O sol de frente e a javardice de bicharada morta nos capacetes mal nos deixava ver o caminho. Quando finalmente chegámos a Cidade Rodrigo, deparámo-nos com cavalos e charretes que percorriam as estreitas ruas da zona histórica da cidade, onde ficava o nosso alojamento, resultado de uma feira equestre que estava a terminar. Lá conseguimos chegar ao alojamento, o hostal Puerta del Sol, mais uma vez com excelente localização, mesmo no centro da cidade. No mesmo local estavam alojados mais uns quantos tugas (esta espécie está sempre em todo o lado), pelo que acrescentámos as nossas burras ao tetris de motas que estava na rua, quase à porta do hostal.



Banhinho da praxe e ala que se faz tarde para jantar. Fomos atrás de uma recomendação que nos deram no alojamento, mas a coisa estava agreste em termos de disponibilidade. Valeu-nos o conhecimento prévio de um spot espetacular por parte do Pedro, o restaurante D'Moran, onde nos arranjaram uma mesinha discreta que nos permitiu saborear mais um grande jantar.





Lá pedimos a vinhaça da praxe, desta feita um tinto El Ilusionista, para acompanhar um solomillo e um carpaccio que serviram para desenjoar do almoço tardio. Para quem começa a achar que isto de andarmos sempre os dois juntos é suspeito, que fique bem claro que no fim... pedimos o Divórcio! :D





Depois da jantarada era tempo de fazermos a caminhada da praxe para ver a cidade, que é igualmente bonita à noite e procurar um spot porreiro para beber mais uns copos enquanto a conversa não se esgota.



Ficámos agradavelmente surpreendidos, porque claramente em Espanha o desconfinamento já está uns níveis valentes à frente do nosso. Sentimos isso quando demos por nós a acotovelarmo-nos para conseguir chegar ao balcão de um bar. Pedimos uns whiskys, voltámos para a explanada e enquanto observávamos a fauna (sem ser daquela que se atravessa à nossa frente na estrada), comentámos que se regressássemos a Portugal com covid, já sabíamos onde o tínhamos apanhado...



Ainda demos mais uma volta e descobrimos uma rua ao bom estilo do Bairro Alto, onde demos o último aconchego copofónico no bar El Samu.



Este bar é um spot difícil de descrever, em que o dono (pelas fotos expostas na parede) será personalidade importante do mundo das touradas, e observa por detrás do balcão enquanto duas miúdas dançam sozinhas no meio do bar... Tecemos uma série de teorias da conspiração sobre o que por ali se passava, enquanto terminávamos a copofonia dessa noite, para logo depois regressar ao hostal e descansar.

O dia seguinte seria o final, mas ainda tínhamos muito que ver e alguns kms a percorrer.

1 comentário:

mãe disse...

Maravilha filho…
Já viajei contigo
Beijinhos da mãe