sexta-feira, setembro 17, 2021

De Lisboa a Cidade Rodrigo - Dia 2/4

O plano para o segundo dia contemplava estradas e paisagem ainda mais ao nosso gosto, pelo que apesar de não termos uma grande quantidade de kms pela frente, levantámo-nos naturalmente cedo para nos fazermos à estrada. O plano original era mais ou menos assim:



Antes de sairmos, tomámos o pequeno almoço na esplanada mesmo em frente ao hotel enquanto apanhávamos os primeiros raios de sol da manhã. Quanto ao pequeno almoço propriamente dito, aproveitei o facto de estar em Espanha para comer algo que gosto muito e normalmente não tenho oportunidade de saborear por cá: a tradicional tostada com tomate e azeite.



Cafezinho tomado, albardámos as burras e seguimos viagem. Iríamos percorrer caminhos retorcidos e estradinhas municipais, até passar a fronteira entre as terras de Castela-Mancha e Castela e Leão. O primeiro "code brown" do dia foi novamente do Pedro, quando um javali de envergadura respeitável atravessou a estrada a correr apenas a escassos centímetros da roda da frente da XR... mais uma aventura de Pedro e a fauna!



Já mais à frente e embrenhados numa estradinha estreita em plena serra, o meu inútil e incómodo de transportar equipamento de chuva resolveu ganhar asas e saltar da mota em andamento. Até aqui nada de especial, pois rapidamente me apercebi da situação e voltei atrás para ir apanhar o dito. O pior foi quando apareceu a guardia civil (parece que lhes cheira sempre a oportunidade...) e começou a implicar pelo facto de estarmos ali parados e a estrada ser estreita e o raio que os parta. O Pedro lá explicou a situação enquanto eu amarrava novamente o equipamento na traseira da mota, os tipos olharam um para o outro, hesitaram mas lá decidiram borrifar-se em nós e seguiram viagem.





Já com a burra albardada em condições, chamámos mais uns nomes à Guardia Civil e continuámos a fazer curvinhas até à paragem seguinte, para admirar a vista em Puerto de Mijares.









El puerto de Mijares es, junto con Serranillos, uno de los "gigantes" de Gredos. Imponente, dominador, larguísimo, de una belleza indiscutible, la vertiente sur puede realizarse desde varios lugares que confluirán en el pueblo que da nombre al puerto: Mijares. He optado por aquella que no atraviesa ningún pueblo, la de la AV-P-705, con los números más duros (tras haberlas catado todas). Un puerto gigantesco que empieza por debajo de los 500 metros de altitud y se va por encima de los 1550, acumulando por tanto un desnivel de más de 1000 metros...

Fonte: www.39x28altimetrias.com

Depois de Puerto de Mijares, fizemos também a obrigatória paragem em Puerto de Serranillos, onde a vista não era menos imponente.









Por esta altura tinha já uma ligeira preocupação logística, uma vez que não tinha ainda abastecido e a autonomia anunciada da minha amostra de depósito era inferior à distância até à bomba mais próxima... Como o que não tem remédio remediado está, fomos andando. A autonomia chegou ao 0 e assim continuou durante uns bons 30 kms, até finalmente pararmos numas bombas de gasolina já em Mombeltrán, sob o olhar atento de mais uns elementos da Guardia Civil que por ali faziam uma espera a algum desgraçado que asneirasse qualquer coisa.

Bebemos mais um cafezinho, observámos a serra imponente ali mesmo ao lado e trocámos umas palavras com um "motero" que resolveu meter conversa e já se estava a colar para nos acompanhar nos kms seguintes. Como bons camaradas motociclistas que somos, fizemos de conta que não tínhamos entendido o gajo e seguimos na direção oposta à que lhe dissemos que seguiríamos, só para o baralhar (na realidade foi o Pedro que se enganou na navegação, mas o resultado prático foi o mesmo).

A estrada que se seguiu era só qualquer coisa de espetacular. Além da fenomenal paisagem, alcatrãozinho do bom e curvas rápidas, pelo que não tardámos muito a chegar ao destino seguinte: a Plataforma de Gredos.









A plataforma de Gredos é considerada por muitos como o ponto de acesso principal à serra de Gredos, e à zona do Pico Almanzor. Pelo menos, é um dos pontos mais visitados e frequentados, seja pelos montanhistas ou turistas. Acede-se à plataforma (que não deixa de ser uma parte de asfalto onde deixar o carro estacionado) através do município de Hoyos del Espino, por uma estrada que vai ganhando altura pouco a pouco, até chegar a, mais ou menos, 1800 metros de altitude.

Fonte: www.minube.pt

Este sítio é qualquer coisa de espetacular, difícil até de descrever. A mistura da paisagem árida, com rios, animais no pasto, rochas de onde brotam nascentes. Uma mistura meio surreal que nos dava vontade de conhecer em maior detalhe. No entanto, valores mais altos se levantavam, nomeadamente um: o almoço. Regressámos pelo mesmo caminho e, meia dúzia de kms depois, parámos num pequeno restaurante vazio, o La Galana, onde mais uma vez a experiência gastronómica não nos correu nada mal. Umas cañazinhas para abrir o apetite, e uns bons bifes que nos souberam pela vida.





Estávamos à vontade com o tempo para percorrer a distância que nos separava de Béjar, mas a vontade e o tempo solarengo eram os ingredientes certos para nos fazer querer rolar mais. Pegámos novamente nas motas para curtir outra barrigada de curvas e antes de nos dirigirmos ao destino final, fizemos um desvio até à estância de ski de Béjar Covatilla.





O Pedro tinha estrategicamente marcado este ponto no mapa, que valeu a pena não só pelo local em si, como por um mini stelvio que fizemos no caminho até lá (e de volta).





Estávamos já perto de Béjar, pelo que os kms seguintes até ao nosso local de pernoita não demoraram muito tempo a percorrer. O Hostal Extremeño, mais uma vez mesmo no centro de Béjar, a poucos metros da Plaza Mayor. Enquanto aparcávamos as motas o Pedro resolveu dedicar-se à apicultura e levar uma ferroadela de uma abelha. Aliás, sempre que parávamos as motas, talvez cortesia do genocídio de todo o tipo de bicharada que as mesmas traziam, imediatamente instalava-se um enxame de abelhas e vespas à volta delas...

Depois de nos instalarmos, demos logo início à nossa caminhada diária para explorar as redondezas. Fomos até à plaza mayor onde tentámos beber uma caña no restaurante Abrasador. No entanto, o restaurante estava a terminar de servir os últimos almoços (afinal, pouco passava das 17h da tarde...) por isso iria fechar, para só reabrir mais tarde.



Fomos então na direção oposta até à zona mais comercial onde havia mais oferta. Bebemos o que seriam as cañas mais caras da nossa viagem (sem direito a acompanhamento) numa esplanada do café Pavon. Depois de mais umas voltas dadas em Béjar, resolvemos ignorar as recomendações para jantar que nos deram no hostal e fomos em busca de um restaurante que tínhamos pesquisado e nos parecia ter boa pinta, o Mesón El Bosque.

Como sempre e o mais importante: começamos pela copofonia (afinal, ainda tínhamos créditos para gastar). Seguindo a recomendação da simpática senhora que nos atendeu, pedimos uma garrafa de Garcibuey de Perahigos, um vinho da região de Castela e Leão, que correspondeu às expectativas.





Depois do jantar admito que ficámos um bocado enjoados com a carne de porco frita, pelo que se impunha um digestivo. Fomos à procura de um bar para dar continuidade à conversa que não despegava, aproveitando para pedir uma aguardente. O "nuestro hermano" perguntou: Reserva? Ao que nós respondemos: Sim, sim, pode ser. Mal demos por isso tínhamos dois balões em cima da mesa com uma merda que pela cor mais parecia mijo radioactivo.



Corajosos que somos, provamos o que se revelou uma zurrapa que devia ser uma mistura de anis com outra coisa qualquer que não conseguimos identificar. Incapazes de beber aquilo, optámos por jogar pelo seguro e pedimos whisky... o empregado ficou ligeiramente ofendido por não gostarmos daquela especialidade fluorescente, mas lá nos trocou as bebidas, que nos acompanhariam no resto da noite.

Conversa puxa conversa e quando olhamos para o lado, está o empregado a verter o conteúdo dos copos que recusámos, de volta para dentro da garrafa sem rótulo de onde o tinha tirado. É caso para dizer "safoda o covid e outras maleitas contagiosas"...

A conversa seguia longa como de costume, mas era tempo de ir descansar, pelo que pagámos os whiskys (o empregado teve a amabilidade de não nos cobrar o mijo fluorescente que verteu de novo para dentro da garrafa), e fomos descansar. O plano para o dia seguinte prometia

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