segunda-feira, setembro 19, 2016

Vindimas 2016

Este fim-de-semana foi dedicado à vindima, uma tradição que tenho conseguido cumprir ao longo dos anos com alguma regularidade. Várias coisas me fazem desejar e ansiar por esta altura do ano. Em parte relacionadas com alguma nostalgia e boas memórias de quando muito cedo, ainda em pequenino, participava ou simplesmente assistia a toda a azáfama e alegria relacionada com este evento. Por outro lado, porque é algo que - ainda que fisicamente exigente - me deixa sempre descansado mentalmente. Foram dois dias onde nem o telemóvel deixei ligado. Foram dois dias em que só tinha de pensar onde colher cachos, onde os descarregar e para onde os espremer. Simples. Quer dizer, tirando a parte de andar a "pastorar" duas crianças irrequietas pelo meio, mas isso já faz parte. No final deste fim-de-semana, o sentimento do trabalho feito e do dever cumprido. Agora resta aguardar que o vinho (o tinto e o branco) fermente para se tirar das dornas e armazenar no devido lugar, à espera de ser sorvido com muito gosto, ao longo do ano. 

sexta-feira, setembro 16, 2016

Terceiro Passo de um Caminho Mais Longo (3/3)

3º dia: Serpa - Lisboa (Regresso a Casa)



O descanso que a "Casa da Muralha" em Serpa nos proporcionou foi 5 estrelas. Assim como o foi o pequeno almoço que nos esperava, preparado pela amistosa D. Helena, sempre pronta a dar dois dedos de conversa no seu tom cantado alentejano. Ficámos a saber que aquele alojamento não era dela, mas sim de uma pessoa do norte, que depois de ter desistido de viver só daquele negócio, depositou naquela simpática senhora a confiança de o manter. O queijo com doce, as fatias de pão alentejano e o sumo de laranja seguidos de um café, antecederam os cuidados com as burras, entre os quais verificação de níveis e lubrificação de correntes. Burros e burras a postos, lá nos despedimos e seguimos viagem.




Os quilómetros que percorremos, passando por Pias até chegar a Mourão, foram absolutamente fantásticos. Uma estrada com curvas pouco acentuadas e uma visibilidade sobre a planície alentejana, intercaladas com passagens sobre o Alqueva, foram simplesmente refrescantes e tiveram um efeito regenerador! Como não podia deixar de ser, tínhamos de parar na mítica Aldeia da Luz, onde nos dirigimos ao museu para descobrir mais um pouco sobre aquela localização. Já lá tinha ido algumas vezes, mas nunca tinha visto a informação acerca do processo de preservação das ruínas de um castelo, que se encontra também submerso naquela barragem, à imagem e semelhança da antiga aldeia. A quem quiser visitar o museu, recomenda-se que vá de manhã, já que durante esse período a visita não é paga.




Visto o museu, mais uma passagem pelo empedrado da versão "geométrica" da Aldeia da Luz, no regresso ao caminho pela N265. O próximo destino era Monsaraz, e a estrada até lá manteve as mesmas caraterísticas do percurso anterior. Uma vez chegados a Monsaraz, a subida obrigatória ao castelo, onde havia festa. Um passeio pelo interior das muralhas, visitando a igreja e o recinto das festas, onde apesar dos toiros ainda não darem sinal de vida, já havia muita gente a fazer o aquecimento para a garraiada. Observámos a vista fenomenal que ali se tem sobre o Alqueva e aproveitámos para reidratação, já que o calor começava de novo a apertar (ou não estivessemos em pleno Alentejo).





Depois de sair de Monsaraz, que ficou a pedir nova visita com mais tempo, seguimos rumo a Vila Viçosa. Chegados a Vila Viçosa, que também estava em festa, contornámos o rebuliço e dirigimo-nos ao paço ducal, passando primeiro pelo castelo. Deixámos as burras numa sombra junto ao paço e aproveitámos mais alguns momentos para reportagem fotográfica, sobre aquela construção imponente a evidenciar uma fachada de 150 metros revestida a mármore da região. Não visitámos o palácio porque sendo visita guiada, levaria mais tempo do que o desejável, além do custo de 6 euros (que ainda assim na minha opinião e em resultado de visitas anteriores, é justificável). Fomos assim em busca de restaurante ali perto, tendo encontrado o "Safari", um estabelecimento que por ali existe desde a década de 50 onde se pode apreciar a gastronomia da região. Mais uma excelente escolha, como se viria a constatar pelo bife e pelos secretos de porco preto que nos serviriam numas telhas. Forrado o estômago, já se fazia sentir uma espécie de nostalgia pelo final do percurso se estar a aproximar.






Depois de Vila Viçosa o restante percurso já não apresentava grande novidade. Seguimos em direção a Évora, apenas para uma breve paragem na praça do Giraldo tendo em vista a hidratação. O movimento do costume naquela linda praça, debaixo de um sol e uma brisa igualmente quentes. A constatação de que o almoço que ainda estávamos a digerir, não nos permitiria comer uma bifana daí a nada, tal como tínhamos planeado, quando chegássemos a Vendas Novas.




Depois de partir de Évora, nova paragem numa esplanada mesmo em frente à Escola de Artilharia de Vendas Novas, onde tivemos de nos hidratar novamente. O calor, o trânsito da nacional e algum cansaço estavam a ser agressivos, pelo que umas minis seriam o medicamento ideal. Tempo de ligar para casa a avisar que daí a nada estaríamos a chegar, e lá nos fizemos ao caminho em direção à Póvoa de Santa Iria, fazendo a travessia sobre o tejo em Vila Franca de Xira.



Paragem na zona ribeirinha para a hidratação final da viagem, com direito a gin tónico e a retrospetiva dos espetaculares 3 dias que tínhamos acabado de viver.




A ver se começo já a planear a próxima...

quarta-feira, setembro 14, 2016

Terceiro Passo de um Caminho Mais Longo (2/3)

2º dia: Odeceixe - Serpa (Fuga do Algarve para o Alentejo)



De manhã é que se começa o dia, por isso lá nos levantámos cedo de forma a poder tomar o pequeno almoço à hora marcada, porque sabíamos que às 10h00... "FINITO!". Cruzámo-nos com as alemãs do dia anterior que apresentavam uma cara de ressaca valente, e tomámos um pequeno almoço que valia mais do que o alojamento onde tínhamos ficado. Partimos assim de Odeceixe em direção a Sagres, percorrendo agora o caminho junto à costa.




Uma vez chegados a Sagres, hesitámos pagar os 3 euros que nos dariam acesso ao interior da fortaleza. Isto em parte porque algo que não se pagava antes, paga-se agora, sem se ver obras de beneficiação alguma à vista. À boa maneira portuguesa. Ainda assim lá fomos ver as vistas, que impressionam sempre quem por ali se queda a observar o mar e as falésias durante algum tempo.




Depois de passarmos mais tempo do que tínhamos previsto a passear em Sagres, voltámos ao nosso caminho, seguindo pela N125 até à praia do Alvor, onde parámos novamente para o descanso das burras e hidratação dos burros. Durante a conversa junto à praia comentámos que os quilómetros que já tínhamos feito, e sobretudo os que tencionávamos fazer na N125 se adivinhavam miseráveis. Estando longe de ser uma estrada com um trajeto agradável resolvemos atalhar caminho e aproveitámos para esticar as pernas às burras na A22 até São Brás de Alportel, local a partir do qual daríamos início a mais um dos nossos objetivos da viagem: percorrer o troço da N2 até Almodôvar.




À chegada a São Brás de Alportel, encostamos para falar com um autóctone relativamente a recomendação de local para almoçar. O prestável senhor lá nos indicou o restaurante "União", que vislumbrámos rapidamente, tendo estacionado as burras o mais perto possível. Nariz na porta do restaurante, estava fechado (e ainda bem). Atravessámos a praça e demos com outro restaurante, o "Tapas Bar", que se revelou uma agradável surpresa! Um espaço com um ambiente magnífico, uma bela esplanada onde ficaríamos a degustar um bife pimenta e um franguinho no churrasco, regados com umas Bohemias bem frescas. A despedida do dono do restaurante com um "boas curvas!" deu seguimento a uma das partes mais desejadas do percurso do dia: a N2!




Percorridos cerca de 60 quilómetros de curvas de uma assentada só na N2, eis que chegamos a Almodôvar, completamente desidratados com o calor que se fazia sentir mas com um valente sorriso nos lábios. Parámos num café de caçadores. Como as mentiras dos caçadores são ainda maiores que a dos motards, resolvemos ficar na esplanada, a recuperar da estirada que tínhamos acabado de fazer e à espera que os pneus das burras regressassem do estado líquido ao estado sólido. Tempo de ver uma singular estátua em homenagem aos bombeiros, bem como uma ponte romana onde fizemos questão de passar, antes de seguir caminho em direção a Mértola.




Mais uns quilómetros debaixo de calor intenso até Mértola, onde ficámos sem respiração ao desfazer uma curva e ver a imagem magnífica do afluente do Guadiana, da ponte que o atravessa e do castelo, junto à entrada da terra. Na tentativa de enfiar as burras dentro do castelo, subimos um empedrado impróprio para consumo, quer em termos de piso quer em termos de inclinação, que teríamos de descer logo de seguida já que não nos levava a lado nenhum. Acabámos por parar na encosta do castelo a ver aquele cenário magnífico envolvente e a tirar umas mais que justificadas fotos daquele local.




Uma vez que já estávamos ali, em pleno Vale do Guadiana, e tendo já visitado Mértola, resolvemos visitar também as minas de São Domingos. Este local não fazia parte do percurso inicial, mas ocorreu-nos durante a visita às minas do Lousal, também por nunca o termos visitado. À chegada, a descoberta de uma praia fluvial absolutamente fantástica, logo seguida das antigas instalações da mina, também dignas de cenários de filmes. O calor continuava a apertar, por isso foi tempo de nova hidratação após a visita às minas, antes de seguir viagem até ao destino final do dia: Serpa.




Continuámos a percorrer a N265 agora em direção a norte, percorrendo os quilómetros que faltavam até Serpa, local onde iríamos pernoitar. Assim que chegámos, foi tempo de procurar o alojamento local "Casa da Muralha", que descobrimos com relativa facilidade já que se encontrava "colado" à muralha de Serpa. À chegada novo sentimento que a coisa ía correr mal, já que mais uma vez demos com uma porta fechada. Ligo para o contacto que me atende com um seco "Tou?", indicando depois que como "não estava ali" iria ligar a alguém. Sentimento de "dejá vu"... logo de seguida eliminado pela simpatia da D. Helena, que nos abriu a porta com um sorriso na cara e nos deixou entrar naquilo que seria um pedacinho de céu. Um alojamento local magnífico, com um quintal cheio de vegetação com a muralha de um lado, a casa principal do outro e quartos anexos em redor. Mal a senhora se apercebeu que viajávamos de mota, disse-nos para trazermos as burras para dentro de casa, onde também elas pernoitariam confortavelmente (tal como nós).




Alguns minutos de descanso, e saímos em busca de local para jantar. Recomendado que nos foi o restaurante "Molh'Ó Bico", que boa sugestão se revelou. Uma espetada de novilho e um gaspacho com carapauzinhos fritos encheram-nos os estômago de tal forma, que passámos as horas seguintes a passear pelas ruas e esplanadas de Serpa, descobrindo os recantos magníficos daquela terra, onde toda a gente vem para a rua conviver e conversar durante aquelas (poucas) horas de fresco do início da noite.




Regresso à "Casa da Muralha" para o descanso que se impunha, antes do que seria o derradeiro dia do nosso passeio...

terça-feira, setembro 13, 2016

Terceiro Passo de um Caminho Mais Longo (1/3)

Há apenas algumas semanas atrás, de uma simples conversa de café entre dois amigos motards, surgiu a perceção de um objetivo comum. Juntaram-se assim duas vontades de conhecer alguns locais mais a sul, e em pouco tempo estávamos a organizar o percurso e a tratar dos preparativos. Optámos por fugir a alguns destinos mais comuns que considerámos inicialmente, como alguns pontos específicos da costa alentejana ou terras que já conhecíamos e preferimos definir um trajeto por zonas menos conhecidas de ambos, incluindo um roteiro junto ao rio Sado, bem como uma parte da N2 entre o Algarve e o Alentejo. Em menos de um mês tínhamos a viagem planeada e o alojamento tratado. As montadas: uma BMW F800R (de "moi même") e uma Suzuki GSR600. A viagem dividiu-se em 3 dias, sendo que no primeiro o percurso foi feito entre Lisboa e Odeceixe, o segundo entre Odeceixe e Serpa (pelo Algarve) e o terceiro partindo de Serpa rumo a Lisboa. Como sem crónica e sem fotos, o passeio não existe, deixo aqui o relato destes 3 dias de viagem.

1º dia: Lisboa - Odeceixe (Roteiro do Sado)




Começou assim a aventura num ponto de encontro habitual de outras voltas - bombas da Galp da 2ª circular - para dar início à viagem percorrendo os poucos quilómetros de autoestrada que iríamos fazer e que se resumiram à ponte Vasco da Gama e A33 em direção a Setúbal. Aí iríamos apanhar o Ferry em direção a Tróia, ponto a partir do qual começaria a viagem a sério. Esticadas as pernas às burras, lá aguardámos pela nossa vez de fazer a travessia.



Uma vez em Tróia seguimos alguns quilómetros em direção à Comporta, virando depois para a Carrasqueira, onde se impunha a visita ao cais palafítico que nenhum de nós conhecia mas já tínhamos ouvido falar. Uma paisagem sem dúvida muito bonita e invulgar onde vale a pena ir e conhecer. Nota: há por lá uns restaurantes a caminho do cais que têm muito bom aspeto, e podem ser um complemento a um passeio de fim-de-semana a organizar.





Após algum TT feito pelo meio dos arrozais com os pneus errados, regressámos à estrada em direção a Alcácer do Sal, onde parámos para descansar as burras e dar de beber aos burros. Depois de recuperar era novamente tempo de nos fazermos à estrada, para ir em busca do que seria um excelente almoço no restaurante "O Besugo", localizado no Torrão, com direito a um bife e uma costeleta de novilho tamanho XL que praticamente se cortavam com as costas da faca. Antes foi tempo ainda de parar na barragem de Vale do Gaio e observar a espetacular paisagem onde a frescura do Sado se contrapõe com a aridez circundante.





Depois de recuperadas as forças no Torrão, seguimos para sul até Ferreira do Alentejo (com uma paragem pelo meio na barragem de Odivelas) e depois em direção ao Lousal, onde visitámos as minas abandonadas. Este local é digno de cenários de filmes, e impressiona assim que nos deparamos com ele de repente à saída de uma curva. A ver, as várias ruínas que compunham o complexo e as duas lagoas, uma de cor verde e outra de cor vermelha (devido aos resíduos ácidos). Nova paragem para descansar as burras, hidratar os burros e visitar o local. Estas minas foram geridas por Frédéric Velge durante as décadas de 60/70. No local existe um museu que conta a história deste homem e do que fez pela terra e pelos mineiros (e suas famílias) que ali trabalhavam.





Seguimos depois viagem em direção a Ourique, onde parámos apenas para beber umas minis em frente ao local de eleição de muitos para os almoços das viagens a caminho da concentração de Faro. Mudança de direção para oeste, parando na barragem do Monte da Rocha, nova paisagem deslumbrante e alguns minutos para descanso no meio dos sons do silêncio. Como o sol começava a dar sinais de querer desaparecer, decidimos rumar em direção ao nosso destino final do dia: Odeceixe.




Chegados a Odeceixe, antes de pararmos na vila seguimos diretos à praia. A vista da praia a partir do miradouro foi uma forma excelente de terminar a viagem, acompanhada de banda sonora já que havia festa no areal. Os quilómetros percorridos faziam-se sentir, por isso fomos ver do nosso alojamento, que se revelaria a última aventura do dia.



Depois de chegar à hospedaria D. Maria, deparámos-nos com um edifício decrépito e com ar de abandonado, que em nada se parecia com as fotos do local aprazível que tínhamos visto na net... Após várias tentativas de contacto para o número que tínhamos (sem sucesso) e de começarmos a ter dúvidas se o dito alojamento ainda estaria a funcionar, lá nos atendeu o Sr. Silvério que nos encaminhou para o restaurante em frente, onde a senhora que dá nome à hospedaria viria ter connosco para então nos fazer o "check-in". Depois de atender um par de alemãs, indicando-lhes que "pequeno almoço... 9h... 10h... depois... finito" (uma verdadeira poliglota), lá nos orientou a nós com maior facilidade. Largámos os tarecos, refrescámos-nos e fomos ver da janta. Escolhemos o restaurante que tinha menos gente - o restaurante "Retiro do Adelino" - onde bebemos um verde bem fresco e comemos um arroz de marisco fenomenal que incluía camarões, pernas de sapateira, ameijoas... acho que o que menos tinha era mesmo arroz! Depois de rever o percurso do dia seguinte foi tempo de passear pela vila, beber mais uns copos e ir descansar.



O segundo e terceiro dias estavam ainda para vir...