segunda-feira, setembro 29, 2014

Sono dos Justos

O Alexandre adormeceu há pouco. Fui deitá-lo, tarefa que realizo numa base diária, partilhada com a mãe ou os avós. Se quando o Alex era pequeno, esta me parecia uma tarefa que se revelaria dura no futuro (pensar em estar ali 10, 20 minutos ou o tempo que fosse preciso com ele, até que adormecesse), hoje em dia é algo por que anseio todos os dias, que aprendi a apreciar e que vejo como algo muito compensador. Outros pais que me leiam agora podem achar que eu sou maluco, sobretudo por deitar o meu filho e esperar que adormeça, numa base diária, há quase 5 anos. Mas se virem as coisas sob a minha perspetiva, podem acabar por me dar alguma razão. O porquê de considerar esta situação compensadora? Os fatores são tantos que nem sei ao certo por onde começar... Em primeiro lugar, o fato de o meu filho se sentir confiante e descansado por me ter a seu lado enquanto adormece, é uma demonstração do elo que une um filho a um pai de forma inexplicável. Depois, o fato de poder - até naqueles dias mais caóticos - passar alguns minutos 100% dedicado a ele, mesmo quando parece faltar tempo para tudo (quantos pais podem dizer ter estes momentos com os seus filhos todos os dias?). Poder contar-lhe uma história... falar com ele sobre como correu o seu dia... fazer-lhe cócegas... ouvi-lo a rir à gargalhada... abraçá-lo, ser abraçado por ele e ouvir a sua respiração tornar-se mais pesada enquanto adormece num sono profundo apenas digno dos anjos. E quando acorda a meio da noite porque sonhou com algo, apresso-me igualmente a ir ter com ele, para lhe restituir aquele mesmo conforto com que adormeceu... para que saiba que estarei sempre a seu lado... para que saiba que pode contar comigo, mesmo quando tudo parecer escuro à sua volta, mesmo quando julga estar só. Há cinco anos que deito o meu filho e vivo uma das melhores partes do meu dia nesse instante... nesses 10 ou 15 minutos. No dia em que o meu filho disser que não preciso de me deitar a seu lado até que adormeça... no dia em que o meu filho disser que já não é preciso contar-lhe uma história (de um livro ou inventada - são as melhores)... no dia em que o meu filho recusar o meu abraço ou não achar piada às minhas cocegas... vou sentir um misto de emoções. Vou sentir orgulho por estar a crescer... por estar a tornar-se um homem... por estar a seguir o seu caminho. Mas vou também sentir uma tristeza indescritível porque vou sentir que tiraram uma parte de mim. No entanto, vou deixar sempre claro que, tenha 5, 10, 20 ou 50 anos... quando a noite parecer mais escura e o quarto parecer mais vazio, bastará chamar-me para que eu esteja lá.

2 comentários:

ACCM disse...

Não me expressaria melhor, pelo que faço minhas as tuas palavras.
Mil beijos e abraços
Pai

Marco disse...

Nem de propósito...

Update da 1h da manhã: pai... pai... tenho a perna dormente.

Update das 4h da manhã: mãe... mãe... tenho sede.

Foi mais ou menos assim esta noite. :)