sexta-feira, junho 02, 2006

Gostava...

Passou outro dia da criança, e cada vez mais sinto saudades de ser puto. Ando um bocado saudosista, talvez resultado de um sentimento de tristeza recente que me vai apoquentando, ainda que sem grandes estragos, sobretudo quando estou sozinho com os meus pensamentos. O que é um facto é que a grande maioria das pessoas só cresce para ter de lidar com as tretas que a vida insiste em nos dar, tornando cada vez mais escassos os bons momentos (ainda que por vezes de melhor qualidade - ou não). Felizmente só me lembro de coisas boas da minha infância. Numa altura em que se fala tanto da violência para com as crianças, em casa e na escola, posso dizer que os meus pais nunca me tocaram e afirmam até hoje que nunca sentiram ser preciso. Por isso e por todo o carinho e atenção que sempre me dispensaram, sinto cada vez mais a vontade de viajar no tempo e reviver aquele conforto de uma protecção que se sente quando somos pequenos e indefesos perante tudo e todos. Pequenas atenções, palavras, o próprio tom da voz enquanto falavam comigo e eu adormecia, ou quando me explicavam as diferenças entre o que é certo e o que é errado, incutia uma calma e uma cor a todos os pequenos acontecimentos, que assim ganhavam forma de perdurar no tempo para todo o sempre. Gostava de ser puto outra vez e não ter a vontade que tinha de crescer. Talvez assim o tempo passasse mais devagar para que eu o pudesse saborear melhor. Absorver aquelas cores, sons, odores, sentimentos... absorver as palavras ditas e as não ditas... e sonhar apenas com o próprio dia sem pensar no dia de amanhã. Gostava de ser puto outra vez para viver a parte importante da vida e não ter de me preocupar com algumas coisas que não devia merecer preocupação. Confortam-me assim o amor e amizade que me rodeiam e que felizmente não deixaram de existir ainda que com contornos diferentes, fruto de um passar do tempo cuja inevitabilidade apenas faz crescer o sentimento de saudade que dá origem a estas palavras que brotam da minha mente. Gostava de ser puto outra vez...

5 comentários:

Eilahtan Dreams disse...

Uma lágrima por cima de um sorriso e um passado sempre presente no futuro...

Anónimo disse...

"É preciso correr riscos, seguir certos caminhos e abandonar outros. Nenhuma pessoa é capaz de escolher sem medo." - Brida

Dani disse...

Então amigo? Que se passa?

Também eu gostava de sentir novamente essa certeza incerta, que é a segurança de não termos que nos preocupar com o futuro, e onde o amanhã é tão grande como toda uma vida.

Um abraço

Anónimo disse...

Como eu gostava que ainda fosses pequenino.
Não tem medida nem tamanho o amor e carinho que senti(desde o teu primeiro dia),sinto e sentirei sempre por ti MEU FILHO. E o mesmo amor e carinho que sempre recebi e continuo a receber em troca.
Como era bom que ainda fosses pequenino, para poder sentir tudo isto por muitos mais anos.

Anónimo disse...

Ser pai, conscientemente, é sempre um privilégio que depois pode ou não ser confirmado. Diz-se que os filhos não escolhem os pais que têm, contudo determinadas correntes teológico filosóficas advogam conceitos diversos, considerando que todos nós, no estado espiritual e antes de assumir uma vestimenta corpórea determinamos as linhas básicas do que vai ser a nossa vida, as pessoas e situações com que nos vamos relacionar, ficando apenas por decidir os detalhes, os pormenores, a forma como vamos reagir no momento e perante a circunstância... Acreditando que assim possa acontecer, reitero a expressão com que iniciei este meu comentário, para dizer que considero um privilégio ter sido escolhido por ti, para ser o teu mentor nos teus primeiros anos de vida, referindo apenas e mais uma vez, algo que muitas vezes te tenho dito: Tudo quanto eu possa fazer por ti ou para ti, são dívidas com que ficas para com o ou os teus descendentes...
Uma grande beijoca
Pai