terça-feira, julho 12, 2022

Regresso às Viagens (Pirinéus, 12/6)

Na continuação da rota planeada cuidadosa e minuciosamente para a viagem de ida até Figueres, apresentavam-se hoje pouco mais de 500 kms pela frente, pelo que o dia teve necessariamente de começar bem cedo. Pelo meio iriamos encontrar-nos com o Rui e o Michel, para depois rumar já como um grupo até ao destino final do dia.



Antes de partirmos pudemos constatar mais algumas peculiaridades da povoação. Além das levadas que proporcionavam um som constante de água a correr onde quer que estivéssemos e dos estranhos cenários com duendes que se encontravam em cada virar de esquina, janela ou vaso com plantas, deu para perceber que algo de estranho se passava com o relógio da torre da igreja. Basicamente, a torre tinha não um, mas dois relógios (ambos com a hora errada e desfasada em alguns minutos entre si) que tocavam também de forma independente. O que é sempre porreiro durante a noite, porque temos direito a ouvir duas vezes as badaladas, a cada hora, sem que em nenhum dos toques a hora esteja certa.





Depois de respirar o ar fresco matinal por um bocado foi tempo de comermos umas tostadas como pequeno-almoço e albardar as burras como de costume, para seguir viagem.





O percurso deste dia estava preenchido com mais curvas que o anterior, o que permitiu rolar de forma mais animada, enquanto tínhamos acesso a uma envolvente também mais interessante. O calor continuava a fazer-se sentir, pelo que quando começámos a percorrer a estrada junto ao rio Ebro, começou a apetecer-nos parar em algum lado para refrescar.



O Pedro usou as suas avançadas capacidades de navegação para tentar chegar ao Embalse de Mequinenza, em Caspe, e meteu por uma estrada de terra batida adentro com a velha máxima alentejana em mente: “é já ali”.

Não era. Andámos até não nos ser permitido andar mais e na impossibilidade de chegar ao embalse, resolvemos antes ir beber uma caña ao parque de campismo que se nos apresentava ali ao lado. Foi a incursão de offroad possível da viagem não obstante algumas estradas de merda bem piores que iríamos apanhar mais à frente.

Nota do autor: será definido atempadamente o léxico utilizado durante a viagem para classificação técnica das estradas, que varia entre “de merda” e “das boas”, sendo que por vezes a lógica da classificação possa ser invertida, ficando a interpretação correta ao cuidado do leitor.



No dito parque de campismo, recusaram-se servir-nos o que quer que fosse porque não estávamos lá alojados, pelo que demos por finda a incursão de offroad e voltámos ao alcatrão para seguir viagem.

A hora do almoço aproximava-se e a próxima paragem seria no restaurante Ficus & Persica em Fraga. Um spot com estilo “american diner” escolhido pelo Rui, com quem nos encontraríamos para almoçar aí mesmo.



Depois de aviarmos uns hambúrgueres generosos e mandarmos abaixo mais umas cañas, enquanto começava o chorrilho de baboseiras, lérias e outras mentiras, era tempo de raspar a mosquitada da viseira dos capacetes e seguir novamente viagem debaixo do calor que não dava qualquer tipo de abébia. Por esta altura começava a ter dúvidas acerca do equipamento que levava porque estava a contar com temperaturas mais baixas do que as que estávamos a apanhar…

Uma vez mais, o ponto seguinte de paragem seriam umas bombas de gasolina nos arredores de Vic, onde nos encontraríamos com o Michel, completando assim o grupo.



Estava assim completa a formação da nossa viagem, contando com os seguintes elementos (ordenados por cilindrada):
- Michel (KTM 1290 Super Adventure)
- Rui (Honda VRF1200F)
- Pedro (BMW S1000XR)
- Marco (BMW F900R)

Enquanto abastecíamos verificámos que a típica incontinência a VFR do Rui já se estava a manifestar…



Demos-lhe o achincalho que se impunha e logo a seguir partimos animados, finalmente em grupo, para as curvas que se seguiriam. Pouco tempo depois já estávamos perdidos num acesso a um caminho agrícola sem jeito nenhum, onde aproveitámos para parar, beber água e ser comidos por nuvens de mosquitos típicos de locais onde só passam tratores ou carros a transportar animais e bosta de vaca.



Eu e o Pedro devíamos acusar algum cheiro a cavalo, talvez do tempo de viagem já longo, porque fomos o alvo de eleição da bicharada, conforme se pode constatar.





Enxotamos à bicharada, recuperámos à orientação e regressámos ao nosso caminho, até ao local da pernoita: um B&B bem em conta, em Figueres, onde aparcámos as motas à porta para não mais lhes pegar nesse dia.



A localização privilegiada deste hotel no meio de uma zona industrial sem jeito nenhum nos arrabaldes da cidade, proporcionou-nos uma alegre caminhada noturna pelo meio de um gueto culturalmente interessante, até chegarmos a um restaurante decente para poder jantar.

O Rui, exibindo as suas inigualáveis skills de navegador, conseguiu transformar o que seria uma caminhada de uns 1 ou 2 kms no dobro, o que nos permitiu a todos chamar-lhe muitos nomes e ficar a conhecer melhor aquela zona onde nos situávamos.

Por fim chegámos ao restaurante. Um local castiço chamado Pollo Pollo, onde adivinhe-se… comemos frango, numa agradável esplanada exterior onde tentámos escapar ao calor com a ajuda de mais umas cañas.



Foi altura do tradicional briefing de início da nossa viagem, com uma visão mais abrangente do que iríamos fazer nos próximos dias, focando já com mais detalhe no trajeto do dia seguinte.



Mais tretas para cá, baboseiras para lá, mentiras sobre “isto, aquilo e aqueloutro” e entretanto já se fazia tarde. Resolvemos regressar ao hotel, desta vez pelo caminho mais curto e com direito a uma paragem para um geladinho na esplanada de um McDonalds (alegrem-se aqueles que já julgavam que iam ouvir uma história de copofonia qualquer). Assim se terminava o dia da congregação do grupo de viajantes e se antecipava com expectativa o que iria começar bem cedo no dia seguinte.

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