domingo, julho 19, 2020

Passeio Geométrico - Dia 3/4

O terceiro dia do passeio geométrico era o mais desafiante em termos de distância a percorrer. O plano geral era ir de Penamacor até Vila Real de Santo António, percorrendo uma distância ligeiramente superior a 450 kms. Sabíamos no entanto que parte significativa deste percurso, sobretudo a partir da zona do Marvão, seria relativamente desinteressante, até porque a entrada no Algarve não seria feita pelo Caldeirão. Adicionalmente, seria o dia em que o João regressaria a casa, não ficando connosco para o regresso no dia seguinte.

Posto isto, e depois de um bom pequeno almoço (ainda) em família, albardaram-se as burras e preparámo-nos para seguir viagem. Faríamos apenas uma paragem para abastecer e tomar café ainda antes de chegar a Castelo Branco, durante a qual nos apercebemos que o dia seria "agreste" relativamente à temperatura que logo de manhã se fazia sentir...

A primeira tirada da manhã foi um misto de troços menos interessantes com algumas curvas divertidas, sobretudo na N18 já depois de Castelo Branco. Fez-se de forma rápida, e lá fomos andando até à primeira paragem da manhã, no Marvão.

No Marvão, e com um olho a espreitar Espanha já ali, foi tempo de hidratação. Talvez pela proximidade do país de nuestros hermanos, era visível a quantidade de Espanhóis com que nos cruzávamos em todo o lado. Claramente não era o COVID que os ía impedir de fazer turismo em terras lusas...

Ainda era cedo para almoçar, e os princípios nutritivo-religiosos do João "empurravam-nos" para um almoço que se antecipava tardio, por isso resolvemos fazer mais uma tirada maior antes de parar para almoçar. Cortesia da COVID, e sabendo nós da existência de uma espécie de cerca sanitária em Monsaraz, onde o nosso plano inicial nos levava, resolvemos adaptar-nos e fazer um desvio alargando o percurso até Évora. A partir daí logo se via o que faríamos. Antes disso, e só naquela de respirar por uns instantes, parámos numa escassa sombra nos arredores do Crato, só para recuperar.

Finalmente chegámos a Évora. Naveguei-nos a todos diretamente para um local que já conhecia junto à Capela dos Ossos, onde antecipei poderíamos comer decentemente e sem nos embrenharmos em grandes confusões no centro da cidade. Dado o calor que se fazia sentir, levava em mente algo leve como uma salada e beber qualquer coisa fresca, mas o escanzelado do Pedro começou a lançar um olhar guloso para uma sopa de cação na mesa ao lado, e acabei por me sentir na obrigação de lhe fazer companhia... a saladinha ficou para o gordo do João.

Depois de um belo repasto no restaurante O Cruz, seria tempo de nos despedirmos do João, que faria o regresso a casa a partir dali, enquanto eu e o Pedro seguiriamos em direção a sul. Despedidas feitas, e saímos de Évora em direção a Moura, com o objetivo de uma paragem intermédia junto ao Alqueva.

Assim fizemos. Ficámos surpreendidos porque contávamos com uma temperatura mais amena nos arredores da barragem, mas não foi o caso. O calor claramente não iria dar qualquer espécie de tréguas naquele dia, e o melhor era habituarmo-nos a essa ideia.

Tornava-se novamente imperativo parar novamente para hidratar, pelo que fizemos a paragem seguinte em Moura, onde simplesmente parecia termos aterrado numa terra deserta, onde não se avistava vivalma. Valeu-nos um tasco aberto, enfiado num recanto da zona histórica, onde uma senhora com cara de poucos amigos nos vendeu umas minis, que bebemos sentados à sombra de uma árvore ali mesmo ao pé das muralhas do castelo

Uma vez hidratados, seguimos novamente viagem. O plano agora era fazer a próxima paragem próximo das minas de S. Domingos, onde existe a praia fluvial da Tapada Grande. Certamente saberia bem fazer a hidratação seguinte com direito a vista.

A praia fluvial efetivamente estava convidativa, mas a quantidade de pessoas junto ao bar de apoio fazia-nos pensar logo num viveiro de COVID, pelo que decidimos hidratar noutro lado qualquer menos populado. E eu já conhecia um quiosquezinho junto à estrada que serviu perfeitamente para o efeito.

O destino estava próximo, e a ideia era ainda antes de passarmos por Mértola, fazer o último abastecimento do dia e só parar só no destino final. Fizemos tudo isso, menos a parte de abastecer, que nos esquecemos. Já relativamente próximo de Vila Real o Pedro começou a temer pelo pior, quando a Tracer deixou de assinalar autonomia após umas dezenas de quilómetros já na reserva... Abrandámos o ritmo e começamos as rezas para não "morrermos na praia". E assim foi, devagarinho lá chegámos ao fresco da ria, para logo depois entrar em Vila Real e encostar nas primeiras bombas que apareceram. Tínhamos feito pouco mais de 300 kms com um depósito.

Encontrada com facilidade a residência Matos Pereira, um alojamento sem jeito nenhum e que não recomendo a ninguém, mas que foi o possível de arranjar dentro dos timings apertados em que planeei esta viagem... tomada a banhoca e recuperadas as energias, lá fomos à procura de um lugar para jantar.

Armados em finos, escolhemos um spot à maneira na marginal com vista para o rio, escolhemos um peixinho da bancada mandámos vir o branco à pressão. O Pedro estava armado em maricas com medo que as melgas atacassem, coisa que lhe afiancei com toda a confiança não iria acontecer, porque de paragens anteriores por ali nunca tal tinha sucedido. 5 minutos depois estavamos literamente a ser devorados por bicharada que apareceu vinda sabe-se lá de onde. 

A bicharada eventualmente lá desapareceu, e com umas camadas de repelente e de uma banha da cobra vinda da Tailândia, que o Pedro iria deixar esquecida no restaurante, conseguimos apreciar um belo jantar. Antes de regressarmos ao alojamento, o Pedro armou-se em macho e parámos num spot junto ao largo da câmara municipal, para comer um "picolé". Só para que fique registado, eu bebi um mojito.

Era tempo de ir descansar. Demos as boas noites às burras que ficaram à porta do nosso estaminé, e entrámos, não sem antes lavar as mãos com uma mistela que devia ser alcóol-gel, mas pelo cheiro seria mais bagaço-gel. Afinal, queríamos manter aquele estabelecimento de nível livre de COVID!

 No dia seguinte, haveria mais.

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