sábado, julho 18, 2020

Passeio Geométrico - Dia 2/4

O segundo dia, aquele que mais prometia, começava. O trajeto definido era o que mais (e melhores) curvas apresentava, e a paisagem era também a mais interessante.


Como o nosso alojamento não incluía pequeno almoço, rapidamente nos preparámos e fomos até à garagem desfazer o "tetris" de motas que tínhamos montado na noite anterior, para regressar à estrada.


Pouco depois de arrancar procurámos um estábulo que permitisse dar de beber a burras e comer a burros em simultâneo. Logo após passar a ponte D. Luís e percorrendo poucos metros pela marginal, encontrámos o lugar certo.


Houve quem desse uma de macho e mostrasse como é que se começa o dia à moda do Porto: com um belo copinho de leite magro...


Baterias recarregadas, rapidamente percorremos os quilómetros que se seguiam na N108, com o objetivo de chegar à N222, a célebre estrada que permite percorrer o Douro de uma ponta à outra do país.


A N108 estava um bocadinho carregada de ciclistas e o traçado não favorece situações livres de risco, pelo que apesar da beleza da envolvente, eu pessoalmente tinha mais expectativas relativamente à N222 (que já conhecia de passeios anteriores).


Percorrida a primeira tirada de quilómetros na N222, passando primeiro sobre o rio Paiva, chegámos a Pias, onde parámos num parque junto a um açude com muito bom aspeto, junto ao rio Bestança.


O calor já se fazia sentir, e bem, mas ali em particular estava uma ventania tal que até levantou um chapéu de sol pelos ares!


E apesar de andarmos a passear, como motards bonitos, asseados e bonzinhos que somos, cumprimos sempre com as regras impostas pela ditadura da COVID-19!


Desta vez houve quem abdicasse dos copos de leite, e optasse por algo à base de cereais, nomeadamente cevada, no que diz respeito à hidratação. Não deixa de ser uma opção saudável. Repostos os níveis de hidratação, lá fomos nós outra vez.

A paisagem e a vista do douro enquanto percorremos a N222 é sempre sublime. Sem dúvida uma das melhores estradas para fazer mototurismo do país. Fácil perceber porquê.


O destino do final da manhã era o Pinhão, onde pretendíamos almoçar. O calor já era abrasador e nem a proximidade do rio, aliviava a coisa. Tivemos de reposicionar as burras na tentativa de lhes arranjar alguma sombra, o que deu origem a mais um momento Tom Cruise da viagem...


Estacionadas as burras na sombra possível, sentámo-nos numa esplanada que mais parecia uma estufa, tal era o calor que se fazia sentir. A sede era tanta que achámos por bem ser "higiénicos" na escolha do que iríamos comer e beber, caso contrário ficaríamos ali a hibernar o resto da tarde. Uma saladinha e coca-cola zero para todos! Não é algo de que me orgulhe muito, mas aqui fica o registo fotográfico desta situação pouco comum e inusitada...


Como nos sentíamos melhor em andamento do que parados, terminada a refeição fizemo-nos de novo à estrada. Apesar de no nosso roadbook a ideia ser começar já a descer em direção a sul, a N222 estava a saber-nos bem, e numa inversão o Pedro convenceu-me facilmente a percorrer mais uns quilómetros seguindo a placa em direção a S. João da Pesqueira.


As encostas do Douro são realmente uma paisagem que me impressiona sempre, e é sempre com prazer que as percorro de mota. Sem diminuir o mérito da paisagem, os quilómetros seguintes também foram recheados de curvas das boas, e o dia continuava a saber-nos a todos muito bem.

Como volta que é volta não se faz sem nos enganarmos pelo menos uma vez no caminho, eu na qualidade de navegador fiz-nos desviar uma dúzia de quilómetros da rota. Quando começámos a percorrer retas que mais pareciam tiradas da paisagem alentejana, percebi que estávamos mal e demos meia volta para voltar ao nosso caminho.


Mais uma barrigada de quilómetros e pouco antes de chegarmos ao parque natural da Serra da Estrela, parámos num tasco à beira da estrada para mais um momento de hidratação.



Nesta altura eu e o João aproveitámos para continuar a achincalhar a ave agoirenta do Pedro, que tinha passado o dia inteiro a dizer que éramos capazes de apanhar mau tempo, e até então a única coisa que tínhamos apanhado era sol e um calor abrasador. O achincalho passou por sacar de material impermeável...


Como não nos ocorriam mais formas de gozar com o Pedro, lá nos fizemos novamente à estrada, porque estávamos com vontade de percorrer a N18 que contorna parte do parque natural da Serra da Estrela pelo lado Este. Esse troço sem dúvida que viria a corresponder às nossas expectativas.

A paragem seguinte seria já em Belmonte, a poucos quilómetros do nosso destino final daquele dia. Mais uma paragem para hidratação, depois de outra bela barrigada de curvas.



Estava eu a degustar a minha cerveja artesanal à base de cereja, da região, eis senão quando... nuvens... pingos de chuva... trovoada... sacana de ave agoirenta... quem se ri agora?


Escusado será dizer que, apesar de tentarmos sair dali à pressa, apanhámos um temporal de chuva e vento que nunca imaginaríamos ser possível tendo em conta o dia que tínhamos passado, e tudo com o nosso equipamento de verão, em nada impermeável. Até troncos que caíram para a estrada tivemos de andar a desviar!


Quando achámos que a coisa estava a ficar mais perigosa do que devia, procurámos abrigo numas bombas, estacionámos as burras no telheiro da lavagem automática e fomos até ao café beber uns copos enquanto o pior do temporal não passava.


O temporal nunca chegou a passar, mas abrandou o suficiente para ganharmos coragem para os 40 quilómetros que faltavam. Lá vestimos o equipamento encharcado para o encharcar um pouco mais, e fomos seguindo viagem penosamente até ao destino final. Ao chegar a Penamacor já conseguia vislumbrar aquele oásis que a casa dos meus sogros iria proporcionar a estes três gatos pingados (literalmente). E assim foi, a melhor forma de terminar o dia, com direito a um banhinho quente e um jantar em família.

No dia seguinte haveria mais.

1 comentário:

mãe disse...

Muito bom. Sem duvida que estas tuas viagens são balões de oxigénio para conseguires aguentar o teu ritmo de vida.
Fico sempre feliz...por ti. Principalmente quando tudo corre bem.
Beijinhos da mãe