Durante a semana que passou, enquanto tinha a viatura na revisão, vi-me forçado a andar de táxi numa ocasião. Saí do trabalho e lá estava um bom e velho fogareiro estacionado mesmo em frente. Entrei no carro e começaram os 10 minutos mais longos da minha vida...
(para melhor perceber o nível traumático dos acontecimentos, por favor imaginar a minha pessoa encolhida no banco traseiro de um táxi e os diálogos do taxista com sotaque típico de Viseu)
Eu: Boa tarde. Quero ir para a Rua de Campolide, por favor.
Ele: (silêncio demasiado prolongado)
Eu: Sabe onde fica?
Ele: Então não havia de saber onde fica a Rua de Campolide!!! (roncos, enquanto arranca)
(alguns segundos de silêncio)
Ele: Ando com a minha cabeça feita em água!!! Achamos que só acontece aos outros... olhe, aconteceu-me a mim! A minha mulher desapareceu há 3 dias de casa.
(pausa enquanto penso se devo responder alguma coisa)
Eu: Eh lá... Isso é que é pior...
Ele: ... não sei se foi de eu lhe ter dado um "apertão"! Agora foi para aquilo do... como é que se chama... apoio à vítima! No outro dia até me vieram fazer umas perguntas por causa do que ela lhes disse! Tudo mentira!
(silêncio)
Ele: Disse-lhes que eu a tinha ameaçado com uma faca. Tudo mentira! A única coisa que eu lhe disse foi que se descobrisse que ela andava com outro homem, a rasgava de cima abaixo!!!
Ele: Mas eu acho que ela me meteu os cornos... com um motorista de carreira de longo curso que mora lá perto de casa! Pelo menos é o que a irmã diz... mas a irmã também é uma mentirosa!
Ele: Já viu!? Deixou-me a mim e ao filho... Eu que deixei a minha mulher e os meus filhos por causa dela, e agora faz-me isto!!!
Ele: E nós que nos dávamos tão bem sexualmente... Até foi por isso que deixei a minha mulher! Agora... de há dois anos para cá... parecia que estava a f%$er uma morta! Punha-me assim com a mão na cabeça - aqui o Sr. Taxista acompanhou a descrição com um gesto - e pimba, pimba...
Ele: Olhe... agora ando aqui a desabafar com os clientes. Ainda hoje andei a passear quatro turistas brasileiras... bem meiguinhas... até me deram beijinhos e tirámos umas fotografias. Até lhes ofereci a minha casa para ficarem! O que eu devia fazer era arranjar outra para f$%er!!!
Ele: Mas eu descubro onde ela está! Digo ao patrão que paro o carro 8 dias e encontro-a... este país é muito pequeno! E também descubro se anda com outro, que nós os homens gostamos muito de nos gabar do sexo, não é?
(aqui o Sr. Taxista olhou para mim, à espera de um olhar de aprovação)
Ele: Mas se eu a encontro, é uma desgraça... eu ando aqui com uma arma...
(pânico do passageiro - leia-se, eu - no banco traseiro da viatura)
Eu: Ó homem, veja lá, não se desgrace...
Ele: Pois... é só por causa do meu filho... já perdeu a mãe, depois perdia também o pai!
Eu: Pois, veja lá isso... e resolva as coisas com calma - disse eu, enquanto deixava uma gorjeta demasiado grande e abria a porta do carro para sair o mais rapidamente possível, evitando olhar para trás.
Sem comentários...
4 comentários:
Só tu para viveres uma novela destas... eu sei que o caso foi sério mas não parei de rir enquanto lia. Já tens carteira profissional para psicológo ou terapeuta de doidos?!
Mais sorte para a próxima, que eu é por essas e por outras que evito os taxis ainda mais sozinha...
susy: depois deste episódio quem precisa de psicólogo sou eu...
Muito bom! Pior do que isso era ele dar 2 voltas à cidade só para te contar a historia com ainda mais detalhes...
luis: acho que me atirava do taxi em andamento...
Enviar um comentário