quinta-feira, janeiro 12, 2023

Regresso às Viagens (Pirinéus, 14/6)

Retomando a crónica abandonada sobre a viagem que fiz aos Pirinéus no ano passado, segue aqui o relato do quarto dia para os tugas, e a segunda etapa para os espanhóis do grupo...

Mais um percurso “internacional” delineado detalhadamente para continuarmos a saga do rendilhado entre as zonas fronteiriças de Andorra, Espanha e França. Aproximadamente 365 quilómetros planeados, com um plano adicional de um “extra”, caso houvesse tempo para isso.



O dia começaria bem cedo, não só porque depois das peripécias do dia anterior, estávamos animados por voltar à estrada e seguir viagem, mas também porque desafortunadamente o nosso hotel estava localizado ao lado do quartel dos bombeiros, e estávamos em época de incêndios, pelo que havia um frenesim de helicópteros a poisar e levantar voo do topo do edifício mesmo ao lado… Ainda assim, sempre deu para assistir de camarote a esse espetáculo.





Pequeno-almoço tomado e o ar fresco da rua deserta convidava-nos a todos a fazermo-nos à estrada o quanto antes.



O Botelho inalava umas baforadas em frente ao nosso local de pernoita em Andorra, o Hotel Garden, antes de proceder à tarefa diária do albarde das burras e posterior checkout.





Lá nos fizemos à estrada, parando ainda antes de sair de Andorra para abastecer e deitar um olho guloso à loja da Motocard ali mesmo ao lado que, para mal dos nossos pecados, mas para bem da nossa carteira, ainda estava fechada. Eu pessoalmente já estava “satisfeito” com o que tinha gasto em pneu no dia anterior, por isso não fiquei muito aborrecido com a situação…



Feito o primeiro troço de boas curvas acompanhadas por boa paisagem, depois de sairmos de Andorra e percorrermos os primeiros quilómetros em terras de “nuestros hermanos”, era tempo de parar e apreciar o que nos rodeava. Nesta altura, enquanto o momento era zen para alguns, o Rui debatia-se ao telefone com os seus “problemas” que aparentemente não sabem dar um encosto de bateria para por um carro a trabalhar. Eu já fico feliz por a minha esposa saber abastecer o carro com o combustível certo, mas cada um estabelece a sua fasquia onde melhor se lhe aprouver.



Na foto anterior o Michel estava a fazer qualquer coisa que agora não me ocorre o que era, mas certamente não seria aquilo que possam estar a pensar.



Ignorando o esbracejar e os impropérios que o Rui continuava a vociferar ao telefone em castelhano, a paisagem era de facto idílica e digna de se contemplar…



Esta paragem era perfeita em tudo, menos numa coisa, pelo que regressámos à nossa empreitada de curvas até encontrar um spot onde proceder à devida hidratação… até porque já estava um calor do caraças!





Hidratação: check.



Alguns quilómetros depois, chegávamos a mais um ponto de paragem digno de mirar, creio que algures no meio do parque natural de Naut Aran. O gado vacum nas proximidades seria uma constante ao longo do dia, e isso já se fazia sentir. O bom tempo e toda esta envolvente da natureza só tornavam cada quilómetro percorrido ainda melhor, e sempre que parávamos tínhamos algo digno de apreciar.

Além das paisagens, as burras…



… e os burros!



A estrada continuava convidativa, apesar de nesta parte o alcatrão não ser do melhor. Entretanto também se aproximava a hora do almoço, pelo que era tempo de seguir para depois decidir onde parar para esse efeito.

Ainda estávamos no lado espanhol dos Pirenéus, pelo que optámos por fazer a nossa paragem em Vielha, numa altura em que o bom tempo se escondia e a chuva resolvia ameaçar-nos de novo. Decidimos borrifar-nos para isso e depois de alguma pesquisa, escolhemos um sítio muito porreiro para almoçar: o restaurante La Abuela.



Bom "spot" para comer…



… e para beber… o Botelho pelo menos sentia-se em casa!



O almoço foi top, e o restaurante é muito castiço, pelo que recomendamos vivamente.
Já de barriga cheia era altura de nos despedirmos da avozinha… exceto o Michel que não quer nada com velhas.





Sem apontar dedos, mas há gajos deste grupo que têm alguns fetiches estranhos e que vão desde medidas XXL de traseiros até mamas geriátricas… mas cada um sabe de si.



A nossa despreocupação com a chuva foi acertada. As ameaças ficaram-se por aí mesmo e quando voltámos a pegar nas burras e fazer-nos à estrada, o tempo seco manteve-se e permitiu-nos continuar a rolar à vontade.

E como já estávamos habituados a ter um miradouro de respeito no fim de cada barrigada de curvas, a paragem seguinte seria para admirar mais um desfiladeiro, desta vez no Col de Peyresourde, novamente no lado francês dos Pirenéus.







Neste momento já rolávamos debaixo de um calor dos mais capazes, e isso começava a fazer-se sentir com mais intensidade. Dada a necessidade de parar para outro abastecimento, aproveitámos para comprar uns litros de água gelada, que serviram não apenas para saciar a sede, como em alguns casos para tomar banho…





A sorte é que o calor que aqui se fazia sentir rapidamente iria desaparecer, assim que rumámos em direção ao Col de Tourmalet pela estrada dos desfiladeiros.





Mais uma vez, um percurso feito em boa parte na companhia de gado vacum, que exigia sempre alguma atenção e seguia complementando a paisagem natural que não deixava de nos entrar pelos olhos adentro…



A parte final da subida em direção ao ponto alto do Col de Tourmalet foi algo irritante. Isto porque a estrada estava num estado verdadeiramente miserável, cheia de gravilha grossa que nos obrigava a avançar a passo de caracol e a temer pela saúde da borracha dos pneus e estabilidade das burras. “Gravillon” passou a ser o termo utilizado durante o resto da viagem, mais ou menos equiparado a “merda”.



A subida valeu pela paragem lá bem no topo, onde fizemos nova pausa para apreciar aquele desfiladeiro massivo que se nos afigurava por diante, e mirar a estrada que nos deixou logo com água na boca antecipando o que viria a seguir.





Ainda nos detivemos à conversa com um casal de viajantes que ali aguardava por assistência, já que o pneu traseiro de uma das motas tinha entregue a alma ao criador para lá de qualquer hipótese de reparação. Não conseguimos ajudar a moça, mas ainda assim teve a amabilidade de nos tirar uma foto de grupo enquanto esperava pela assistência.



Conversa para cá… conversa para lá (que o Rui é um gajo difícil de se calar), mas era tempo de seguir. Felizmente dali em diante a merda do “gravillon” dar-nos-ia descanso, pelo que pudemos continuar a apreciar o percurso já em melhores condições.



Tínhamos mais um spot especial para visitar nesse dia (cujo nome lamentavelmente e dada a distância temporal do evento, já não me recordo), o qual ainda debatemos se faria sentido visitar ou não dado o avançar das horas… decidimos arriscar e ainda bem que o fizemos, não sem antes nos metermos por uns caminhos duvidosos, leia-se por onde tenho dúvidas que nos pudéssemos meter.





Ainda bem que o fizemos, porque assim deu para ver mais um local espetacular, onde a força da natureza é bem visível nas cascatas enormes formadas pela neve a derreter, que se podem vislumbrar ao longe na encosta das montanhas rochosas.





Burras e burros, todos contentes…
… mas era uma vez mais tempo de retomar a viagem e percorrer os restantes quilómetros, até porque a hora já era adiantada e a chuva resolvia ameaçar de novo.



Em boa hora chegámos ao nosso destino final, em Lourdes, porque nem cinco minutos depois de estacionarmos em frente ao nosso local de pernoita, o Hotel Myosotis, caiu uma carga de água das mais capazes. Tudo controlado e também só durou o tempo necessário para tomarmos a banhoca que já se impunha e sairmos de novo em busca de um restaurante porreiro já sem chuva e com temperatura bastante agradável. Os deuses da meteorologia estavam claramente do nosso lado e só despejavam chuva quando não incomodava.



Pessoalmente nunca tinha visitado Loures, mas achei um local espetacular. Para já é uma terra pitoresca, atravessada pelo rio Ousse, o que lhe confere logo uma beleza especial. Depois tem a sua principal atração turística, o santuário de Nossa Senhora de Loures.



Saindo do nosso hotel, descemos em direção à margem do rio, que percorremos até à zona central onde havia mais movimento.





Já próximos da zona histórica, era tempo de começar a escolher o restaurante para jantar, no meio do comércio diverso que por ali havia.



Como tugas que somos, somos logo reconhecidos por outros tugas. E como há tugas em todo o lado, Lourdes também não seria exceção. Ainda nós deambulávamos entre ementas, já tínhamos o empregado do restaurante Au Roi Albert a chamar por nós em português…



Revelou-se uma escolha mais que acertada. Não só o restaurante estava localizado sobre a ponte que atravessava o rio, permitindo-nos mais uma vista espetacular, como a comida (e bebida) fazia jus ao local e ao nome “brasserie”. Mais uma vez, jantar “top” com tudo a que tínhamos direito.



Desafortunadamente e por algum motivo que me escapa, só tenho foto das entradas… A carninha ficou na memória de quem a comeu.



Depois de jantar e “picar o ponto” junto dos respetivos “problemas” (por esta altura o Rui já quase tinha esquecido a desavença matinal com os seus), era tempo de tentar apanhar o santuário ainda aberto para se visitar.





Dúvidas houvesse que tínhamos chegado ao santuário, o Rui encarregou-se de as esclarecer. Era ali.





Santuário: check.



Nossa Senhora: check.



Local da aparição: check.



Estava visto (mas de facto é algo que vale a pena ser visitado, com mais tempo que aquele que tínhamos). Na qualidade de hereges que somos, para nós estava bom assim, e era tempo de voltar para os copos outra vez.



Lá continuou o relambório de mentiras e alarvidades do costume, regados por mais umas jolas (pelo menos para alguns), até que por fim demos o dia (ou a noite) por terminado e regressámos ao hotel…
… não sem antes parar para admirar um acessório a sugerir a todos os camaradas motards com “preocupações” recentes.


1 comentário:

Mãe disse...

Que bom que é viajar contigo.
Já tinha saudades destas tuas viagens.
Sei que não foi agora...mas é muito bom ler o que escreves e ver o que viste.
Paisagens incríveis
Beijinho
Mãe