domingo, abril 03, 2011
Deixar de Sonhar
Li hoje uma notícia bastante deprimente, em que era reportada a forma como vivem actualmente os gregos e irlandeses, após a intervenção do FMI. Desemprego em taxas recorde, reduções de ordenados em 30% e mais, tristeza generalizada, pessimismo, fim dos sonhos... Nada ficou resolvido com a dita intervenção, muito pelo contrário, e entretanto as pessoas fazem aquilo que podem para sobreviver, sujeitando-se a praticamente tudo o que for necessário. É algo que me preocupa, porque infelizmente penso que não temos forma de escapar ao mesmo destino. Um dos irlandeses entrevistados referiu até que neste momento Portugal evidencia todos os sintomas dos países que já tiveram esta intervenção: juros máximos, cortes nos ratings, queda do governo e a negação sucessiva sobre a necessidade de ajuda externa. Há uns tempos ouvi uma frase que não me sai da cabeça: "os nossos filhos não vão ter a mesma qualidade de vida que nós tivemos". Esta frase custa a ouvir e a digerir, sobretudo quando a cada dia que passa se transforma numa inevitabilidade. Custa lembrar que há algumas décadas atrás éramos pobres, mas pelo menos estávamos preparados para isso - o que não acontece agora. Não bastando o pessimismo e desconforto da leitura da referida notícia, fiquei completamente deprimido quando comecei a ler os comentários da mesma. Qual não é o meu espanto quando, das várias dezenas de mensagens que leitores deixaram em resposta a esta notícia, nenhuma era sobre a mesma, e todas eram sobre o jogo do Benfica-Porto e dos actos de vandalismo e violência em seu redor. Que povo é este que, face às dificuldades e preocupações que deveriam existir em relação ao futuro do país, se degladia por desporto!? Que país é este em que uma pessoa é capaz de praticamente matar outra por diferenças clubísticas ou divergências no trânsito, mas que tem as mais elevadas taxas de abstenção quando há eleições, e não faz mais do que chamar nomes ao primeiro ministro de um governo igual a tantos outros que o antecederam!? Se há algumas décadas atrás fomos pobres, hoje em dia somos muito mais... pobres de espírito. Aliás, retiro o que disse. Acho que não somos pobres. Somos miseráveis!
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2 comentários:
De facto é uma vergonha o povo, ficar irritado e até provocar distúrbios por causa de um jogo de futebol, no entanto a quem lhe está a roubar, nada faz. Muitas vezes sinto vergonha de pertencer a um povo de muitas palavras a pouca acção. Quanto ao FMI e à sua possível entrada, deixo aqui um video esclarecedor da verdade da mentira http://www.youtube.com/watch?v=YstKIgYT9OM.
Keyser Soze
keyser: ... lá chegámos.
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