terça-feira, outubro 03, 2017

Outono em Duas Rodas Por Terras Lusas e Espanholas

No passado fim-de-semana foi tempo de mais uma voltinha de mota, aproveitando a distração do São Pedro no que diz respeito à chegada do Outono com tempo de Verão. Depois de alguns dias a agoirar, a chuva não apareceu e o sol ajudou a aquecer pneus para me fazer às curvas com uma mão cheia de amigos que partilham a paixão pelas duas rodas. O plano nasceu de um deles (um grande bem-haja, Diogo, ainda que provavelmente não me "leias" por aqui) e rapidamente ganhou tração (no sentido literal e figurado): sair de casa sexta-feira à noite, para nos dirigirmos ao ponto de encontro em Castelo Branco. No dia seguinte, partir em direção a Béjar (Espanha) para pernoitar nos arredores em Cantagallo. No dia seguinte, partindo de Cantagallo, fazer o caminho de regresso com direito a mais umas curvinhas, até entrar de novo em Portugal e fazer o percurso até casa (a tempo de ir votar...).



E assim foi. A primeira noite foi muito bem passada, com direito a um belo jantar no Restaurante 14 e pernoita no Guest House Hostel Esplanada. No dia seguinte, sair pela fresquinha e fazer aquilo que mais gostamos de fazer... rolar!


Depois de alinhadas as burras e alimentados os burros, lá nos montámos nelas e fizemos à estrada, que já chamava por nós. Abastecimento, passagem pelo Sabugal e paragem para um favaios bem fresco.


A primeira paragem em Espanha foi em Valverde Del Fresno, depois de fazer uma descida de curvas e contracurvas fantástica, que tínhamos conhecido há dois anos, mas - na altura - com direito a chuva. Desta feita o tempo estava fantástico, e as condições para fazer as curvas com outra emoção foram excelentes.


Alguns quilómetros de boa estrada depois (fico sempre admirado com a diferença da qualidade das estradas desta região espanhola, face às que temos em Portugal...), foi tempo de encher a barriga. Por acaso e durante um abastecimento, obtivemos uma dica de um restaurante que não era muito caro. Espanto o nosso quando nos deparamos com um restaurante de estrela Michelin no hotel rural A Velha Fábrica, onde tivemos que nos deter mais tempo que o esperado tal era a qualidade dos pratos e sobremesas que nos foram servidas!


Mas como o que nos movia não era só a gastronomia e o convívio, a estrada chamava por nós... e nós respondemos.


Mais uns quilómetros de boa estrada e melhores curvas, e o calor começava a pedir uma paragem para umas cañas. Paragem num tasco de beira de estrada de nome Oásis Bar, em frente a um lagar de azeite onde já se descarregava a azeitona que deixava um suave aroma no ar.


Nova barrigada de quilómetros e curvas já em direção a Sierra de Francia, onde também revisitaríamos um troço que já conhecíamos e que muito nos agrada, e que carinhosamente batizámos de "mini stelvio", em honra ao célebre Passo do Stelvio em Itália (basta olhar para a configuração da estrada para perceber o porquê).


Como tenho a mota no "estaleiro" há mais de 3 meses, esta volta foi feita com uma "jovem" ZZR 1100 emprestada, com 24 anos de idade, mas que se portou de forma exemplar ao lado das "teenagers" do grupo, quer nas curvinhas do mini Stélvio, quer nas estradas mais abertas.


Chegados a Béjar, o sol já desaparecia e as primeiras luzes iluminavam aquela bela povoação, que todos os anos alberga os amantes de ski que ali se deslocam para a prática da modalidade.


Apesar de já ir nos vapores e há muito ter ultrapassado a linha vermelha do indicador de reserva, a fome era tanta que decidimos fazer o checkin no El Tirol, lugar fantástico e pitoresco nos arredores de Béjar, em Cantagallo, para logo de seguida irmos em busca de lugar para jantar. Mais uma recomendação dos locais, e fomos a uma antiga e abandonada estação de comboios, agora transformada no restaurante Estación Béjar Verde.


Ali comemos umas belas tapas e bebemos umas quantas cañas, que por milésimos de segundo nos pesariam na consciência quando, ao arrancar para regressar ao hotel, nos cruzaríamos com a Guardia Civil a olhar para aquele grupo de motas com ar guloso. Felizmente nada se passou, e a noite foi de descanso.


Na manhã seguinte as burras já estavam alinhadas debaixo de uma latada recentemente vindimada, no pátio do El Tirol, enquanto tomávamos um belo pequeno almoço composto por umas tostas com um molho de tomate regado com azeite e sal, aparentemente típico daquelas bandas.


Uma olhadela rápida no mapa para perceber onde estávamos, e para onde iríamos...


... à qual se seguiria uma passagem pelo centro de Béjar, que no dia anterior dada a hora de chegada não tínhamos tido a oportunidade de visitar.


Uma vila lindíssima que respira antiguidade e onde encontraríamos mais uns quantos pormenores pitorescos, incluindo umas estátuas em tamanho real de D. Quixote e Sancho Pança.


Após o cafezinho da praxe lá nos fizemos novamente à estrada, percorrendo um caminho estreito e curvilíneo pelo meio de uma densa vegetação a fazer lembrar o Gerês, que nos levaria a Puerto de Honduras, onde faríamos nova paragem para respirar o ar fresco e puro daquela paisagem a cerca de 1500m de altitute.


Seguimos caminho e alguns quilómetros a bom ritmo depois, resolvemos parar em Plasencia para encher a barriga que a fome já apertava. Como o tempo escasseava optámos por uma solução de compromisso (hambúrgueres) ficando combinado que assim poderíamos parar ainda um pouco em Cáceres, para umas cañas de despedida.

Depois de uma última paragem para abastecer o estômago em terras de "nuestros hermanos", concordámos em abastecer as "burras" em Badajoz para aproveitar a poupança no combustível, e seguir daí para Portugal. Como o dever cívico preocupava alguns, o regresso foi feito com mais ritmo por autoestrada, depois do abraço da despedida e do desejo de realizar um passeio semelhante o mais breve possível.


Para minha alegria a montada de empréstimo com que me aventurei a fazer estes mais de 1100 quilómetros em apenas dois dias portou-se à altura do desafio. Chegou a casa quase sem óleo, quase sem combustível e quase sem pneu de trás, mas chegou, trouxe-me com ela e em segurança, com a barriguinha cheia de curvas e o espírito cheio de satisfação.



Venha o próximo (passeio e pneu, que este já deu o que tinha a dar...)!

2 comentários:

mãe disse...

Correndo o risco de me repetir, fico muito feliz por ti. Tirando sempre o meu medo desse meio de transporte de duas rodas, sei o quanto tu gostas dessas tuas "escapadelas" em cima dessas duas rodas.
Mais uma vez, fico muito feliz por ti e porque tudo correu bem.
Beijinho da mãe

mãe disse...

O video é espectacular, filho.
Obrigado por partilhares comigo
Beijinho da mãe