Chegou a altura de relatar o terceiro e - quiçá - o mais invulgar episódio do meu período de férias: o dia em que atropelei um palhaço. E digo palhaço não no sentido pejorativo ou figurado, mas sim um palhaço a sério, na verdadeira aceção da palavra. Daqueles palhaços que andam com um nariz falso e roupas largas. Mais especificamente um artista de rua dos que andam pelos cruzamentos da cidade a fazer malabares. O episódio em questão teve lugar pela hora do almoço, quando regressava ao escritório depois de ir buscar uma encomenda. No cruzamento da Av. Marechal Spínola com a Av. Gago Coutinho, após o sinal mudar para verde, arranquei, e alguns metros antes do semáforo e cruzamento, o artista resolve atravessar as 5 faixas de rodagem a correr pelo meio dos carros, tendo sido eu o feliz contemplado com o embate.
Pela primeira vez na vida tive a indescritível perceção de que tinha acabado de ser responsável pela morte de alguém. Não tenho palavras para descrever essa sensação, tal como não tenho palavras para descrever a alegria que senti quando a pessoa se levantou pelo próprio pé sem indícios de grandes mazelas, apesar do aparato do embate e dos danos visíveis no meu carro. Apercebendo-se da asneira que tinha feito (e apesar de lhe doer mais a ele do que a mim) começou logo por me pedir desculpa e parecia hiperativo, pelo que tive de lhe pedir que se sentasse quieto enquanto chamava o 112. Pela segunda vez nestas férias ligava para o número de emergência médica, desta feita pedindo uma ambulância e a presença da polícia. O homem apresentava alguns arranhões nos braços e um hematoma começava a formar-se na perna, mas de resto parecia estar bem.
Entretanto e não bastando já ter um palhaço em cena, começa o circo a montar-se: chega um auto-tanque com meia dúzia de bombeiros de gabardina e capacete. Questiono o porquê da sua presença, já que tinha solicitado uma ambulância. Disseram-me tratar-se do procedimento comum neste tipo de acidentes. Logo de seguida chega um motociclista do INEM, ao qual fiz a mesma pergunta. Indicou-me que era quem estava mais próximo, e que a ambulância devia estar a chegar. Logo depois chega finalmente a ambulância, de imediato seguida pela PSP. O palhaço parecia em pânico e, no seu português com sotaque italiano, só dizia que nada daquilo era necessário e que todas aquelas pessoas deviam ter casos mais importantes a responder. Enquanto o palhaço era encaminhado para o interior da ambulância para observação, respondi às questões colocadas pela polícia, preenchi o formulário com a minha descrição do acidente e soprei o balão. Apesar de não ser claramente responsável pelo sucedido, o polícia deu-me logo a entender que teria dificuldades em ser ressarcido pelos danos, já que os peões não têm seguro. Teria de tratar diretamente com a pessoa ou, em caso de necessidade, abrir um processo judicial para o efeito. Esta parte será matéria para uma segunda parte deste episódio, já que conversações estão ainda a decorrer. Posso dizer que o palhaço não necessitou ser hospitalizado, estando bem de saúde. Eu já tenho o carro reparado (ativei a cobertura de danos próprios para não ter de pagar os 1.800 euros de reparação) e estou muito grato por tudo ter corrido pelo melhor e terminado apenas como (mais uma) história caricata para contar.
PS: hoje já me consigo rir de alguns pormenores da situação, tais como o facto de durante todo o tempo em que este episódio decorreu, o nariz de palhaço daquele jovem italiano artista de rua nunca lhe ter caído ou saído do seu rosto.
Pela primeira vez na vida tive a indescritível perceção de que tinha acabado de ser responsável pela morte de alguém. Não tenho palavras para descrever essa sensação, tal como não tenho palavras para descrever a alegria que senti quando a pessoa se levantou pelo próprio pé sem indícios de grandes mazelas, apesar do aparato do embate e dos danos visíveis no meu carro. Apercebendo-se da asneira que tinha feito (e apesar de lhe doer mais a ele do que a mim) começou logo por me pedir desculpa e parecia hiperativo, pelo que tive de lhe pedir que se sentasse quieto enquanto chamava o 112. Pela segunda vez nestas férias ligava para o número de emergência médica, desta feita pedindo uma ambulância e a presença da polícia. O homem apresentava alguns arranhões nos braços e um hematoma começava a formar-se na perna, mas de resto parecia estar bem.
Entretanto e não bastando já ter um palhaço em cena, começa o circo a montar-se: chega um auto-tanque com meia dúzia de bombeiros de gabardina e capacete. Questiono o porquê da sua presença, já que tinha solicitado uma ambulância. Disseram-me tratar-se do procedimento comum neste tipo de acidentes. Logo de seguida chega um motociclista do INEM, ao qual fiz a mesma pergunta. Indicou-me que era quem estava mais próximo, e que a ambulância devia estar a chegar. Logo depois chega finalmente a ambulância, de imediato seguida pela PSP. O palhaço parecia em pânico e, no seu português com sotaque italiano, só dizia que nada daquilo era necessário e que todas aquelas pessoas deviam ter casos mais importantes a responder. Enquanto o palhaço era encaminhado para o interior da ambulância para observação, respondi às questões colocadas pela polícia, preenchi o formulário com a minha descrição do acidente e soprei o balão. Apesar de não ser claramente responsável pelo sucedido, o polícia deu-me logo a entender que teria dificuldades em ser ressarcido pelos danos, já que os peões não têm seguro. Teria de tratar diretamente com a pessoa ou, em caso de necessidade, abrir um processo judicial para o efeito. Esta parte será matéria para uma segunda parte deste episódio, já que conversações estão ainda a decorrer. Posso dizer que o palhaço não necessitou ser hospitalizado, estando bem de saúde. Eu já tenho o carro reparado (ativei a cobertura de danos próprios para não ter de pagar os 1.800 euros de reparação) e estou muito grato por tudo ter corrido pelo melhor e terminado apenas como (mais uma) história caricata para contar.
PS: hoje já me consigo rir de alguns pormenores da situação, tais como o facto de durante todo o tempo em que este episódio decorreu, o nariz de palhaço daquele jovem italiano artista de rua nunca lhe ter caído ou saído do seu rosto.
2 comentários:
É IMPRESSIONANTE, mas realmente, só tu. Como alguém me disse quando eu relatei este teu acidente ( já era tempo do "destino " ou lá o que seja ) deixar de andar constantemente a testar as tuas capacidades de recuperação. Podia haver uma folga.
Só peço que Deus te proteja.
Beijinhos da mãe
mãe: o destino não tem nada a ver com isso... importa sim deixar apenas a dose certa de fatalismo intervir nas nossas vidas, para não termos a sensação que não mandamos em nada disto que se passa à nossa volta! ;)
Enviar um comentário