sexta-feira, maio 26, 2017

Outro Passo do Meu Caminho Mais Longo

Ora então chegou a altura de fazer a crónica de um dos meus recentes escapes motociclísticos (apesar de já ter acontecido há mais de um mês), que consistiu em 3 dias de passeio entre o norte de Portugal e Espanha. Só não foram 5 dias porque o meu mai' novo festejava o seu terceiro aniversário, e há que definir prioridades na vida. Assim sendo, e como não iria conseguir fazer a viagem planeada com os meus camaradas motards na sua totalidade, optei por tirar um dia de férias e fazer do percurso até ao ponto de partida da viagem a sério, um complemento.

Dia #1 (Póvoa de Santa Iria - Porto)

Como pela manhã é que se começa o dia, lá me fiz à estrada por volta das 9h de uma sexta-feira que, ao contrário do que as previsões indicavam, se apresentava com bom tempo e uma temperatura mesmo boa para este tipo de passeio. Como o objetivo era esse mesmo - passear - o tipo de percurso que tracei consistia sobretudo em estradas nacionais, pelo que depois de passar o trânsito matinal da N10 até Vila Franca de Xira, foi tempo de começar a rolar com mais suavidade e descontração nas restantes localidades ribatejanas por onde passei. Assim foi até chegar a Muge, local da primeira paragem, para tomar o pequeno almoço que se impunha: uma bifana no Silas, a base nutritiva de qualquer pequeno almoço.


Uma vez saciada a forme, foi tempo de me juntar aos primeiros companheiros que me esperavam, para começar a formar a comitiva. Já que o ponto de encontro era em Abrantes, foi só continuar pela nacional e aproveitar (bem aproveitadinhas) as curvas do Tramagal. Feitas as curvas, e depois de dar uma ou duas voltas em Abrantes, enquanto procurava as bombas de gasolina que seriam o ponto de encontro, lá me juntei aos meus companheiros. "E agora?", comentámos nós? Foi tempo de seguir em direção à Sertã, passar depois por Pedrogão e parar na Picha. Assim fizemos. Estrada boa, curvas do melhor, ritmo descontraído, e o bom tempo sempre a ajudar. Chegados à Picha, o almoço elegido por todos foi… bifana. Aí paguei o pecado da gula, por já me ter empanturrado no Silas algumas horas antes, mas tal como Obélix, ainda tinha espacinho para mais uma…


Enquanto acabávamos de almoçar, um maluco qualquer fez questão de tirar fotos junto a cada uma das máquinas estacionadas em frente à esplanada. As máquinas sobreviveram, o maluco ficou feliz, e nós seguimos caminho. Mais uma barrigada de curvas até Góis, onde parámos para apreciar a paisagem e fazer uma mijinha ao ar livre. O companheiro seguinte já tinha dado notícias do seu paradeiro, pelo que estaríamos prestes a encontrá-lo. Ainda antes de chegar ao local combinado, ao passar na zona da Penacova, lá vinha ele em sentido contrário, já à nossa procura. Assim se juntou mais um, e depois de mais uma cafezada lá seguimos viagem novamente.


O ponto de encontro seguinte para reunir (mais) tropas era na Mealhada, mas como o Buçaco fica mesmo ali ao lado, uma voltinha por esses lados e uma subida ao miradouro da Cruz Alta, era o que se impunha. Uma paisagem fabulosa, que depois de vista nos inspirou a fazer a descida da serra com as motas desligadas e em completo silêncio, simplesmente rolando até cá abaixo…


Seguiu-se uma estradinha da boa, até à Mealhada, onde nos quedaríamos junto ao Cine Theatro, a refrescar a goela enquanto esperávamos pelo resto do grupo (mais dois). Pelo meio, um telefonema inesperado que nos obrigaria a chegar ao Porto, local de pernoita, com hora marcada. Foi tempo de abandonar as estradas nacionais e seguir pela AE até ao destino, correndo o risco de perder a reserva caso não chegássemos a tempo.


Correu tudo bem, e o minimalista e sensaborão Ibis Budget lá tinha os quartos à nossa espera. Checkin feito, foi hora de voltar a apreciar a viagem e o convívio, e ir ter com o resto da malta (morcões) que se juntaria a nós no Cais de Gaia, para mais uns momentos refrescantes, em boa companhia.


O final da noite decorreu a saborear uma bela "petit française" num restaurante alusivo à temática em questão (motas), que permitiu contar mais umas valentes mentiras e dizermos mal uns dos outros, sempre com boa disposição.


Como a noite já ia adiantada, e o dia seguinte seria bem preenchido, era tempo de voltar ao hotel para descansar. O Douro vinhateiro esperava por nós!

Dia #2 (Porto - Saucelle)

O dia seguinte começou com o cheiro a torradas queimadas. O lamentável espaço para o pequeno almoço era insuficiente para o grupo de trabalhadores do Nails 'r Us (ou lá o que eram) e alguém deixou ficar uma fatia de pão esquecida na torradeira, o que despoletou a fúria da gerente do estabelecimento. Abertas as portas e saciada a fome, rapidamente preparámos as nossas montadas e nos dirigimos ao primeiro ponto de encontro da manhã, onde os morcões já nos esperavam. Reunidas as tropas, foi tempo de nos fazermos à estrada, começando a percorrer o caminho que nos levaria à magnífica N222.


A primeira paragem foi feita a meio da manhã, quando saboreámos mais um cafezinho enquanto se contavam as primeiras mentiras do dia, e se começava já a pensar por onde iríamos e onde almoçaríamos. O Pinhão foi o local eleito, e rapidamente alguém sugeriu um restaurante no qual faríamos marcação, para assegurar que ninguém passaria fome naquele dia… Traçado o caminho e o próximo destino, lá nos fizemos novamente à estrada.


Depois de muitas curvinhas, imediatamente antes de chegar ao Pinhão, a estrada transformou-se numa enorme reta que acompanhava de muito perto o rio Douro. Uma vista absolutamente fabulosa, para terminar aquela tirada em beleza, antes de almoçar. O restaurante Veladouro, com uma vista fantástica para o Douro e os enormes cruzeiros que por ali passam, foi sem dúvida um local de eleição, onde me permiti saborear uns valentes secretos. O grupo estava no seu auge, já que muitos dos que ali estavam não fariam a viagem completa, e acompanhar-nos-iam apenas durante aquele dia ou manhã, regressando depois a casa. Terminado o almoço e feitas as despedidas, foi novamente tempo de seguir viagem.


O percurso da tarde foi recheado de curvas e contracurvas, caminhos bem asfaltados, em empedrado e até mesmo em terra batida. Subimos às alturas e descemos até ao nível do Douro por várias vezes, e assim como intercalávamos nestes desníveis, sentíamos uma montanha russa de emoções.



A determinada altura ao percorrer a crista curvilínea de um monte, com tudo o resto lá em baixo e o sol a pôr-se ao meu lado, só me ocorria que ser feliz era aquilo. Algumas paragens (poucas) e muitos quilómetros rodados, sempre a apreciar a paisagem e aquela sensação de liberdade que gostaríamos de reter para sempre.


O rumo levava-nos à zona de Barca de Alva, para depois darmos o salto para Saucelle, onde pernoitaríamos.


Ao chegar ao local da dormida, apesar da barriga cheia de passeio algum cansaço e impaciência já se faziam sentir. Talvez tenha sido isso que me tenha levado a tomar uma decisão errada, quando tentei dar a volta à mota, para a estacionar, em cima de um punhado de gravilha com piso inclinado. Resultado? Uma mota estatelada no chão, e eu em pé, com cara de parvo, a olhar para ela. Não parecia ser grave, já que o tombo da mota tinha sido pequeno. Nada aparentava estar danificado, mas quando a levantei do chão, senti um calafrio… o seletor das velocidades tinha-se partido, brincadeira para fazer com que a viagem terminasse para mim já ali. Os meus companheiros apressaram-se a revelar a camaradagem, enquanto um deles dizia: "vamos fazer o checkin, e já arranjamos solução para isto!". Assim foi. Tratados os proformas do alojamento, puxei da minha veia de MacGyver, e lembrei-me de alguns itens que levava no meu kit de ferramentas personalizado: abraçadeiras de plástico, fita cola "americana" e… uma chave de porcas em L (formato similar ao da peça partida). Com a ajuda dos meus companheiros desmontei a peça partida e "construí" uma peça de substituição improvisada, que me permitiria nessa noite jantar e dormir descansado, sabendo que no dia seguinte conseguiria seguir viagem com o resto do grupo!


Passado o (grande) susto, foi tempo de começar a pensar naquilo que nos esperava no dia seguinte (ainda que para mim e mais uns quantos fosse também o dia do regresso a casa).

Dia #3 (Saucelle - Póvoa de Santa Iria)

Este seria o terceiro (e para mim e mais uns quantos, o último) dia de passeio. Depois de um pequeno almoço saboroso, acompanhado do briefing do que se faria naquele dia (e também na próxima passeata a combinar), foi tempo de preparar as montadas (a minha já artilhada com um seletor personalizado) e seguir viagem. Logo à saída de Saucelle, tempo para uma paragem no primeiro miradouro do dia, e apreciar a paisagem magnífica daquela zona de Espanha, para logo a seguir regressar aos percursos vinhateiros com vista para o Douro.


Mais umas quantas paragens e passagens por locais que pareciam estar a ser descobertos pela primeira vez, e que dificilmente tiveram grupos como aquele a rolar por ali.


O sentimento de felicidade era crescente, e andávamos todos com um sorriso idiota estampado no rosto. Depois de uma manhã intensa em termos de locais e paisagens visitados, foi tempo de esticar as pernas das "meninas", e aproveitando que já se fazia tarde para almoçar no local previsto: Miranda do Douro. Assim que entrámos no IC5, e pela primeira vez ao fim de 3 dias de viagem, a necessidade de velocidade apoderou-se de (quase) todos nós, e fizemos umas boas dezenas de quilómetros a ritmo de autobahn. Quando chegamos ao fim, o sorriso que trazíamos estampado na cara rapidamente se desvaneceu quando o cerrafilas, ao chegar a nós, perguntou: ninguém viu o radar que ali estava? Restou-nos rezar para que estivesse a mentir, só para nos azucrinar a cabeça. Aguardo correspondência em casa um dia destes…

Nada melhor que almoçar uma bela posta mirandesa para ajudar a eliminar a azia que a perspetiva de uma multa e uns pontos a menos na carta nos estava a provocar. Assim, lá nos reunimos novamente em amena cavaqueira, enquanto degustávamos a dita posta de dimensões descomunais. A sensação de que findo o almoço, a reta final do passeio começava ali, estava cada vez mais presente na minha cabeça.


Feitas as despedidas à saída do restaurante, foi tempo de montar novamente e seguir caminho. Desta feita o IC5 foi percorrido dentro dos limites da velocidade, até voltarmos às estradas nacionais que tanto nos agradam, e que nos conduziram no percurso de regresso ainda por algumas paragens. A primeira foi em Trancoso, onde pudemos observar o castelo e refrescar numa esplanada estrategicamente situada à beira da estrada.


O meu seletor customizado começava a apresentar alguns sinais de fadiga, ainda que se mantivesse operacional. Fomos seguindo caminho, e quando já estávamos prestes a chegar a Nelas, em busca de um posto de abastecimento, ao sair de uma rotunda o seletor "desintegrou-se" forçando-me a uma paragem para reconstrução do mesmo. Como a prática faz a perfeição, sendo a segunda vez que executava aquela tarefa, em cerca de 5 minutos estava novamente pronto a rolar. Abastecimento feito, paragem para café e definir onde iríamos jantar.


Seguindo em direção a Coimbra, uma vez chegados à cidade encaminhei o grupo até ao Jardim da Sereia, onde escolhemos a esplanada mais adequada para degustar uns bifes e umas fresquinhas, enquanto ao nosso lado um grupo de miúdas histéricas tinha orgasmos enquanto assistia a um jogo da liga espanhola. A hora já era adiantada, e rapidamente nos fizemos de novo à estrada. Despedida dos 3 constituintes daquele pequeno grupo na estação de serviço de Santarém, para depois rumar diretamente a casa. Mais uma aventura vivida por locais ainda por explorar, com algumas amizades antigas e outras feitas durante aqueles três dias, vividos em liberdade e com espírito de camaradagem. Como costumo dizer amiúde durante estas voltas, "facilmente me habituava a esta vida...".

1 comentário:

mãe disse...

QUE INVEJA FILHO.(inveja, no sentido figurado)Tu sabes como a mãe gostava de poder viajar. Só as fotografias e a narrativa de tudo o que viveste nestes 3 dias faz qualquer um ficar a sonhar. Ainda bem que o fazes. Como a mãe já te disse várias vezes a vida não pode (não devia) ser só trabalho. É muito triste e muito mau não se conseguirem realizar pelo menos alguns dos nossos sonhos.
Beijinho grande da mãe